Tenho mantido correspondencia com o Javier Rubiera, atual Presidente da Federação Internacional de Capoeira – FICA. Estamos escrevendo, juntos, desde o ano passado um texto sobre a ancestralidade da capoeira. Javier perguntou-se me aceito a ringa malgache como antecessora da capoeira… ou uma das artes marciais dos povos migrados à força para este lado do Atlântico, procedentes de África e outras antigas possessões portuguesas e/ou dos Países Baixos…
Dentre as possibilidades, dessas artes – lúdica e movimento – está a silat, praticado na Malásia…
Estamos, pois investigando! pesquisando! e vez por outra, ele manda um texto que encontrou, em referencia à uma possível conexão da capoeira com algum movimento encontrado na África, na Malásia, na Índia, nas Molucas, no Oceano Índico, em Madagascar, na China, no Japão… enfim, por onde os portugueses andaram, desde 1415…
Um Titã da Capoeiragem –Plácido de Abreu (Por Jair Moura)Coelho Neto, em O Nosso Jogo, capítulo incluído no volume Bazar (Porto, Livraria Chardron, 1928), relembra capoeiras famosos das camadas populares que, com o seu destemor, a sua impetuosidade, investiam contra policiais e transeuntes que fugiam atemorizados, ao se defrontarem com Boca-Queimada, Manduca da Praia, Trinca-Espinha ou Trindade.
Nessa época, vultos salientes na política, no magistério, nas forças armadas, também cultivavam esportivamente a capoeiragem, como Duque Estrada Teixeira, o capitão Ataliba Nogueira, os tenentes Lapa e Leite Ribeiro, Antonico Sampaio, aspirante da Marinha e, o grande diplomata, José Maria da Silva Paranhos Filho, Barão do Rio Branco. Continuando a discorrer sobre o assunto enfocado, escreve Coelho Neto: “A tais heróis, sucederam outros: Augusto Melo, o cabeça de ferro; Zé Caetano, Braga Doutor, Caixeirinho, Ali Babá e, sobre todos, o mais valente, Plácido de Abreu, poeta, comediógrafo e jornalista, amigo de Lopes Trovão, companheiro de Pardal Mallet e Bilac no O Combate, que morreu, com heroicidade de amouco, fuzilado no túnel de Copacabana, e só não dispersou a treda escolta, apesar de enfraquecido, como se achava, com os longos tratos na prisão, porque recebeu a descarga pelas costas, quando caminhava na treva, fiado na palavra de um oficial de nome romano. Caindo de encontro às arestas da parede áspera, ainda soergueu-se, rilhando os dentes, para despedir-se com uma vilta dos que o haviam covardemente atraiçoado. Eram assim os capoeiras de então.” http://www.revistacapoeira.com.br/site/index.php?m=historia&id=143 Javier não domina o português… achou a palavra ‘amouco’ relacionada com a morte de Plácido de Abreu – um dos precursores da capoeira, e um dos sistematizadores… e descobriu, ser essa palavra de origem malaia – amok – tendo como significado uma técnica complexa pertencente à algumas artes marciais, como o silat: http://books.google.es/books?id=cCXd0h_25tUC&pg=PT51&dq=amok+silat&lr=&as_brr=3[F.: Do malaio ámoq. Hom./Par.: amouco (fl. de amoucar)] – 1. Dominado por fúria: “Diadorim a vir do topo da rua, punhal em mão, avançar correndo amouco…” (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas); 2. Que revela servilismo; BAJULADOR; sm. 3. Ant. Em alguns lugares do Oriente (esp. na Índia), indivíduo que se preparava para lutar até a morte pelo seu senhor ou por sua própria honra; 4. Ant. Na Índia, indivíduo fanático por uma crença, por uma seita; 5. Ant. Na Índia, indivíduo servil, bajulador de seus chefes ou superiores; 6. Reação repentina, ger. violenta, seguida de estado depressivo; 7. Raiva, irritabilidade.
Esses, os caminhos que utilizamos para escrever uma história da capoeira… mas nesse caso, não há correlação entre a morte de Plácido de Abreu, a capoeira, e o silat … simples uso do portugues, com um dos muitos significados da palavra ‘amouco’…
Sobre Plácido de Abreu:
Artigo 18- A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas.
Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo.
PLÁCIDO DE ABREU MORAIS[1]
Na crônica da capoeiragem carioca, um vulto importante foi Plácido de Abreu Morais, de nacionalidade portuguesa. Nasceu a 12 de março de 1857 e foi assassinado em fevereiro de 1894, em represália à sua desassombrada atitude, de oponente às ações arbitrárias, ditatoriais de Floriano Peixoto, aderindo aos insurgentes que desencadearam a revolta da Esquadra.
No Brasil, trabalhou no comércio, exerceu a arte tipográfica, salientando-se como homem de letras, militando no Correio do Povo. Republicano intransigente, incondicional, foi acusado de estar envolvido numa tentativa que visava suprimir o imperador D. Pedro II. Da sua bibliografia, ressalto o romance Os Capoeiras, publicado em 1886. No seu contexto, ele focaliza os rituais inerentes à capoeiragem no Rio e, prosseguindo, descreve as infelicidades, os sofrimentos de um jovem que, vindo do interior para capital, foi vitimado pelos perversos, pelos marginais, que infestavam as hordas capoeirísticas, mancomunadas com a prostituição.
Na interessante e elucidativa introdução do seu romance, Plácido anuncia a publicação para breve, de outro trabalho da sua lavra, intitulado Guaiamus e Nagoas. Efetuei reiteradas buscas e pesquisas e cheguei à conclusão que o intento do malogrado escritor lusitano, de imprimir o referido Guaiamus e Nagoas, não foi concretizado.
No preâmbulo de Os Capoeiras, Plácido de Abreu transcreve um vocabulário da gíria vigorante no seu tempo, que reputo de essencial importância para os capoeiras da atualidade e os pesquisadores que têm abordado esta temática:
Banho de Fumaça – tombo.
Bracear – dar pancada com os braços.
Caçador – tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e o pé esquerdo e estendendo a perna direita de encontro aos pés do adversário.
Caveira no Espelho – cabeçada na cara
Chifrada – cabeçada.
Lamparina- bofetada.
Moquete - marretada, soco
Negaça –
Pancada de Cotovelo
Pantana – volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito do adversário
Passo de Sirycopé – pulo que dá o capoeira depois que faz negaça, para ferir
Ponta-pé –
Rabo de Arraia – volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo
Topete a Cheirar – cabeçada.
Trastejar, – dar um golpe falso
“Cambar, passar de um partido para outro.
Arriar, deixar de jogar capoeiragem.
Distorcer, disfarçar ou retirar por qualquer motivo.
Tapear, enganar o adversário.
Tungar e balear, ferir o inimigo.
Trastejar, dar um golpe falso.
Alfinete, biriba, biscate e furão, estoque ou faca.
Sardinha, navalha.
Caçador, tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e o pé esquerdo e estendendo a perna direita de encontro aos pés do adversário.
Rabo de arraia, volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo.
Moquete, marretada, soco.
Banho de fumaça, tombo.
Alto da sinagoga, rosto.
Grampear, pegar à unha o adversário.
Passo de constrangimento, vacilação do inimigo quando leva um tombo ou é vencido; ato de retirar-se cabisbaixo.
Passo de siricopé, pulo que dá o capoeira depois que faz negaça, para ferir.
Pegada, encontro de dois partidos inimigos.
Marcha, procura de adversário.
Vou ver-te cabra, ameaça para brigar.
Carrapeta, pequeno esperto e audacioso que brama desafiando os inimigos.
Bramar, gritar o nome da província ou casa a que pertence o capoeira.
Senhora da cadeira, Santana.
Velho carpinteiro, S. José.
Velho cansado, S. Francisco.
Senhora da palma, Santa Rita.
Espada, Senhora da Lapa.
Sarandaje, pequenos capoeiras, miuçalha.
Endireitar, enfrentar com o inimigo.
Mole, covarde.
Leva, leva, grito de vitória, perseguição ao inimigo.
Baiana, joelhada que se dá depois de se haver saracoteado para tapear o inimigo.
Chifrada, cabeçada.
Encher, dar bordoada.
Bracear, dar pancada com os braços.
Melado, sangue.
Firma, não foge.
Caveira no espelho, cabeçada na cara.
Porre, pifão, bebedeira.
Topete a cheirar, cabeçada.
Não venha, que sais do passinho mole, sê prudente, porque levas um tombo.
Lamparina, bofetada.
Pantana, volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito do adversário.
Branquinha, aguardente.
Está pronto, está ferido.
Foi baleado, foi ferido.
Quero estia, quero tasca, senão bramo, quero parte disto ou daquilo, roubado, senão denuncio.
Deixa de saliências, não contes patranhas.
Rujão, batalhão ou sociedade.
Roda, vamos embora.
Desgalhar, fugir da polícia.
Jangada, xadrez de polícia.
Palácio de cristal, detenção.
Chácara, casa de correção.
Fortaleza, capela, taverna.
Piaba, sem valor.
Dar sorte, (diversas aplicações) cair em ridículo ou cousa bem desempenhada.
É direito, é destemido.”
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