Cevnautas, com alegria colo a entrevista do nosso administrador da Comunidade Basquete (e pioneiro do CEV) Carlos Alex no Blog do José Cruz. Prestigio!!! Laércio
02/04/2011 Basquete no interior: rotina de dificuldades é a síntese do desleixo com o esporte de baseA reportagem a seguir é a síntese do que ocorre com o nosso esporte, Brasil afora, no espaço em que alguém se anima a investir. Quem narra é um abnegado e teimoso técnico – e há centenas deles pelo país –, revelando as dificuldades de todo tipo para desenvolver uma atividade elementar e que é, constitucionalmente, direito de todos: praticar esporte.
Professor de educação física e técnico de baquete, o gaúcho, de Bagé (mas bah, tchê!), Carlos Alex Soares se enquadra no perfil daqueles que fazem o impossível para dar rumo aos “guris” e, quem sabe, revelar expoentes.
Antes de começar um treino para os "guris", lá pelas 11 da noite, Carlos Alex já circulou por gabinetes, empresas, casa de amigos de Pelotas, onde mora, recebendo incentivos de uns e promessas de outros para pagar o aluguel da quadra, inscrever-se numa competição, garantir uma viagem da equipe.
Essa realidade resume o problema que neste espaço tanto debatemos: há muito dinheiro para o esporte de rendimento, que é significativamente financiado pelo Estado. Mas falta o elementar, projeto de governo para a base, para um trabalho integrado entre os órgãos federais, estaduais e municipais e, principalmente, escolas, para que o esporte seja uma atividade normal na rotina dos brasileiros.
Com esta entrevista apresento outra, em que o pivô Bábby, do Flamengo – com experiência na poderosa NBA –, fala sobre os centros de treinamentos que está criando no país. Pelotas, de Carlos Alex, foi contemplada. O gaúcho está de parabéns.
Qual a tua avaliação sobre a prática do basquete para o desenvolvimento do esporte comunitário?
Carlos Alex - É praticamente inexistente. A maioria dos municípios não possui quadras públicas para a prática do basquete, enquanto vôlei, futebol podem ser praticados ao ar livre, no mesmo campo ou areião. Futsal é uma febre nacional. E o basquete, onde pode ser jogado? Não há quadra pública. O guri, desiludido, acaba indo para o futsal, futebol, vôlei. Em algumas cidades do Paraná, como Londrina, eles têm quatro campos de beisebol. Quatro campos! Mas isso é da comunidade, da cultura local... Por outro lado, os governos deveriam desenvolver políticas públicas que atendessem todas as modalidades, especialmente as olímpicas. Mas no RS não ocorrem Jogos Intermunicipais há quatro anos. Em Pelotas, também não temos jogos municipais organizados pela prefeitura há quatro anos e nos anteriores eram bancados pelo Clube de Diretores Lojistas, com mão de obra da prefeitura. Aqui falo de várias modalidades, não apenas do basquete. Os jogos que temos aqui são da Liga e da RBS TV. Adivinha de quê? Futsal! Portanto, são escassas, ineficazes e, agora com as denúncias do Segundo Tempo, politicamente dirigidas as ações dos governos para o desenvolvimento do esporte na comunidade. Já os políticos quando estendem a mão querem algo na outra. É uma classe que, com raras exceções, só busca vantagem e esquecem que está em uma democracia representativa. Tudo isso me leva a compreender os motivos que nos tornam um país de obesos...
A cidade já foi mais ativa na prática do basquete?
Carlos Alex – Moro aqui há 22 anos e sempre foi essa meia boca, quase parando e, agora, parado. Em 1990 um grupo de amigos (Ricardo Moreno, Luciano Chequini, Espirito Santo e eu) realizou um torneio de trio na AABB, pois queríamos espaço para montar um time. Depois do torneio, mobilizamos uma equipe, mas o nível era inferior ao de Rio Grande (cidade vizinha a Pelotas) e nosso primeiro amistoso foi com eles. Foi um massacre. Aí, não acreditaram que poderíamos evoluir e nos deram horários “muito bons” para treinar, das 23h as 1h. Mas persistimos. Mesmo assim, durou muito pouco.
Há muitos interessados em praticar basquete em tua escola?
Carlos Alex – Na escola da rede pública estadual, com 1.300 alunos, tive 137 inscritos em 2009, ou seja, 10%. Se tivéssemos projetos esportivos nas escolas, os alunos participariam. Eu vou pro embate com a direção, com a Coordenadoria Regional de Educação para ter horas dedicadas ao esporte. No RS, o Governo não oferece carga horária para os professores trabalharem com as modalidades esportivas. Mas, mesmo assim, querem que as escolas participem com desempenho nos Jogos Escolares do RS. Em nível competitivo, no Pelotas Basketball Clube sempre tenho boa procura. Mas a mensalidade afasta a maioria dos adolescentes. Hoje, ao contrário dos tempos da ditadura, quando tínhamos esporte para todos os lados, temos um esporte mais elitizado do que nos anos 1970, 1980, e um contingente de jovens menos favorecidos economicamente sem acesso ao esporte competitivo. Essa é uma realidade que sempre quis alterar e que agora parece que vou começar a concretizar. Sempre quis trabalhar com o basquete e poder oportunizar aos jovens o mesmo que tive nos anos 80: participação em treinos, campeonatos estaduais, viagens, conhecer meu estado sem ter despesas. Não que o esporte seja a solução para todas as mazelas de nossa sociedade, mas é uma opção que surge na vida do jovem que leva o foco dele para outro caminho e o deixa apto a fazer a coisa certa.
Como mantinhas a escola de basquete, antes da parceria com Bábby (pivô do Flamengo)?
Carlos Alex – Antes, era uma equipe e se mantinha com "pai-trocínios". No primeiro ano trabalhei de graça. No segundo, implantei a mensalidade que deveria ser para compensar o meu trabalho e com um patrocínio que cobriria as despesas. Infelizmente perdi o patrocínio e eu arquei com quase R$ 15 mil de prejuízo. De 2007 a 2009 não participamos de campeonato estadual, fazíamos torneios, campeonatos, fundamos a Associação Gaúcha de Basketball (AGABAS) e reduzimos custos para podermos jogar com os grandes clubes do estado, interessados em mais jogos para suas equipes. Em 2009 entramos no Campeonato estadual Adulto com as despesas pagas pelo Gabinete do Vice-Prefeito. Em 2010 tentamos expandir o projeto com várias categorias, mas abortamos o processo pela falta de patrocínio. Só participamos do adulto, com uma pequena ajuda do Gabinete do Vice-Prefeito e com recursos próprios. Novamente paguei alguns valores. Entretanto, o mais importante é que esses auxílios esporádicos da prefeitura de Pelotas (apenas em 2009), patrocínios pequenos, doações, apoio da FGB em alguns momentos e a parceria de algumas instituições de Pelotas que cederam seus ginásios em determinados períodos, permitiram chegar até aqui. Se me permites, agradeço à Universidade Católica, à Escola de EF da Universidade Federal (especialmente, o doutor José Schild e a professora Luciana Peil), e os comandantes do 9º Batalhão de Infantaria Motorizada. Depois, os atletas passaram a ratear as despesas com o aluguel de quadras e aí tivemos que reduzir mais o nosso ímpeto pelo crescimento e o espaço que temos para isso. Eu creio que essa realidade vai mudar, pois a parceria com o Instituto Bábby e a disposição dele em contribuir com a doação de sua imagem, tem facilitado negociações locais.
Que resultados tens nestes seis anos de trabalho com o basquete?
Carlos Alex – Trabalho com o basquete desde a adolescência. Já fui árbitro, técnico de equipes universitárias, inclusive uma seleção gaúcha. Mas esses últimos anos - quando concluí que eu tinha que ser o ator da reconstrução do basquete em Pelotas e deixar de esperar que o poder público cumprisse com seu papel - me deixaram felizes pelas conquistas de alguns atletas no âmbito esportivo e pelas vitórias de todos no campo pessoal, tanto na postura como na educação. Aprendi bastante com eles. Me orgulho de ter resgatado um dos talentos de Pelotas (ainda acredito que será um destaque nacional) que estava largando o basquete, com 17 anos, quando o trouxe para jogar no Pelotas Basketball Clube. Trata-se de Douglas T. Kurtz. Tive que convencê-lo e mostrar para seus pais que seria tratado diferente das experiências anteriores. Depois disso o encaminhei para Joinville (SC), onde jogou por duas temporadas o Campeonato Brasileiro, antes da LNB/NBB. Em março de 2007 me procurou para que o encaminhasse para os EUA. Treinou comigo, sozinho na quadra, naqueles dias de outono e início da primavera. Nesse semestre ele esta concluindo a faculdade na Universidade do Hawaii, tendo jogado por quatro anos no melhor basquete universitário do mundo. Nesse período foi convocado para a Seleção Brasileira Universitária de 2009 e deve integrar o grupo na Universíade desse ano. Para finalizar: nossa ambição é fortalecer a prática do basquete e poder manter esses jovens estudando e disputando competições em alto nível, até iniciarem a faculdade e, quiçá, jogarem em nossa equipe adulta com boas chances de serem campeões.
Na próxima mensagem: entrevista com o pivô Bábby, do Flamengo, sobre os centros de treinamento de basquete que está criando no país.
Para saber mais: http://maisbasquete.blogspot.com/
Blog do Cruz, no twitter: http://twitter.com/#!/blogdojosecruz
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