Pessoal, vamos guardar esse documento de história da Educação Física? Os originais estão no Blog do João Freire http://blog.cev.org.br/joaofreire/2010/jorge-bento-e-manuel-sergio/

Jorge Bento e Manuel Sérgio

Jorge Bento e Manuel Sérgio: exerceram papel fundamental na Educação Física brasileira, ambos batizando-a com nomes diferentes: do lado de Manuel Sérgio, Motricidade Humana; do lado de Jorge Bento, Desporto. Amissíssimos do Brasil e dos brasileiros, exerceram, entre eles, antagonismos e animosidades. Professores portugueses e brasileiros pegaram carona na querela. Acontece que, por exemplo, no caso do Prof. Manuel Sérgio, seu papel no Brasil é bastante diferente de seu papel em Portugal. Veio ao Brasil em um momento crucial de mudanças: nossa ditadura perdia fôlego e uma outra educação era necessária, e ele participou da nova construção. Manuel Sérgio reivindica uma nova ciência, a da Motricidade Humana. Há algo para ele que ainda não foi pesquisado, qual seja, a faculdade humana de se mover para realizar a vida. Exceto, por exemplo, fungos e plantas, os seres vivos, de modo geral, realizam a vida movendo-se. No caso dos homens, há um conjunto muito particular de coordenações, a que chamamos motricidade, que realiza a intenção de viver. Por exemplo, neste instante, posso escrever tudo isto sem que seja necessário pensar sobre cada gesto de meus dedos, porque tenho a intenção de escrever isto, e essa intenção me anima e me orienta, bem como quando ando pelas ruas, ou quando converso com alguém. Essa maneira especial de viver, essa maneira humana, é o que Manuel Sérgio chama de Motricidade Humana, e isto ainda não teria sido investigado. Dentro desse campo haveria uma pedagogia que educaria  com base nesses conhecimentos, e que se chamaria Educação Física ou Educação Motora, talvez Educação Corporal.

Da parte de Jorge Bento, a questão é mais aparentemente cultural, pois trata-se de considerar os conjuntos motores que dão vazão à dimensão lúdica humana. Essas manifestações culturais, particularmente lúdicas, são chamadas por Bento de desporto. Ou seja, desporto, para ele, não é apenas aquilo que atletas praticam regulados por regras internacionais, mas sim todas as nossas manifestações lúdicas, tais como as brincadeiras infantis, nosso circo, nossas festas, nossas danças. E tudo isso, se tem sido investigado pela antropologia, pela sociologia, pela psicologia, entre outras ciências, enquanto manifestações lúdicas não, falta-lhes ciência. Haveria, portanto, uma ciência que investigaria o desporto, não do ponto de vista antropológico, ou sociológico, mas do ponto de vista do desporto, do lúdico. Para Bento, o desporto não é sociologia, não é psicologia, não é antropologia; o desporto é desporto. De fato, pouco se sabe sobre o lúdico humano, e o que há, raro, é pobre de modo geral.

Muitos se opuseram a Jorge Bento e a Manuel Sérgio, no Brasil e em Portugal. Quase sempre, por paixão, por não gostar de um ou de outro, mais que por entreveros intelectuais. Vi muita gente dizer que não gostava de Manuel Sérgio, de suas ideias, mas sem opor-lhes qualquer coisa razoável. Sobre Bento também.

Esse é um problema do mundo acadêmico: as divergências acabam descambando para o lado pessoal e o debate fica pobre. Nós, os brasileiros, que saibamos ser gratos pelo amor que esses pensadores têm pelo Brasil e pelos brasileiros e que saibamos aprender com as tantas lições que já nos deram.

Por João Freire
em 28-05-2010, às 11:00


Categorias:
Campanha pela implantação da Educação Física no Brasil.

Comentários

Agradeço ao João a referência elogiosa que faz ao meu nome. Isso é o essencial. Quanto à apresentação das linhas e referências estruturantes do meu pensamento e da minha visão, o texto do João contém alguns desvios substanciais. Todavia o importante é a intenção que o orienta, assim como o apreço recíproco que cultivamos. Muito obrigado pela sua generosidade!
Um abraço cordial para ele e para todos os leitores.

Por Jorge Olímpio Bento
em 28-05-2010, às 16:18.


Querido amigo: desculpe-me pelos desvios, porém, o blog não comporta análises extensas. Deixo-lhe espaço para um texto que possa dar aos leitores uma ideia mais adequada de seu pensamento. Creio que, em linhas gerais, o que escrevi não está mal. Um abraço.

Por João Freire
em 28-05-2010, às 18:21.


Muito agradeço ao João a referência elogiosa ao meu nome. Tenho por ele uma profunda amizade e um superior apreço. Isso é o essencial e vale para descontar as imprecisões do texto, tais como:

1. Não tenho qualquer animosidade com o Prof. Manuel Sérgio. Neste fim-de-semana estive com ele num simpósio realizado na ilha da Madeira. Não somente almoçamos e jantamos lado a lado, como também tivemos longas e íntimas conversas, marcadas por um registo de cordialidade e consideração recíprocas.

2. O meu entendimento do desporto e das ciências do desporto não corresponde à interpretação que o João apresenta no texto. O desporto e as restantes formas culturais do movimento humano não são categorias de interpretação e esclarecimento de nada; ao invés, carecem de categorias externas para a sua compreensão.

Todavia, como disse acima,quero sobretudo expressar ao João a minha gratidão pela referência elogiosa ao meu nome. Bem haja!
Um abraço cordial aos leitores.
Jorge Bento

Por Jorge Olímpio Bento
em 30-05-2010, às 18:02.


Meu querido amigo
Quero agradecer-lhe o facto de ter-se lembrado de mim, pelo pouco que o Brasil me deve – é que eu devo muitíssimo mais ao Brasil e aos brasileiros, em ternura, em compreensão, em generosidade. Se não tivesse trabahado no Brasil, não seria a pessoa que sou. Confirmo que o Jorge Bento e eu somos hoje dois amigos! Nem fazia sentido que dois “homens de boa vontade” não fossem capazes de criar uma relação fraterna, muito para além de uma incompreensão mesquinha. É aliás isto o que o Brasil exige a todos os que dizem amá-lo: que sejamos cordiais, como a alma brasileira o é!
Ex corde
Manuel Sérgio

Por Manuel Sérgio
em 31-05-2010, às 15:52
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Comentários

Por Marcelo Pereira de Almeida Ferreira
em 2 de Junho de 2010 às 14:02.

Boa tarde....

Também presenciei, até em tempos recentes - por exemplo, no Congresso Internacional de Educação Física, Esporte, Saúde e Lazer, realizado em maio de 2009, na UFPA - a indisposição para o debate rico.

Interessante é que, por vezes e tantas, apenas a identificação com "qual referência" se tem este ou aquele trabalhador, pesquisador, acadêmico, estudante, militante da Educação Física já lhe fecham portas do debate, esvaziam o debate, chegam até a faltar publicamente com o respeito no debate.

Fico feliz (em que pese minhas diferenças acadêmicas, intelectuais e conceituais com os protagonistas desta mensagem) em ver e testemunhar o chamamento para o debate rico por parte do Professor João Batista.

Vida Longa!

Prof. Marcelo "Russo" Ferreira

Prof. Msc. UFPA/Castanhal - Secretário Estadual CBCE/PA - Coordenador-adjunto GTT Movimentos Sociais/CBCE - Coordenador MNCR


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