Resposta ao Mestre Nelsinho (de São Luis do Maranhão) em meu Blog, sobre o post ’Capoeira no Laborarte":

Nelsinho
Ainda de nosso papo de hoje de manhã… Ao se buscar a ancestralidade da(s) capoeira(s) encontra-se movimentos que, na interpretação de alguns Mestres, assemelham-se aos descritos pelos Mestres fundadores e sistematizadores das capoeiras primitivas. Concordamos que a Capoeira maranhense (atual) é herdeira de Sapo e de Roberval Serejo. Ambos de linhagem baiana. No dizer do Laércio, Sapo era um dos Capitães de Areia descritos por Jorge Amado…
Roberval Serejo, precisamos resgatar a sua memória… Grupo Bantus… mas não devemos esquecer que antes da chegada dos dois expoentes - ancestrais - da atual capoeira praticada no Maranhão, já tinhamos outros - e muitos - que praticavam a ‘capoeiragem’.

Uma das manifestações que encontrei, denominava-se ‘Carioca”. Outra, ‘Punga”. Encontra-se referencias ao ‘Batuque”, à ‘Umbigada”, e tantos outros nomes, relacionados com a cultura maranhense.

Outras capoeiras: O fenômeno das academias baianas trará uma nova conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática, especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro. Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa… Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Carvalhedo, in Jornal do Capoeira) .

Encontramos em Angola um estilo musical popular - O Semba, que significa ‘umbigada’ em quimbundo - língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assentes fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas .

O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira. 

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. 

Mestre André Lacé , a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas

Para Soares (2001)  , há todo um debate envolvendo a origem da capoeira, de onde ela veio etc. Embora a capoeira do século 19 tenha passado por um período fortemente escravista, com uma população africana muito grande, a origem está no século 18, nos primórdios da sociedade urbana. A capoeira é um fenômeno urbano, que anuncia uma leitura de negros africanos e crioulos para o mundo urbano colonial.

Vieira (2004)   ensina-nos que, de acordo com os melhores cronistas, a Capoeiragem data de 1770, “[...] quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores”2. Este texto de Hermeto Lima, se alinha com o de Macedo, que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés.”

Jorge Olimpio Bento, no prefácio do livro de Araújo (1997)  , afirma que esse autor, ao procurar esclarecer as origens e evoluções daquela luta ao longo de vários séculos, viu-se forçado a proceder a pesquisas documentais sobre todo o contexto social abrangente. Afirma Bento (p. 6): “não admira assim que na história da capoeira surjam indicações referentes:
• Ao tráfico negreiro;
• Às manifestações culturais de origem africana dos povos traficados para o Brasil;
• À vida dos negros, quer fossem escravos ou forros, às suas rebeliões e aos seus quilombos;
• Ao período colonial e imperial do Brasil;
• A fatores político-sociais ligados ao fim do império, ao início da república, à era getulista e a tempos mais recentes.

Mais adiante, citando João Ubaldo Ribeiro: “o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” (p. 7).

A propósito, essas e outras histórias estão, algumas delas, publicadas, e as estou sistematizando em três novos trabalhos em que estou trabalhando atualmente: ‘A GUARDA NEGRA”, “A CARIOCA”, “CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ALGUMAS CONSIDERAÇÕES”. O primeiro texticulo apresentei mes passado no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; deveria apresentar amanhã, 30, o material sobre a Carioca; o ultimo, poderá gerar alguma polemica - conversamos sobre isso… - estou aguardando a tua visita para complementa-lo, naquilo qye se refere à identificação dos movimentos descritos  FICA, Regional, Angola… bem sabe que não sou Capoeira, não se lhe conheço os golpes, tenho dificuldades de identificá-los, dai precisar de um Mestre para isso. Será você…

Segue o Jogo… vamos chamar outros para a Roda…

PARA SABER MAIS:
http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html. disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba
CAVALHEIRO, Carlos Alberto in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em Porto Feliz. in La Insignia, 2007 disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho - Cantadores - o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) - Linc - 2000
FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf
CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004.
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed.  Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005
LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007.
LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006.
LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.
VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/.
ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto) : Insituto Superioro Maia, 1997

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