João Zinho, vou transcrever abaixo uma mensagem que recebi de um Mestre Capoeira, não o identificando, pois enviou-me em meu endereço particular e não gosta de participar de listas de Internet, justamente pelo linguajar que se usa, como se não conhecesse, ou dominassem o idioma, cheio de ies, laies, e falta de concatenação de idéias.

[...] Prezado Professor Leopoldo Vaz,

Não é fácil dominar um idioma, especialmente a nossa língua portuguesa.

Armando Nogueira, o grande jornalista que nos deixou no outro dia, costumava dizer mais ou menos assim: - Pensam que escrevo com facilidade, não é bem assim, um bom texto dá trabalho.

Ora, o capoeira, andarilho por natureza, está espalhado pelo mundo. A maior parte desses capoeiras, mestres ou não, saiu do Brasil sem dominar muito bem o idioma pátrio; pois muito bem, foram para outros países onde aprendem, na prática (sem cursos metodizados), o idioma local. Some as esse quadro, a nova linguagem que a Internet está provocando.

Acrescente ainda os mistérios da Capoeira, institucionalizada ou não, qual o resultado?

Uma espécie de Torre de Babel, onde nada fica muito claro, as boas idéias perdendo-se em discussões confusas  que pouco ajudam à Capoeira e aos capoeiras.

Sei que não falta público para esse tipo de batalha, como nos circos romanos, todos querendo sangue, ninguém escapa, até porque ainda não se encontrou um caminho jurídico à altura.  Daí o número crescente de aproveitadores, começando pelos temíveis rackers, passando por uma legião de capoeiras andarilhos desejosos de notícias, e acabando por grupos especialmente formados para patrulhar tudo que não seja do seu agrado pessoal e mercantil.

Repare que, feliz ou infelizmente, os grandes nomes da capoeira não aparecem nessa arena, quando muito, expressam-se, através de terceiros.

Até mitos do passado, de vez em quando, caem no pelourinho da maledicência; dificilmente você toma conhecimento que um bom texto moderno, tipo Coelho Netto, Monteiro Lobato, Lima Campos e Plácido de Abreu no passado, está na Internet fazendo merecido sucesso.

Se o brilhante e já saudoso Armando Nogueira fizesse um texto sobre a Capoeira, como sempre fez com o futebol e alguns outros esportes, não faria sucesso algum.

Outro grande cronista esportivo (além de brilhante dramaturgo), Nelson Rodrigues, confessadamente, jamais jogou futebol, nem mesmo uma simples "pelada". Pois muito bem, é considerado por todos um dos maiores cronistas esportivos de todas épocas.

Se Nelson Rodrigues ousasse escrever sobre capoeira, imediatamente seria patrulhado por esse ou aquele, que perguntaria? - Esse cara joga capoeira, já entrou numa roda, tem título de mestre?

Ora, Professor Leopoldo,

acompanho há mais de cinquenta anos essa história, o título de MESTRE honra a quem o possui, mas, convenhamos, o fato de ter um título desses, às vezes obtido de maneira obscura ou questionável, não significa que o titulado esteja acima dos demais mestres do mundo, mestres de outras atividades que não a capoeira, do mestre de obras ao mestre em física quântica.

E nem vou falar dos que fazem também um doutorado, mas deixando claro, que nenhum de nós jamais será o dono absoluto da Razão. Vai daí que a melhor maneira de se exercitar o CONTRADITÓRIO é com serenidade.

Xingar, esbravejar, bravatear, ofender pessoalmente, isso, qualquer um pode fazer, ainda mais pela Internet.

Resumindo e terminando:

1. Entendo que os doutores (Phd) são muito bem-vindos ao Mundo da Capoeira, mas devem procurar a roda certa, no caso, o fórum mais apropriado para seus debates.

2. Sem jamais deixar de considerar e louvar o passado da Capoeira, está na hora de se reconhecer  e divulgar os méritos das principais lideranças atuais da capoeira, espalhadas pelo Brasil e pelo Mundo.

Ou será que inexistem tais lideranças?

3. Por que não premiar essa gente? Por que não premiar, por exemplo, o melhor disco ou cd de capoeira de todas épocas, de cada ano?

3.1 Particularmente defendo que  "Berimbau" de Vinicius e Baden é a composição que melhor defende o capoeira e a Capoeira. Deveria virar hino dos capoeiras, cantado em todas as rodas.

4.   E quanto a excelência no jogo propriamente dito, cite você, uns dez nomes de primeira linha!?

Eis aí um bom exercício que obrigará a todo mundo a pensar o que será, afinal, jogar excepcionalmente a Capoeira?

A resposta é mais simples do que parece, basta começar o exercício e ela saltará na frente de todos. Eis aí um bom tem a para os círculos de internautas.

5. Os demais esportes e as artes em geral, inclusive as artes marcianas, não crescem apenas pelo passado, mas, também, pelo mérito de seus jogadores e artistas de agora. Na Capoeira, quem são eles? Claro que existem.

[...]  Há quem prefira que nada disso aconteça, que a capoeira jamais seja "institucionalizadas", sabe por quê? Porque tais pessoas e grupos entendem que eles, sim, são a "institucionalização".

Não sem razão, parte desses tem suas origens no Período Vargas e a sua poderosa DIP, daí o jeito nazistóide dos patrulhamentos: "caluniai, caluniai, que alguma coisa fica".[...]

O que segue, é de cunho pessoal...

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