O ano de 1989 marcou o início de um jogo ideológico na comunidade acadêmica das Ciências do Esporte em nome de uma virada paradigmática. Vinte anos depois, devemos indagar sobre os ganhadores e perdedores desse jogo... Precisamos aprender com os erros e acertos desse processo institucional... A teoria da curvatura da vara serviu para fazer avançar a produção do conhecimento no âmbito das Ciências do Esporte? Como este jogo afetou educadores, profissionais e pesquisadores que estavam envolvidos com a construção de uma nova história para a Educação Física no Brasil? Sabemos que o fair play passou longe desse jogo... Como as regras foram sendo alteradas? Quem são os ganhadores? Os perdedores são muitos! Lamentavelmente, a vara foi curvada para o outro lado... Vinte anos depois, perguntamos, e agora? O que fazer? Com quem fazer? Para que fazer?
Comentários
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Laercio Elias Pereira
em 11 de Setembro de 2009 às 13:02.
Katia, Pessoal,
Acho que, além desse jogo teve a mudança de estatudo durante a SBPC de Goiânia, em que a turma forçou no estatuto o "circunscrito" à área de Educação Física. Acho que esse foi o ápice do aparelhamento. Depois houve uma aliviada durante a SBPC de Florianópolis, mas hoje os mais jovens nem imaginam que o CBCE é de Ciências do Esporte, e não só de Educação Física. Temos hoje menos sócios no CBCE do que em 1985. Gostaria de ter os números de quantos éramos em 1895 e quanto somos hoje. Laercio.
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Katia Brandão Cavalcanti
em 11 de Setembro de 2009 às 15:21.
Laercio e demais participantes,
Estou usando o termo jogo no sentido real e metafórico. Quando me refiro a alteração das regras, isto abrange evidentemente a mudança de estatuto e outros procedimentos de apoio institucional... Hoje, poucos lembram o que aconteceu no CONBRACE em Brasília. São tantos detalhes ideológicos interessantes durante este período que bem mereceria uma tese: CBCE - A HISTÓRIA QUE NÃO SE CONTA...
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Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 12 de Setembro de 2009 às 10:03.
Katia, Pereira, demais... repliquei a postagem da Kátia em meu Blog http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/, inserindo um comentário, que vai abaixo:
EM TEMPO: para aqueles que não conhecem as histórias de lutas da Educação Física/Ciência dos Esportes/Ciências do Esporte o Maranhão teve uma importante participação nesse processo, com dois dos mais atuantes professores de Educação Física - Laércio Elias Pereira e Lino Castellani Filho, ambos ligados à época à Universidade Federal do Maranhão.
Embora sempre trabalhando juntos e em conjunto, Laércio e Lino, em um dado momento, separam-se no campo ideológico, mas não no da luta por uma Educação Física/Ciências do Esporte respeitada no campo academico, com um respaldo científico - É a Educação Física uma Ciência?
A atuação de ambos, junto com tantos outros que se ombrearam a eles, tornou-se um ponto paradigmático - rompimento - com os antigos valores...
A provocação da Kátia, com ’a história que não se conta’ é uma alusão à obra máxime de Lino. Mas não devemos nos esquecer que a Fernanda Paiva escreveu ’Ciência e poder simbólico no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (Vitória: UFES/CEFD, 1994); depois da Fernanda, tivemos várias obras e posicionamentos do Lino acerca da atuação do CBCE... e especialmente, primeiro a favor e depois contra (denuncias...) sobre a área no Governo ’das menas laranjas"...
realmente, Kátia e Pereira, aos trinta anos, houveram muitas marchas e contramarchas e o posicionamento do CBCE em algumas questões dividiu o ’público’, ao invès de reunir - colégio/colegiado - sentido que o ManoPereira pensou em dar ao organismo, hoje, um ente...
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Katia Brandão Cavalcanti
em 20 de Setembro de 2009 às 16:15.
XVI CONBRACE – PAINEL LITERÁRIO
Fui convidada para participar do Painel Literário com autores de livros publicados na década de 80. Aceitei o convite, respondendo formalmente a mensagem a mim encaminhada pelo CBCE para o email do CNPq. Fiz também contato imediato com a pessoa responsável indicada pelo CBCE para as respectivas providências de passagem e hospedagem em Salvador. Depois de algum tempo, o professor César fez um contato telefônico para confirmar o convite, esclarecer sobre a participação dos autores no Painel, definir a data de viagem e permanência durante o evento, informando que eu deveria aguardar um novo email com os devidos encaminhamentos. Como a data do congresso foi se aproximando, fiz vários contatos por telefone com a senhora Bárbara, da referida empresa de eventos, mas a resposta foi sempre a mesma: aguarde email com as respectivas informações. Até hoje, dia da abertura do congresso, não recebi nenhuma informação relativa à minha participação no referido Painel Literário. Hoje, também liguei para o hotel do evento, onde ficariam hospedados os convidados, mas recebi a informação que não havia nenhuma reserva no meu nome, nem para hoje e nem para amanhã, dia 21/09, dia da apresentação do referido Painel Literário.
Portanto, quero tornar público que a minha ausência no Painel Literário do XVI CONBRACE, previsto para amanhã, 21 de setembro de 2009, não se deve a recusa de minha parte, mas vincula-se à mudança na programação do evento que caberá a organização responder por que excluiu o meu nome do referido Painel Literário. Restrição ideológica? Eis a questão! Para mim, trata-se da problemática paradigmática que emergiu muito intensamente a partir do CONBRACE, em Brasília, que mencionei quando abri o debate no CEV CBCE 30 ANOS: “CBCE – 1989: Um Jogo Ideológico, 20 anos depois...” http://cev.org.br/comunidade/cbce-30anos/debate/cbce-1989-um-jogo-ideologico-20-anos-depois
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Luciano Galvão Damasceno
em 4 de Julho de 2010 às 16:16.
Olá, professores (Laércio, Kátia, Leopoldo e demais),
Eu não consigo compreender uma questão: Qual é o jogo ideológico? Jogo ideológico é uma abstração. Se não há um esclarecimento, podemos entender da forma como nos agrada. O que estava em jogo na eleição de 1989? A professora Kátia Cavalcanti fala de 1989, como o ano em que houve uma luta ideológica no CBCE, e a partir de então passou a haver uma restrição ideológica, mas não põe os pingos nos "is". Ou seja, é preciso especificar.
A posição do professor Laércio é mais clara, embora eu não concorde, pois não vejo a ampliação das Ciências do Esporte (no sentido contido no 1º editorial da RBCE) academicamente. Os estudos das chamadas Ciências do Esporte ainda se restringem às clássicas disciplinas das chamadas ciências duras (naturais/biológicas). É só observarmos os congressos de Ciências do Esporte (o que ocorrerá na Espanha, os da Unicamp, os do Celafiscs, etc.) Não estou dizendo que o CBCE não se restringiu à EF. Isso é uma constatação. Mas, até em que ponto a EF se ampliou para as temáticas das Ciências Sociais e Humanidades? Até que ponto a criação dos GTTs impactou na área acadêmica? Até que ponto há espaços para as pesquisas ligadas à chamada Ciências do Esporte no Conbrace/RBCE?
Pode ser que a EF (como prática pedagógica e área acadêmica) tenha o seu espectro ampliado nesses anos mais do que as Ciências do Esporte. É preciso estudar. Mais que isso, é preciso pensarmos se a gestão do Tartaruga trará um possibilidade de reflexão acerca destas questões, no sentido de superarmos (com conservação do que é necessário) a cisão e a departementalização da ciência no Colégio. Isso não pode ser entendido como a supressão da ideologia, da política, etc., isto é, do incentivo à clássica neutralidade política e cientifica.
Até mais,
Luciano
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Katia Brandão Cavalcanti
em 4 de Julho de 2010 às 17:59.
Prezado Luciano,
Quem viveu a construção do CBCE, sentiu perfeitamente o impacto desse momento de 1989 no CONBRACE em Brasília. Até então, as áreas biológicas e pedagógicas dialogavam na medida do possível. O ponto de mutação foi a envergadura da vara para o outro lado, negando até certo ponto o processo de construção do CBCE por dentro da Medicina Esportiva. A partir daí, a ênfase pedagógica começou a perder as suas raízes biológicas... A concepção ideológica muda completamente e direcionará a gestão do CBCE por um longo período. A história aí está para ser interpretada. Quais as lições que podemos aprender com esta história institucional? Para quem estuda História da Educação Física poderia se dedicar a investigar esta trajetória. Confesso que isso me entristeceu muito e que ainda hoje não me sinto bem ao lembrar dessas manobras políticas que contribuíram para a fragmentação da comunidade dos pesquisadores das Ciências do Esporte, No momento, desejo que as mudanças da política institucional do CBCE possam agregar mais os pesquisadores de diferentes áreas específicas do que afastá-los. Para mim, Educação Física, Esporte, Lazer deveriam merecer mais atenção de comunidades transdisciplinares. Lamento, a visão que restringe aos profissionais de Educação Física. Isto só dificulta o avanço da área. Entretanto, acredito que por saturação, um salto quântico esteja próximo de ocorrer. Estamos com a responsabilidade de sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e depois os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Isto demandará novas reflexões sobre o fenômeno esportivo, sobre o processo educacional e sobre as instituições envolvidas. Continuo otimista e esperançosa com as mudanças estruturais necessárias para a reconfiguração de uma instituição científica que possa representar toda a diversidade de interesses de pesquisa como a Educação Física e o Esporte exigem.
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Paulo Sergio Chagas Gomes
em 25 de Agosto de 2011 às 13:01.
Muito interessante ver os comentários. Parece-me que há muito o CBCE deixou de ser esporte e se tornou apenas Educação Física. Certo ou errado, isto foi decisão da maioria e precisa ser respeitado (apesar de eu estar do lado contrário à época). A eleção daquela época foi significativa para o futuro do CBCE. Alguns de nós ficaram fora daquela data em diante, por decisão propria ou excluído pelo lado que prevaleceu. O processo democrático nem sempre toma a decisão que se mostrará mais acertada no futuro. Ganhamos por um lado e certamente perdemos por outro. A interdcisciplinaridade do CBCE foi prejudicada (se bem que ainda estava em construção). Os objetivos do CBCE mudaram conforme entendimento dos que à época lideravam Ainda me lembro a famosa frase "Qual a sua visão de mundo?". Quem sabe um dia não repensamos mais uma vez o CBCE e atualizemos. De qualquer maneira foi ótimo fazer parte da fundação. Abs. a todos. Paulo Gomes
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