Pessoal, gosto da expressão "caiu pra cima", mas ela costuma ser usada para o caso de políticos que são promovidos pra sair de cena. Eu gostaria de encontrar uma expressão do bem. Mal-ajambrando: "terminou para começar". Busco a expressão para definir a saída do nosso mestre em ciência da informação, Aldo Barreto, depois de 33 anos de IBICT. Agora ele vai se dedicar ainda mais à publicação eletrônica Datagramazero . Boa a homenagem feita pelo Prof Suaiden, presidente do IBICT:

Diretor do IBICT recebe Aldo Barreto

No dia 17 de março, o diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), Emir Suaiden, recebeu Aldo Barreto para um café da manhã em sua homenagem. Após 33 anos de serviços prestados, o mais antigo servidor da instituição aposentou-se para iniciar uma nova fase profissional.

Na abertura, Emir Suaiden destacou a importância do ex-servidor para a área de ciência da informação. “Durante décadas, Aldo Barreto emprestou sua experiência para o IBICT. Ele foi responsável, em grande parte, pelo sucesso da ciência da informação no Brasil. Na década de 70, já produzia os primeiros textos falando sobre economia e ciência da informação. Hoje, se o Brasil é considerado um país desenvolvido nessa área, devemos isso ao Aldo Barreto”, ressaltou.

Em seu discurso, Antônio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, relembrou o início da carreira de Barreto. “Aldo Barreto foi uma das primeiras pessoas a criar efetivamente um site de discussão na internet para apresentar textos sobre a área de ciência da informação. Ele exerceu, naquele período, uma liderança importantíssima. À época, foi um dos mais citados na literatura brasileira e não havia evento que ele não fosse figura de proa”, disse Miranda.

Aldo Barreto, muito emocionado, agradeceu a homenagem recebida e contou aos presentes sobre a conquista de seu mestrado e doutorado em Londres e a sua participação no início da ciência da informação, ainda naquele país. “Na década de 60, a ciência da informação estava nascendo na Europa e eu participei desse processo sem saber. Após retornar ao Brasil, percebi que a ciência da informação era a formação da minha vida”.

Após a sua aposentadoria, Aldo assumiu a edição da revista Datagramazero, periódico científico eletrônico da área de ciência da informação. Paralelamente a esse trabalho, tomou posse da presidência do Instituto para Adaptação à Sociedade da Informação (Iasi).

Leia abaixo matéria publicada no dia 09/03/2010 ......................................................................

Cheio de planos para o futuro, o servidor mais antigo do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), professor doutor Aldo Barreto, após 33 anos de serviços prestados à instituição, aposentou-se, no dia 1º de março, da função que exercia na coordenação do Programa de Pós-graduação do Instituto, no Rio de Janeiro. Durante esse período, entre outras atividades, planejou, construiu e promoveu o reconhecimento pela Capes do doutorado em ciência da informação, que formou diversos doutores na área. Entre eles, líderes como a doutora Maria Nélida Gonzalez de Gómez (Ibict), doutora Joana Coeli Ribeiro Garcia (atual presidente da Ancib), doutora Kátia de Carvalho (ICI/Bahia), doutor Nelson Senra (líder de pesquisa em história da estatística no Brasil e superintendente no IBGE) e doutora Regina Materteleto (coordenadora de programa de pós-graduação na Fiocruz). No dia 17 de março, o diretor do IBICT, professor Emir Suaiden, recebe Aldo Barreto para um café da manhã em sua homenagem.

Ao longo de sua trajetória profissional, Barreto construiu respeitado currículo. É o único pesquisador sênior do CNPq da área de ciência da informação em caráter vitalício. Foi presidente nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ancib), no período de 1997 a 2003. Integrou o grupo de trabalho que editou o Livro Verde do Programa Sociedade da Informação no Brasil. Implantou o programa de pós-graduação em ciência da informação, do Ibict, no Rio de Janeiro, por duas vezes: em 1982, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e em 2004, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Por 18 anos, coordenou o programa de Pós-Graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Exerce atividade de docência e pesquisa acadêmica e assessoria, não remunerada, na área de ciência da informação, há mais de 35 anos. Orienta alunos de doutorado, mestrado e especialização e possui trabalhos publicados em periódicos de circulação nacional, internacional, capítulos de livros e outros tipos de produção. Além do ensino presencial, pesquisa e escreve textos que são lidos hoje por 90 % dos estudantes de graduação.

No dia seguinte ao da sua aposentadoria do serviço público, assumiu a edição da Datagramazero, periódico científico eletrônico da área de ciência da informação. Paralelamente a esse trabalho, tomou posse da presidência do Instituto para Adaptação à Sociedade da Informação (Iasi). “Pretendo expandir as atividades do Iasi para formação de recursos humanos específicos para a área de CI e inclusão digital pela informação”, ressalta Barreto.

Leia abaixo, trecho da entrevista realizada com Aldo Barreto:


1) Tão logo a área de tecnologia foi avançando, o senhor modificou seu perfil de pesquisador e deu início à sua participação como conselheiro editorial do periódico Datagramazero, do qual agora faz parte como editor. O que o senhor poderia nos falar a respeito dessa mudança e de como ela afetou sua carreira?

Esse trabalho foi decorrência de minhas pesquisas sobre a estrutura e o fluxo de informação. Linha de pesquisa registrada no Diretório dos Grupos de Pesquisa. A partir de 1991, com a Web, ficou patente que uma nova escrita e uma nova leitura surgiam. Uma escrita é denunciada pelo grammé, que é o seu traço com intenção de se aproximar da explanação oral pelas suas condições de apresentar, no mesmo formato, uma possibilidade de explanação visual, gestual, figural, musical, verbal. A escrita quando intertextual é, de alguma forma, externa à linguagem, pois agrega outros sentidos ao entendimento e não se prende unicamente ao código comum como na visão linear do texto de enunciação contínua e estática, destinada pelo seu formato a um fim dentro de sua estrutura.

O traço de uma escrita ou o grammé, como o chama Jaques Derrida, vem do grego gramma, (letra, escritura), não é uma substância presente aqui e agora (não se pode ver, sentir ou ouvir a diferença): o traço da escrita é a diferença em si, isto é, diferença espacial e diferença temporal (um adiamento do significado da apreensão do texto). Essa estrutura, ou melhor, esse princípio estruturador, é comum a todos os sistemas complexos envolvendo o registro, a transferência e uso da informação. Assim, datagramazero seria por analogia o "marco zero de uma nova escrita".

Em informática, datagrama é uma entidade de dados, autocontida, que possui suficiente informação para ser conduzida do computador de origem a um computador de destino, sem depender das trocas anteriores entre aqueles pontos nem da rede transportadora. Datagramas são unidades de dados que se recebe quando faz o download de um arquivo para o seu computador. O primeiro destes blocos de dados vem com informações sobre os blocos subsequentes e localização, sua estruturação, tamanho, origem etc.

Assim surgiu a Datagramazero (DGZ), revista de ciência da informação reconhecida pelo último Qualis da Capes para as áreas de ciências sociais aplicadas, administração, ciências contábeis e turismo, educação, engenharias, letras/linguística, planejamento urbano e regional/demografia, ciência política e relações internacionais, psicologia, saúde coletiva. A publicação está registrada e cumpre todos os critérios de excelência do Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal (Latindex).

2) Como está sendo editar essa publicação científica eletrônica?

Iniciar a DGZ foi uma atitude mais de satisfação do que falta dela. Eu notava que o texto modificava seu status e poucos percebiam isso, e ainda percebem no Brasil. O riscado da escrita no conjunto de elementos que a delineiam mudou. Daí DataGramaZero, o marco zero de uma nova escrita, a escritura não como uma substância presente aqui e agora, mas uma diferença, isto é, uma pendência espacial e diferença temporal. Essa estrutura, ou melhor, esse princípio estruturador envolve o registro e a transferência da informação.

Entrou em cena a real possibilidade da hipertextualidade – a tecnologia hipertextual propicia a abertura a um universo virtualmente irrestrito a diferentes universos de conhecimentos, como também permite ao leitor traçar seu próprio caminho na busca desse conhecimento. A convergência entre as tecnologias e a teoria literária possibilitou um olhar renovado sobre a escrita: permitiu diminuir a exclusão social.

Quando recebemos na DGZ um artigo para publicação, depois de aprovado, a primeira tarefa é desformatá-lo em sua estrutura “texto”. Sem modificar o sentido ou qualquer palavra do conteúdo, o texto é quebrado e o enunciado transformado em "lexias" de sete a nove linhas. Lexia é um termo de Roland Bartes para indicar “unidades de leitura, onde o texto pode ser ‘quebrado’ sem afetar sua direção ou sentido; um terremoto de palavras com coesão semântica”.

3) Que reflexão o senhor faz a respeito dos caminhos futuros da ciência da informação como área de conhecimento acadêmico?

No máximo em oito anos, a maioria dos documentos será digital e ficará em estoques eletrônicos. O documento, antes um artefato fechado, depois de pronto será um documento aberto. O futuro da ciência da informação está em compreender esta mudança e se preparar para lidar com ela.

Cláudia Mohn
Núcleo de Comunicação Social do IBICT
09/03/2010

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