CHRONICA DA CAPOEIRA (GEM) – - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; E. JAVIER RUBIERA CUERVO -  (pesquisa em andamento.)

“QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE”: no MARANHÃO[1] 

Desde a década de 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens” [2]. Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) [Jornal do Capoeira][3] esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas.  Destaca que desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente por homens: “Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: “ quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice”. (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).

Para Ferreti (2006)) [4], a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula[5]. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão.

 

Cuanhamas Éfundula
batuque homens

 

Cuanhamas Éfundula
dança nocturna

 

Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse que a dança das mulheres.

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. 

“Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite).

 

Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO

MUNDO. 2 ed.  Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005 p. 18

Encontramos em Angola um estilo musical popular - O Semba[6], que significa ‘umbigada’ em quimbundo - língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assente fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.

 

El Juego “Sisemba”- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA.  Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional [7]

De acordo com Mestre Bamba, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da Capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim (Maranhão-Brasil), uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”.

Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os “desafiantes” ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, ““provocando””, através de movimentos, como se o ““chamando””, e aplica alguns golpes com o joelho - a punga[8]:

  • ·Pungada na Coxa - também chamado ““bate-coxa””, aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a ““pernada carioca”” ou mesmo com o ““batuque baiano””;
  • ·Pungada Mole - o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege ““as partes baixas”” com as mãos...
  • ·Pungada Rasteira/Corda - semelhante à ““negativa de dedos (sic)””, de Bimba;
  • ·Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba.

[1] Incluímos aqui, a Capoeira no/do Maranhão, haja vista que o grupo de estudos formado pelo IPHAN ‘esqueceu-se’ (propositadamente?) de incluir este Estado como um dos berços da Capoeira no Brasil. O Maranhão é meu tema de pesquisa sobre a Capoeira, com a construção do ATLAS DA CAPOEIRA NO MARANHÃO, disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/marannhão:

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em 30 de setembro de 2009.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A GUARDA NEGRA. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print).

[2] VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em

http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf

http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc

http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629

http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905

http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc

http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/a-carioca-inicio-estudo

http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/category/capoeira/

[3] HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf.

Ver também:  http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609

[4] FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf

[5] O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".

[6] http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html. disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba

[7] Celebes (Sulawesi, em indonésio) é uma das Grandes Ilhas da Sonda, na Indonésia, situada entre Bornéu e as Molucas. Com cerca de 16,3 milhões de habitantes e 189 216 km², divide-se em cinco províncias: Gorontalo, Celebes do Norte (Sulawesi Utara), Celebes Central (Sulawesi Tengah), Celebes do Sul (Sulawesi Selatan) e Celebes do Sudeste (Sulawesi Tenggara). As maiores cidades de Celebes são Macáçar - possessão portuguesa entre 1512 e 1665 -, na costa sudoeste, e Manado, na ponta setentrional da ilha. Os primeiros europeus a alcançar a ilha foram os portugueses, em 1525. in http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lebes

[8] http://www.jornalexpress.com.br/

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