Ainda sobre o Livro-álbum dos Mestres Capoeira - comento a postagem em meu Blog na Imirante.globo.esporte.com http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2010/01/08/livro-album-dos-mestres-capoeira/

Acabo de publicar post no CEV – www.cev.org.br/comunidade/capoeira  refererindo-me às biografias de Mestres Capoeiras que inicio, ao lado d´Os Esportistas… ainda faço referencia ao livreto do Roberto – também objeto de inumerros comentários, no Papoeira, sobre meu posicionamento – isso, porque naquele sítio os posts aqui deste Blog são replicados… atingindo um outro público, para além fronteiras…   

Sérgio, Laércio, demais Comunitários… replico aqui meu último post em meu Blog na Imirante.com, aqui do Maranhão, sobre a nossa (do Maranhão…) Capoeira.

Refere-se às discussões que estamos tendo, por aqui, sobre um livro recém-lançado por um Capoeira e Historiador Roberto Augusto A. Pereira – “Roda de Rua – memória da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX” – EDUFMA, 2009, 32 p. – dentro de um projeto do MinC Capoeira Viva…

Fiz um comentário, baseado na sinopse do livro, publicadas em dois jornais da terra; depois fui ao lançamento do mesmo e, lá, tanto o autor, quanto o Reitor de nossa UFMA – menino-capoeira – falaram ser ’estudo inédito de nossa capoeira’… vozes se alevantaram, quando chamei a atenção de que não é bem assim… mesmo o uso de memória oral para construir a história da capoeira no Maranhão – vejam bem, ’no Maranhão’, e não ’do Maranhão’, conforme o titulo do Roberto, pois ele se refere à capoeira baiana, pós Serejo e Sapo… mas servindo-se da memória de outros capoeiras, anteriores à vinda desses dois Mestres, não é inédita – refiro-me à metodologia de pesquisa, já que pretende ser trabalho de pesquisa, o relatório apresentado em forma de livro, disponibilizado à comunidade … essa a questão!

Continuando, e procurando ainda mais elevar o debate, estou com o livreto à minha frente e, em resposta às colocações da Jaqueline e da Carla, estou relendo o trabalho do Roberto – em tempo, na apresentação do livro, corrigiu não ser ele, Roberto, Mestre Capoeira, como saira nos jornais…

Pedindo a benção ao ‘Velho Diniz’, Roberto diz tratar da história de três capoeiras: Serejo, Diniz e Sapo, nessa ordem. Dois deles, mortos trágicamente; o segundo – “Velho Diniz” -, ainda bem vivo nos seus 81 an0s e, em depoimento que tenho, desde os oito anos na capoeira…

Conheceu-a observando um capoeira de apelido Caranguejo – de profissão catador de… – que costumava tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Vez por outra costumava, também, dar surras em alguns ‘meganhas’…

Mestre Diniz, ainda criança, era levado por seu avô, de canôa – meio de transporte daquelea época, décadas de 30, 40 - fazer compras para abastecer o comércio que a família mantinha; no Portinho enquanto aguardava o avô – fazendo compras no Mercado das Tulhas, ou da Praia Grande -, ficava na canôa, e observava os estivadores jogando ‘capoeira’.

Do depoimento que tenho de um ex-estivador (morreu há uns tres anos)  com mais de 95 anos, essa capoeira que j0gavam no cais, enquanto aguardavam serviço, era denominada por eles de ‘carioca’ – jogava-se ‘ carioca’… 

(OBS. depoimento prestado a seu neto, que à época estava cursando Educação Física, na UEMA, e fazia um trabalho para a disciplina História da Educação Física, sobre a Capoeira; eu era o professor dessa disciplina…).

Mestre Diniz ainda se refere a dois tios seus, que eram jogadores de ‘capoeira’:  Zé Baianinho e Mané. (SOUZA, 2002, citado por MARTINS, 2005, p. 30)[1].

Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. (MARTINS, 2005, p. 31). 

Sapo chegou a freqüentar as rodas de capoeira de Mestre Diniz, assim também como jogava na academia Bantú, de Roberval Serejo.

Jaqueline, e Carla, insistem que eu teimo em dizer que a capoeira iniciou no Maranhão na década de 70. Muito pelo contrário: chamei atenção de que a capoeira no/do Maranhão é bem anterior à década de 1970… tem, pelo menos, mais uns 150 anos da chegada de Roberval Serejo e Sapo… é isso que discuto… certamente ambas as comentaristas não observaram o próprio título do livreto do Roberto – “Memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX”.

Volto a chamar a atenção quanto ao uso de “do” e “no”… Roberto refere-se à Capoeira ‘no” Maranhão, pois quer tartar da capoeira introduzida por Roberval Serejo e Sapo – baiana – a partir daquele período; e em sua prórpia obra, refere-se àqueles capoeiras que já a praticavam antes da chegada desses dois Mestres:  começa por Diniz, de quem apresenta um ‘retrato’; depois, Babalu, Ribaldo Branco; pois havia outro Ribaldo, Preto; Cara-de-Anjo (Dr. Naasson); Gouveia; Índio do Maranhão; Jessé; Alô; Leocádio; Ribinha Sururu; Alan; Gordo; Elmo Cascavel; Manoel Peitudinho; De Paula;  Açougueiro… só para lembrar alguns praticantes à época da chegada dos Mestres retratados  por Roberto…

Pois é, a Capoeira ‘do’ Maranhão é bem mais velha de que Sapo e Roberval… e ela existiu com outros nomes – como era natural, à época, como o Batuque, a Punga, a Umbigada, a Rasteira, e mesmo ‘A Carioca”…

Voltaremos ao tema… 

[1] SOUZA, Augusto Cássio Viana de. A capoeira em São Luís.]: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. São Luís : UFMA, 2002. Monografia de graduação em História, citado por

MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005.

sex, 08/01/10 por leopoldovaz | categoria A VISTA DO MEU PONTO, Atlas do Esporte no Maranhão, Capoeira, VISITANDO O MARANHÃO

Comentários

Por Miltinho Astronauta
em 9 de Janeiro de 2010 às 03:21.

Prezado Mestre em Historia da Capoeiragem Maranhense e amigo Prof. Leopoldo Vaz.

Prezados amigos desta grande Roda da informação. Tenho acompanhado o trabalho árduo, sério e (tanto quanto possível) imparcial de nosso amigo Leopoldo, como tenho também acompanhado outros amigos que tem feito grandes feitos por nossa arte da Capoeiragem, como é o caso do amigo e pesquisador Carlos Cavalheiros. Sem falar nos tambores que ecoam à 7 mãos pelo Mestre Jerônimo (Ôxe!), e do camarada Mestre Milani, entoando seu (nosso!) Portal Capoeira.

Gostaria de estar na roda com vocês, mas por conta da etapa final do doutorado neste inverno Canadense, ainda preciso de mais um tempo pra voltar ao jogo. A cada "chamada" de vocês me sinto mais e mais impotente, pois vejo o quão grandiosas são as contribuições que vocês (parafraseando Mestre Caiçaras = Segundo Mestre André Lacé o ACM da Capoeira!), "cada quá no seu cada quá" vem ofertando à nossa arte e à nossos mestres. Uso o "imparcial tanto quanto possivel" acima por um grande motivo: é simplesmente impossível ser totalmente imparcial perante esta Nega Mandingueira (ode a Mestre Lacé da Rainha do Leblon novamente!) que lança sobre nós toda sorte de mandingas e feitiços.

Nesta pequena volta que consegui dar agora (relendos os documentos depositados aqui e ali pelo Leopoldo), identifico num dos emails do amigo Prof. Leopoldo um Falso grande problema. A questão que ele levantou que, por conta da bem intensionada ação de organizar o Atlas da Capoeiragem no Estado do Maranhão, deparou com o questionamento de quem é e quem não é mestre, questionamento este feito pelos proprios mestres, claro. Como disse este é um falso problema. O que menos importa, sob meu ponto de vista, é ter concenso para então incluir ou não alguém no album de Mestres. Meu amigo Mestre Leopoldo Vaz, se as pesquisas apontam para a importância de alguém para com a historiografia da capoeiragem "a Carioca" no Maranhão, retrate, pois, tal capoeira. Se ele é, foi, será, ou nunca chegou a ser mestre acho que é de efeito menor. O que importa é gerar um documento que seja mais inclusivo do que exclusivo.

Em 2005, quando Mestre Curió foi ministrar uma vivência da capoeira tradicional em São José dos Campos, SP, perguntei pra ele como andavam os animos da questão de reconhecimento de quem era ou não mestre para "recebimento" de aposentadoria (este é um velho e eterno assunto, que sempre volta a tona, mas nunca aposenta ninguem). Pois bem, ele disse, olha meu filho, se alguém quer saber quem é mestre ou quem não é mestre de capoeira basta ir perguntar pra mim, pois com mais de 50 anos de pratica eu sei quem é e quem não é mestre. Com todo respeito a ele não prossegui na prosa, mas cá pra nós, quem é que tem condição de ser régua de mestrandade pra todos os mestres ou praticantes que estão distribuidos ao longo da história, e ao longo de todo o Brasil, sem falar pelo mundo afora. Sinceramente ninguém. Por este motivo, me preocupa muito, por exemplo, usar o cadastro de afiliados de uma associação qualquer, ou mesmo de uma entidade formalmente constituida (por seres humanos, logo não imparcial também) para definir quem entra ou sai de uma lista de mestres. Meu Mestre Cosmo (Saravá!), só foi incluído na CBC por ter um mestre amigo que era amigo do então presidente. Vejam vocês, ninguém nunca foi saber a profundidade e seriedade do Grande trabalho que meu mestre realizava numa cidade do interior paulista. Foi suficiente um amigo de um amigo pra então ter o nome incluido. Claro, isto de longe não tira nenhum mérito ou brilho de meu Grande Mestre. Entretanto, mostra o quão tênuo, pouco criterioso e pouco confiável é este processo todo.

Logo, mestre Leopoldo Vaz, rogo que você vista-se da missão, e conclua, talvez pioneiramente, o primeiro Atlas da Capoeiragem de um dos Estados Brasileiros. E não busque fazer o trabalho completo. Ninguem conseguirá. Sempre ficará um conjunto de mestres e capoeiras de fora. Otimo, pois faz com que outros (que acham que só eles podem e devem fazer) se moverem também. Segunda edição será melhor que a primeira. Talvez na 20a chegaremos lá.

Por fim, é chover no molhado dizer que todas estas ações nossas sempre estiveram muito bem esteiadas pelo Grande Mestre André Lacé. Lacé tem, além do acervo mais rico da capoeriagem carioca (quiças de tantas outras), um atributo grandiosissimo: Vive para a capoeira, e não da capoeira. Atributo essencial para se fazer algo de forma imparcial, porém apaixonada.

Abraço fraterno,

do sempre aluno miltinho, aprediz de capoeireiro.

Por Miltinho Astronauta
em 9 de Janeiro de 2010 às 03:51.

EM TEMPO: Falha grave seria nao comentar o excelente trabalho do amigo Mestre Bene Zumbi, garimpando ouro sobre a arte da capoeiragem e manifestacoes culturais de nossa Paraiba!!

abs

miltinho

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 9 de Janeiro de 2010 às 12:14.

MilTinho "Picolé" - Só pode ser Mil... e Picolé por que sei como é o inverno que já chegou ai pelo alto do Mapa Mundi...

A discussão, aqui no Maranhão, quando estava a fazer o livro-álbum, eram as reuniões com os Mestres... e quando viam as entrevistas e a identificação, questionavam que fulano e sicdrano não eram mestres; alguns, Contra-Mestres, outros, Formados, outros, Instrutores...

Pedi, então, à Federações - às duas! - se havia um cadastro de mestres; se poderiam me fornecer... diante do impasse, resolvi dar um tempo... tenho cadastrado cerca de 80... dois, do interior... tem mais mestre que aluno... ainda há a briga dentre as duas federações; as duas vertentes da capoeira - Angola e Regional - e vai por ai...

Apenas por falta de tempo - e outras preocupações - interrompi o Livro-Álbum... mas todos os que se identificaram como ’Mestre" foram incluidos... voce recebeu a listagem e as historias de vida... não dei continuidade... fui atravas da Carioca, depois da Guarda Negra no Maranhão, e agora estou com o Javier procurando a ancentralidade, com base na História e na movimentação dos ’Negros", das populações migradas a força para est5e lado do Atlantico....

Mas precisamos recomeçar...

Por Sergio Luiz de Souza Vieira
em 14 de Janeiro de 2010 às 10:31.

Prezado Leopoldo, Laércio e demais companheiros   Convivo com estas discussões sobre quem é ou não "Mestre de Capoeira" desde 1980. São mais de 30 anos de polêmicas infindáveis.   De minha parte sou bastante cético em relação a esta questão da "maestria" na Capoeira, assim como nas ações do Capoeira Viva do Ministério da Cultura, do qual me parece o ressurgimento do Programa Nacional de Capoeira que tantas polêmicas causou no passado ao  estar no centro das atenções que motivaram a extinção do INDESP, sendo citado negativamente em uma sindicância especial da Presidência da República.   Quanto aos "mestres" temos todos os registros daqueles que obtiveram seus títulos por bancas avaliadoras desde 1941, por ocasião da constituição do Departamento Nacional de Luta Brasileira (Capoeiragem) da extinta Confederação Brasileira de Pugilismo. Este Departamento deu origem à Confederação Brasileira de Capoeira em 1992 e à Federação Internacional de Capoeira em 1999.   A seu modo tais bancas buscaram avaliar competências, saberes e habilidades dos candidatos que realmente tinham que aprender sobre o acervo da Capoeira. Todavia, buscando burlar a oficialidade, surgiu este mito de que "Mestre, em Capoeira, é aquele que tem o reconhecimento de seus pares e passa a ser tratado como tal". E é ai que entram os problemas...   Ao longo deste período obtive testemunhos bem como presenciei situações diversas para a obtenção de tais títulos por reconhecimentos comunitários, tais como: a- favores sexuais; b- por relações de adultério contra conjuge de mestre rival; c-compra de título; d- por relações de parentesco; e- favores financeiros; f- favores políticos; g- bajulações; h- por autointitulação; i- por estarem presentes mestres em um evento onde não se sabia o que iria ocorrer, mas que tiraram fotos; j- por organização de eventos; k- por compromisso de lealdade em permanecer no grupo; l- por trabalhos em grupos de discussão em internet; m- por organização de portal de internet; n- por falsificação de diplomas, carteiras e fotos; o- por ter um "jogo bonito"; p- por fazer acrobacias; q- por voluntariados em escolas, órgãos governamentais e ong’s; r- etc, etc, etc,   Observe que nestes itens não há qualquer cobrança de conhecimentos técnicos, culturais, desportivos, históricos, etc. Trata-se apenas de "reconhecimento por seus pares" em que muitos também desconhecem o acervo da Capoeira. Com isto se perderam os conhecimentos sobre rituais, tradições, nomenclatura de movimentos, cultura de jogo,  saberes musicais, cantigas e finalidades, toques de instrumentos, etc. Também em função desta situação resultante da desconstrução dos saberes da Capoeira, tais usuários do reconhecimento comunitário passaram a inserir situações "alienígenas" no Jogo da Capoeira, tais como saltos, movimentos acrobáticos, acelareção dos rítmos e a reprodução dos mesmos 10 a 15 movimentos de Capoeira nas rodas que fazem. Na CBC para dar conta desta situação foi constituído um Conselho autônomo, e portanto independente da presidência, que procurou dar solução para esta situação, sem sucesso. Finalmente, na última assembléia da FICA foi aprovado que não mais tratará da identificação ou não de quem é "Mestre de Capoeira", a qual passará a se preocupar somente com quem é ou não "Treinador Desportivo de Capoeira".      Em Antropologia não podemos chamar isto de deturpação, pois se trata da dinâmica dos processos de reprodução cultural, no entanto, do ponto de vista a preservação do acervo cultural, ou melhor, do patrimônio cultural, muito já foi perdido e muito ainda o será, em especial se livros legitimarem ainda mais esta situação de esvaziamento patrimonial da Capoeira.   ... É o que penso...         Com meus respeitos,   Sergio Vieira

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