LACÉ LOPES, VAZ, ASTRONAUTA - ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO BRASIL

DÉCADA DE 1820

– o castigo comum de um escravo preso devido à capoeira era de trezentos açoites e prisão de três meses (Holloway, 1989)

- registra-se no Maranhão referência a "punga dos homens", jogo que utiliza movimentos semelhantes à capoeira.

1821 – a partir deste ano, foram baixadas inúmeras as seguintes legislações que proibiram a prática da Capoeira, algumas denominadas de Decisões, as quais se comparam às atuais Resoluções e as Posturas, que correspondem atualmente às Deliberações, a saber:

Decisão de 31 de outubro de 1821: determinou sobre a execução de castigos corporais em praças públicas a todos os negros chamados capoeiras.

Decisão de 05 de novembro de 1.821: determinou providências que deveriam ser tomadas contra os negros capoeiras na cidade do Rio de Janeiro.

Decisão de 06 de janeiro de 1.822: mandava castigar com açoites os escravos capoeiras presos em flagrante delito.

Decisão de 28 de maio de 1.824: dava providências sobre os negros denominados capoeiras.

Decisão de 14 de agosto de 1.824: mandava empregar nas obras do dique os negros capoeiras presos em desordem, cessando as penas de açoites.

Decisão de 13 de setembro de 1.824: declara que a portaria de número 30 do mês de agosto compreende somente escravos capoeiras.

Decisão de 09 de outubro de 1.824: declara que os escravos presos por capoeiras devem sofrer, além da pena de três meses de trabalho, o castigo de duzentos açoites.

Decisão de 27 de julho de 1.831: manda que a junta policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores.

Postura de 17 de novembro de 1.832: proibia o Jogo da Capoeira: “... trazem culto em um pequeno pau escondido entre a manga da jaqueta ou perna da calça uma espécie de punhal...” “tomam providências contra todo e qualquer ajuntamento junto às fontes, onde provocavam arruaças e brigas; próximo a Igreja do Rosário, no Largo da Misericórdia, onde à noite as mulheres de reuniam...”

Decisão de 17 de abril de 1.834: solicita providências a respeito dos operários do arsenal de marinha que se tornarem suspeitos de andar armados (fez referência a uma acusação de assassinato feita contra um negro, e mencionou que já haviam sido dadas ordens ao chefe de polícia sobre os capoeiras).

Decisão de 17 de abril de 1.834: dá providências a respeito dos pretos que depois do anoitecer forem encontrados com armas ou em desordens.

Postura de 13 de dezembro de 1.834: dá mais providências contra os capoeiras.

 - A portaria de cinco de novembro criticando a proliferação dos capoeiras que estão perpetrando mortes e ferimentos; a portaria afirmava que o castigo do açoite era o único que aterroriza e aterra, e ordena a Guarda Real a administrar castigos corporais logo que os pretos fossem presos em desordem, ou com alguma faca ou com instrumento suspeito. (Holloway, 1989);

- Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823 (disponível em www.capoeira-palmares.fr);

- Representação apresentada pela Comissão Militar designada para estudar a questão dos capoeiras, cujas sugestões foram mandadas pôr em vigor pelo Príncipe Regente, por portaria do Ministério da Guerra de 5 de dezembro de 1821 (disponível em www.capoeira-palmares.fr);

 álbum do Tenente Chamberlain contém primeira imagem do berimbau no Brasil de que se tem conhecimento (Views and Costumes of the City and Neighbourhood of Rio de Janeiro, Brazil, from Drawings taken by Lieutenant Chamberlain, Royal Artillery, During the Years 1819 and 1820, with Descriptive Explanation, London:Printed for Thomas M’Lean, No. 26 Haymarket, by Howlette and Brimmer, Columbian Press, No. 10, Frith Street, Soho Square 1822, disponível em  www.capoeira-palmares.fr )

1823 – dezembro; a ordem de castigo corporal foi confirmada por Portaria (Holloway, 1989)

1824 – 28 de maio, a capoeira era objeto de proibição e sanção dispostas em portaria do Ministério da Justiça do Império (Silva, 2007);

- a punição tornou-se pior: além das trezentas chibatadas eram enviados por três meses para realizar trabalhos forçados na Ilha das Cobras.

- nessas primeiras décadas, os capoeiras majoritariamente, escravos, tinham como principal motivo de sua prisão a própria prática da capoeira, ou sejam, eram presos “por Capoeira” – Portaria 450, de 9 de outubro. (Reis 1997)

1825 - Os últimos meses de Rugendas no Brasil em 1825; Rugendas permaneceu 48 dias na Bahia na viajem de volta (disponível em www.capoeira-palmares.fr)

1825 Em “O Censor”, Maranhão, edição de 24 de janeiro, Garcia de Abranches ao comentar o posicionamento político do Marques governante – Lord Cockrane – compara alguns portugueses com os desocupados do Rocio – em sua maioria caixeiros – que “pela sua péssima educação, muitos brancos da Europa são tão vis, e tão baixos, como esses mulatos que andam a espancar, a roubar e a matar, pelas ruas da Cidade...” (p. 12-13). Estaria o Censor referindo-se aos capoeiras?

1826 - março – o Intendente de polícia da Corte mandou que todo escravo preso por capoeira sofresse sumariamente cem açoites, sendo depois mandado ao Calabouço, a cadeia para escravos no morro do Castelo.

1827 - A Rúgendas devemos a mais antiga descrição publicada do jogo de capoeira, sem tratá-lo de atividade mais ou menos criminosa. Ferdinand Denis citou Rúgendas no seu Le Brésil publicado em Paris em 1839, o que faz da Viagem Pitoresca no Brasil a fonte provável para todos os demais autores franceses do século 19 (disponível em www.capoeira-palmares.fr)

1828 - a força do capoeira se fez presente na ocasião da revolta dos militares estrangeiros contratados pelo exército brasileiro para lutar na guerra do Prata. Os rebelados tomaram as ruas e o exército teve que lançar mão do poder de enfrentamento das maltas para debelar a confusão.

- O Governo convoca a Capoeira: "A 9 de julho de 1828, o segundo batalhão de granadeiros alemães revoltou-se, protestando contra o espancamento de um de seus soldados. D. Pedro I prometeu atendê-los no prazo de oito dias, mas no dia seguinte o batalhão de irlandeses insubordinou-se e poucos depois o dos granadeiros alemães. E os mercenários iniciaram o saque na cidade. A população teve de correr para a rua, a fim de defender a sua propriedade. Vidigal congrega os capoeiras e os comanda no ataque à soldadesca desenfreada; consegue assim que os soldados retornem ao quartel onde tinham refúgio certo e poderiam ficar resguardados das cabeças, taponas, pontapés, rabos de arraia e navalhadas" (ver Marinho referenciado em 1945, p. 21 do livro original, in Lace Lopes, 2005)

- História de um mito da capoeira considerada como uma arte marcial brasileira. Em francês, por Pol, 25 novembro 2004. resumo: Afirma-se que "os capoeiras" do Rio de Janeiro teriam participado à derrota do levante das tropas imperiais estrangeiras, em 1928. Nenhum relatório da época leva tal interpretação, que parece a invenção de um escritor, em 1871, quando os capoeiras eram alvo de atenção da imprensa na capital do Império brasileiro. Refletimos sobre o sentido de tal mito. Com os textos dos relevantes documentos. (disponível em www.capoeira-palmares.fr)

- O Reverendo Walsh dá algumas informações: Walsh’s Notices of Brazil in 1828 and 1829. The reverend Robert Walsh, C.E., travelled to Brazil for Church duties in 1828-1829. His account, published 1830, gives special attention to British and Irish settlers, but includes Negro uses and customs. Writing about love and war dances, Walsh cites no vernacular names, so the term capoeira cannot appear. (disponível em www.capoeira-palmares.fr)

1829 – no Maranhão, registram-se certas atividades lúdicas dos negros. Nesse ano é publicado no jornal "A Estrela do Norte" a seguinte reclamação de um morador da cidade: "Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d"elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? "(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite)

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