Leio nos jornais de hoje, que haverá o lançamçamento de um livro de ‘Memórias da capoeira” -do Professor e Mestre de Capoeira Roberto Augusto Pereira – “Roda de Rua:memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX”.
Será no Palácio Cristo Rei, às 19:00 horas – Praça Gonçalves Dias - em São Luis do Maranhão... Editado por incentivo do Ministério da Cultura, por meio do Edital ‘Capoeira Viva’; dos 120 trabalhos inscritos, três do Maranhão aprovados, sendo o livro – a ser lançado hoje – o único voltado para a pesquisa.
Memórias de Mestre Diniz…
O Autor diz que a Capoeira no Maranhão começa nos anos 70… Não lí o livro, apenas a sinopse dos jornais de hoje… mas nas memorias de Mestre Diniz afirma ser ela mais antiga… e é!
Iniciou nos anos 70 a Capoeira baiana, trazida por Sapo, que se consolidou como ‘bem imaterial do povo brasileiro’; Roberval Serejo era de outra escola… de uma capoeira ‘primitiva’, talvez por ser carioca, tenha suas raizes em Sinhozinho, ou mesmo Zuma, ou Hermany… Só lendo o livro…
A ‘Capoeira do Maranhão’ – sim, temos uma capoeira, e a raiz dela não é a baiana… embora a Angola tenha se consolidado – como em todo o resto do Brasil – e a Regional tenha se espalhado pelo mundo com suas grifes, temos uma ‘capoeira maranhense’, registrada desde a década de 20, dos 1800… tal qual, seu inicio, nos outros estados considerados os de surgimento dessa arte/luta: Rio de Janeiro e Bahia, correndo por fora Pernambuco. O que não é reconhecido pelo IPHAN, quando do registro de bem cultiral imaterial do povo brasileiro… esqueçeram – propositadamente!!!???? – do Maranhão??? ou foi para não dividir ‘a glória’???
Na linha do tempo estabelecida pelos estudos do IPHAN, uma grande leva de capoeiristas chegou ao Rio por volta de 1950 oriundos da Bahia [a diáspora da capoeira baiana, no entender de Lacé Lopes]. O mais importante deles foi Mestre Arthur Emídio, que trouxe um estilo de capoeira diferente, de movimentação veloz e marcialmente eficaz, mas que mantinha orquestração musical. Ainda na década de 50 a capoeira passou a ser retratada e divulgada por artistas como Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, entre outros. Nos anos seguintes, entre 60 e 70, ganhou espaço também nas produções artísticas do Cinema Novo, Tropicália e Bossa Nova. 37
Para os estudos do IPHAN, foi a partir de 1970 a capoeira se expandiu em larga escala pelo Brasil. A angola deve sua recuperação, em grande parte, à atuação de Mestre Moraes, aluno de Pastinha, a partir de 1980, com a fundação do Grupo Capoeira Angola Pelourinho, que fortaleceu sua prática na Bahia e a disseminou pelo centro-sul do país e no exterior. 37
Tivemos, no Maranhão, a Carioca: “Carioca” – uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX.
No Brasikl, data de 1770 a mais antiga referência da capoeira enquanto forma de luta, vinculado ao tempo do Vice-Rei Marquês do Lavradio no Rio de Janeiro, em que já havia o sentido de ‘amotinados’ aos seus praticantes (Edmundo, 1938, citado por Vieira, 2005) e de 1789 12 de abril – primeiro aparecimento da palavra capoeira escrita no registro da prisão de Adão, pardo, escravo, acusado de ser capoeira. [Nireu Cavalcanti, O Capoeira, Jornal do Brasil, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor)
O fenômeno das academias baianas trará uma nova conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática, especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro. Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa… Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Carvalhedo, in Jornal do Capoeira).
BATE-COXA – manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”.
BATUQUE - dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África.
PERNADA – Câmara Cascudo informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas.
Em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e “batiam” o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão.
Mestre Facão reporta-se ao jornalista português João Pinto Ribeiro de Carvalho (1858–1930), conhecido como Tinop, para quem a bagagem cultural dos capoeiras tinha enorme similitude com a dos fadistas portugueses. Ambos, além de cantar, eram excepcionais jogadores de navalhas e lutavam habilmente. Essa semelhança levou Tinop a fazer a categórica afirmação: “Os fadistas do Rio de Janeiro são os capoeiras” (Tinop, 1982, p. 50).
Desde a década de 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens” . Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) [Jornal do Capoeira] esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas. Destaca que desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente por homens: “Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: “quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice”. (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).
Para Ferreti (2006), a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão.
Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira.
Aceitamos, para este estudo o que afirmam Adid (2009) e Luiz Renato Vieira (1998) que antropólogos, como Herskovits, têm apontado para a existência de “danças de combate” que trazem semelhanças com aquilo que conhecemos hoje como capoeira, não só na África – como o Muringue, em Madagascar -, como também em vários pontos da América, nos locais em que a diáspora negra se instalou. Relatos sobre o Mani em Cuba, e a Ladja na Martinica são dois exemplos dessas práticas. Sobre a Ladja, Vieira mostra a impressionante semelhança com a capoeira, verificada não somente do ponto de vista da execução de movimentos e golpes, como, o que é mais importante, o fato de congregar aspectos lúdicos, musicais (pratica-se ao som de atabaques) e de combate corporal.
Concordamos com Almeida e Silva (?) , para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semi-verdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998). Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas. Castro (2002) nos esclarece esse fato e diz que em todos os casos de fenômenos da cultura corporal existe a tentativa, por parte dos seus atores, de expressar identidade, coesão e estabilidade social em meio a tantas situações de rápida transformação histórica/social, “através do recurso à invenção de cerimônias e símbolos que evocam continuidade com um passado muitas vezes ideal ou mítico” (p.11).
Para Soares (2001), há todo um debate envolvendo a origem da capoeira, de onde ela veio etc. Embora a capoeira do século 19 tenha passado por um período fortemente escravista, com uma população africana muito grande, a origem está no século 18, nos primórdios da sociedade urbana. A capoeira é um fenômeno urbano, que anuncia uma leitura de negros africanos e crioulos para o mundo urbano colonial.
Para a capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira e criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte.
CAPOEIRA ANGOLA – a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano.
CAPOEIRA REGIONAL – é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil.
CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”:
- CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro;
- ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros;
- ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998).
O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em “http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula“.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em
http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf
http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc
http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629
http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905
http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc
http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/a-carioca-inicio-estudo
http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/category/capoeira/
Ver também: http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609
Rubiera para Sala de Pesquisa – Internacional FICA
http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier
ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. CAPOEIRA ANGOLA: CULTURA POPULAR E O JOGO DOS SABERES NA RODA. Origens de uma tradição, disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/04/capoeira-angola_18.html
ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. e-mail: julazal@yahoo.com.br
CASTRO, Celso. A invenção do Exército brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2002.
CAVALHEIRO, Carlos Alberto in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em Porto Feliz. in La Insignia, 2007 disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho – Cantadores – o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) – Linc – 2000
FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Fluxos e refluxos da capoeira: Brasil e Portugal gingando na roda. In Análise Social, vol. XL (174), 2005, 111-133, disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n174/n174a05.pdf
FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 – A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS – São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf
HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf.
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/out2001/unihoje_ju167pag22.html
ter, 15/12/09 por leopoldovaz | categoria A VISTA DO MEU PONTO, Capoeira, Sem Categoria, VISITANDO O MARANHÃO http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/Comentários
Nenhum comentário realizado até o momentoPara comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.