Deu no portal Universidade do Futebol (http://www.universidadedofutebol.com.br/2010/03/1,14502,A+BIOQUIMICA+DO+EXERCICIO+EM+EXERCICIO.aspx?p=3)

Vamos debater?

A Bioquímica do exercício em exercício

Marcadores sanguíneos existem e têm praticidade muito razoável; há necessidade de se trabalhar o convencimento científico desta necessidade aos dirigentes competentes Fernando Catanho

Caros leitores, sejam novamente bem vindos!

Neste texto, colocamos em pauta novamente a bioquímica do exercício em exercício. Na verdade, gostaria de utilizar este momento para polemizar o quanto desta bioquímica do exercício tem sido utilizada no exercício do nosso bom e velho futebol. Vamos à discussão!

Temos hoje disponíveis aproximadamente 378 artigos, sendo 29 destes de revisão, que relacionam a bioquímica do exercício nos esportes na base de dados do PUBMED (www.pubmed.com), referencial científico em nossa área. Destes todos, sete artigos tratam especificamente da bioquímica do exercício aplicada no exercício futebolístico.

Os assuntos bioquímicos que têm merecido investigação no futebol estão entre estresse oxidativo, potencial antioxidante, efeitos de suplementação, perfil lipídico, degradação de glicogênio, perfil da estrutura muscular, lesões e vias metabólicas, publicados de 1993 até os dias atuais. Faço aqui uma ressalva de que outros assuntos podem estar sendo estudados nesse período, que relacionam bioquímica do exercício com o futebol, apesar de não terem sido supracitados.

A pergunta que me faço e tomo a liberdade de dividir com vocês, destemidos leitores, é o quanto nós temos utilizado desta bioquímica do exercício no exercício do futebol? Que venham o “bioquimiquês” e o “futebolês” à tona!

Discutindo, pesquisando e aplicando parte desta teoria à prática, temos eu, junto de amigos da profissão, observado alguns quesitos interessantes no tocante à dialética bioquímica “do” e “no” exercício.

Primeiro quesito: muito se fala da importância em buscar por marcadores sanguíneos que indiquem, dentre outros, o nível de lesão, estado de hidratação, condição de fadiga, o desgaste muscular, a inflamação, enfim, a prontidão do futebolista para o treinamento. Estes marcadores existem? Sim, podem não ser os mais específicos e confiáveis do universo, mas ajudam bastante na prática.

Podemos versar sobre alguns, como a enzima Creatina Quinase (CK), o hemograma, a proteína C-reativa (PCR), a uréia e o cortisol. Porém, um minuto de sua valiosa atenção estimado leitor: temos condições reais no futebol, digo especialmente a financeira, de investir neste tipo de estratégia? Estas análises de sangue fazem parte mesmo da nossa realidade futebolística em sua total amplitude? Certamente, aparece aqui um problema que deve ainda ser enfrentado por muitos e solucionado por poucos: necessidade x possibilidade. Surge a premissa: “preciso muito acompanhar o processo adaptativo dos meus atletas, mas não tenho condições de utilizar as melhores ferramentas para isso”.

Ah, caro leitor, uma pequena indigestão acaba de se instalar!

Logo, este primeiro tópico é um dos que afastam, de certa forma, a bioquímica do exercício no seu pleno exercício, em especial no futebol. Cabe a nós, profissionais da área, trabalharmos no convencimento científico desta necessidade aos dirigentes competentes, de forma a confirmarmos a bioquímica EM exercício.

Segundo quesito: muito também se defende que os aparatos utilizados para as avaliações devem ser os mais refinados possíveis. Aqui a bioquímica do exercício acaba por se misturar com a fisiologia do exercício, ambas em exercício prático.

Traduzindo a idéia supracitada, digníssimo leitor: o analisador de gases, o GPS, a plataforma de saltos, a célula de carga, as fotocélulas, o lactímetro, o aparelho isocinético, dentre outros, fazem parte de um escopo de necessidades futebolísticas bioquímico-fisiológicas do exercício. Novamente, surge a inquietante pergunta: temos condições de dispor destas ferramentas para o levantamento de informações fiéis sobre os guerreiros futebolísticos? Na grande maioria dos casos, não. Mais um quesito que afasta, de certa forma, a bioquímica do exercício do seu exercício realmente prático.

Porém, estimado leitor, não se apavore! É possível, mesmo contando com severas limitações e uma tendência do distanciamento da bioquímica do exercício em exercício no futebol, fazermos um trabalho decente, aproveitando os conceitos da bioquímica do exercício e aplicando os mesmo no exercício. Essa é a pauta da próxima discussão.


*Fernando Oliveira Catanho da Silva é professor universitário, fisiologista sócio da empresa F3 Consultoria Esportiva e personal trainer

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