Pessoal,

A notícia sobre a má administração do Ministério do Esporte saiu ontem. Apenas 13% do orçamento dessa pasta foram investidos em 2010. Alguém sabe dizer o porquê desse despropósito?

Comentários

Por Adriano Pires de Campos
em 22 de Dezembro de 2010 às 12:26.

O link p/ essa reportagem é http://migre.me/37znp

Por Lino Castellani Filho
em 22 de Dezembro de 2010 às 15:52.

Adriano

Demais colegas

Tenho dúvidas sobre a pertinência dessa notícia. Explico: O orçamento da União não tem caráter normativo; Assim sendo, o executivo aprova a mensagem orçamentária originária do Congresso Nacional, mas passa a executá-lo a partir da lógica do Ministério do Planejamento. Por sua vez, ele (Ministério do Planejamento) faz uso do mecanismo de "contingenciamento"... É algo mais ou mesmo assim: "sei que vocês tem ’direito’ a "$X", mas neste momento libero pra você "-$X"... Ao longo do ano, se as coisas melhorarem, eu vou lhe dando mais alguma coisa..."

Quero dizer com isso que temos que fazer as contas a partir do valor efetivamente disponibilizado ao ME, e a partir dai ver o que ele conseguiu, de fato, executar...

Abraços

Lino

Por Adriano Pires de Campos
em 22 de Dezembro de 2010 às 19:39.

Caro Lino,

Visitei o site do SIAFI - Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal - para verificar as informações da reportagem sobre o balanço financeiro do Ministério do Esporte em 2010. O que encontrei foi o seguinte (segue na tabela abaixo ou em http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/execucao.asp)

1. Restos a pagar efetivamente pagos pelo Ministério do Esporte em 2010: R$ 415.383.720,06.

A reportagem afirma que "restos a pagar" significa "contas do ano passado", dizendo que foram 423 milhões utilizados nesse item, quando foram, na verdade, 415 milhões. Entendo que "restos a pagar" sejam os compromissos assumidos em 2009 c/ vencimento em 2010. Até onde sei, esse item está correto, pois são compromissos empenhados em 2009 que recaíram em 2010.

2. A reportagem afirma que a dotação autorizada para gasto do Ministério do Esporte foi de 2 bilhões, o que confere com a planilha do SIAFI. No entanto, se somarmos a coluna "Despesa Empenhada" em 2010 com "Despesa Executada" em 2010, chegaremos aproximadamente R$ 960 milhões, ou seja, parece que foi esse o gasto do Ministério em 2010. Trocando em miúdos, foi menos da metade do orçamento autorizado para a pasta.

Diante disso, ainda fica a questão: por que mais da metade do orçamento autorizado para o ano não foi investido?

Órgão: MINISTÉRIO DO ESPORTE

PROJETO/ATIVIDADE

DOTAÇÃO AUTORIZADA

DESPESA EMPENHADA

DESPESA EXECUTADA

   DESPESA PAGA

  RESTOS A PAGAR PAGOS

00AK - TRANSFERENCIAS A CLUBES SOCIAIS

 927

   927

 720

   720

   74

 

00F6 - PARTICIPACAO DA UNIAO NO CAPITAL - EMPRESA BRASILEIRA DE LEG

 10.000

   10.000

 10.000

   10.000

    -

 

09HW - CONCESSAO DE BOLSA A ATLETAS

 20.000

   15.803

 15.244

   15.244

   30.425

 

1055 - IMPLANTACAO E MODERNIZACAO DE CENTROS CIENTIFICOS E TECNOLOG

 6.000

   1.950

 1.086

   1.024

   150

 

126V - IMPLANTACAO DE CONTROLE DE ACESSO E MONITORAMENTO NOS ESTADI

 28.230

   5.842

 780

   780

    -

 

128X - APOIO A IMPLANTACAO DE INFRAESTRUTURA PARA OS JOGOS OLIMPICO

 349.000

   7.661

 6.642

   6.642

    -

 

1D72 - IMPLANTACAO DE INFRA-ESTRUTURA TECNOLOGICA PARA A REALIZACAO

  -

    -

  -

    -

   106

 

2000 - ADMINISTRACAO DA UNIDADE

 44.355

   41.238

 33.495

   33.492

   4.846

 

2003 - ACOES DE INFORMATICA

  -

    -

  -

    -

   181

 

2004 - ASSISTENCIA MEDICA E ODONTOLOGICA AOS SERVIDORES, EMPREGADOS

 462

   378

 257

   257

    -

 

2010 - ASSISTENCIA PRE-ESCOLAR AOS DEPENDENTES DOS SERVIDORES E EMP

 55

   30

 30

   30

    -

 

2011 - AUXILIO-TRANSPORTE AOS SERVIDORES E EMPREGADOS

 245

   202

 202

   202

    -

 

2012 - AUXILIO-ALIMENTACAO AOS SERVIDORES E EMPREGADOS

 1.111

   979

 979

   979

    -

 

20CW - ASSISTENCIA MEDICA AOS SERVIDORES E EMPREGADOS - EXAMES PERI

 26

    -

  -

    -

    -

 

20D8 - PREPARACAO E ORGANIZACAO DOS JOGOS OLIMPICOS E PARAOLIMPICOS

 130.000

   17.743

 6.412

   6.412

    -

 

20DB - APOIO A REALIZACAO DA COPA DO MUNDO FIFA 2014

 17.400

   3.894

 2.757

   2.757

    -

 

20EE - GESTAO E ADMINISTRACAO DA AUTORIDADE PUBLICA OLIMPICA - APO

 48.000

    -

  -

    -

    -

 

2272 - GESTAO E ADMINISTRACAO DO PROGRAMA

 12.290

   9.616

 7.617

   7.617

   5.537

 

2352 - PRODUCAO DE MATERIAL ESPORTIVO POR COMUNIDADES EM SITUACAO D

 13.465

   8.961

 6.551

   6.551

   2.073

 

2358 - FUNCIONAMENTO DE NUCLEOS DE CATEGORIAS DE BASE DO ESPORTE DE

 9.490

   3.710

 491

   491

   650

 

2360 - CAPTACAO DE EVENTOS ESPORTIVOS INTERNACIONAIS DE ALTO RENDIM

  -

    -

  -

    -

   2.120

 

2362 - PRODUCAO DE MATERIAL ESPORTIVO POR DETENTOS - PINTANDO A LIB

 4.500

   3.680

  -

    -

    -

 

2366 - CAPACITACAO DE GESTORES DE ESPORTE E DE LAZER

 1.948

   1.925

 1.923

   1.923

   500

 

2426 - FOMENTO A PESQUISAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLITICAS SOCI

 1.112

   671

 282

   267

   685

 

2428 - PROMOCAO DE EVENTOS CIENTIFICOS E TECNOLOGICOS VOLTADOS AO D

 620

   257

 249

   249

    -

 

2448 - SISTEMA CENTRO DE DOCUMENTACAO E INFORMACAO DO MINISTERIO DO

 209

   190

 112

   112

   77

 

2456 - CAPACITACAO DE RECURSOS HUMANOS PARA O ESPORTE DE ALTO RENDI

 2.000

   806

 785

   785

   79

 

2490 - PROMOCAO E PARTICIPACAO EM COMPETICOES INTERNACIONAIS DE ALT

 5.237

   4.911

 3.494

   3.494

   199

 

2494 - REALIZACAO DOS JOGOS DOS POVOS INDIGENAS

 100

   95

 95

   95

    -

 

2500 - PROMOCAO DE EVENTOS ESPORTIVOS NACIONAIS DE ALTO RENDIMENTO

 9.500

   7.633

 4.372

   4.372

   755

 

2600 - AVALIACAO DAS POLITICAS PUBLICAS E DE PROGRAMAS DE ESPORTE E

 12.357

   12.233

 11.979

   11.979

   3.035

 

2626 - PROMOCAO DE EVENTOS DE ESPORTE EDUCACIONAL

 8.160

   6.548

 5.697

   5.697

   31

 

2667 - FUNCIONAMENTO DE NUCLEOS DE ESPORTE RECREATIVO E DE LAZER

 54.229

   15.401

 5.668

   5.564

   13.622

 

2C60 - DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES ESPORTIVAS RECREATIVAS E DE LA

 2.630

   1.922

 182

   181

   910

 

4377 - FUNCIONAMENTO DE NUCLEOS DE ESPORTE EDUCACIONAL

 191.555

   113.828

 34.871

   33.871

   81.871

 

4572 - CAPACITACAO DE SERVIDORES PUBLICOS FEDERAIS EM PROCESSO DE Q

 300

   162

 119

   119

   35

 

4641 - PUBLICIDADE DE UTILIDADE PUBLICA

 6.250

   3.285

 2.588

   2.588

   3.140

 

5069 - IMPLANTACAO DE INFRA-ESTRUTURA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESP

  -

    -

  -

    -

   942

 

5450 - IMPLANTACAO E MODERNIZACAO DE INFRA-ESTRUTURA PARA ESPORTE R

 986.040

   470.069

 1.571

   1.571

   240.586

 

6770 - REMUNERACAO AS INSTITUICOES FINANCEIRAS PUBLICAS PELA OPERAC

 1.000

   118

 64

   64

   4

 

8003 - DETECCAO E AVALIACAO DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO

 8.800

   1.898

 924

   924

   468

 

8238 - PARTICIPACAO DE CRIANCAS, ADOLESCENTES E JOVENS EM ATIVIDADE

 2.200

   1.947

 1.747

   1.747

    -

 

8284 - DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE GESTAO COMPARTILHADA DO ESPORT

 385

   326

 268

   268

   40

 

8360 - DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES ESPORTIVAS EDUCACIONAIS

 1.700

   1.062

 1.062

   1.062

   2.272

 

8473 - PROMOCAO DE EVENTOS INTERDISCIPLINARES DO ESPORTE RECREATIVO

 25.895

   2.200

 2.200

   2.200

    -

 

8497 - CONCESSAO DE PREMIO DE LITERATURA DO ESPORTE RECREATIVO E DO

 375

   73

 39

   39

    -

 

8766 - IMPLANTACAO E MODERNIZACAO DE INFRA-ESTRUTURA PARA O ESPORTE

 65.674

   50

  -

    -

   1.000

 

8767 - IMPLANTACAO DE INFRA-ESTRUTURA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESP

 18.590

   9.192

 700

   700

   18.970

 

TOTAL

 2.102.422

   789.416

 174.252

   173.066

   415.384

 

Por Aldemir José Ferreira Teles
em 22 de Dezembro de 2010 às 23:30.

Olá, este é o debate pelo qual eu estava torcendo para que ocorresse. Comentei aqui no CEV, recentemente, o quanto me incomoda o silêncio da comunidade esportiva do país quando se trata do debate sobre a política de esporte no país, suas lacunas, a gestão, a atuação dos gestores, as perspectivas etc. Mesmo admitindo que tal discussão exista nesta comunidade, de qualquer forma implícita ou explicitamente, penso que seria interessante marcar alguns posicionamentos. Não necessariamente consensos, pois a diversidade de opinião precisa existir. Entendo também a necessidade de evitar que palanques partidários sejam erguidos, não sei se possível, mas valeria um certo esforço. Tenho sugerido a alguns amigos que parem de olhar o mundo a partir da cartilha do partido, várias obsoletas, com prazo de validade vencido. Assim será possível ver o mundo com um olhar mais real e reafirmar alguns princípios.

Tenho dito e repetido: chega de falsos "gestores" que se utilizam do esporte para promoção política e outros fins de caráter privado, às vezes ilícitos; que não entendem a magnitude do fenômeno, nem querem entender; na gestão, o esporte para quem é do esporte , aqueles que possuem o sentimento e o entendimento do esporte, graduados ou não em educação física.  

Enfim, a questão do orçamento, com ou sem contigenciamento, é um sintoma do fracasso da gestão. Vários outros exemplos poderiam ser citados. Em Pernambuco, do orçamento de 22 milhões em 2010, não foram gastos sequer 8 milhões. Contigenciamento? Não. Falta de projetos, segundo o secretário estadual. Depois de quatro anos de gestão. Coincidência ou não pertence ao mesmo partido do ministro do esporte atual e futuro.

Uma pequena história: tive um treinador de futsal (o amigo Betoca), na minha adolescência, que nos momentos em estávamos mal no jogo dizia que parecíamos "bois de curral". Porque o cercado é frágil e não impederia o boi de derrubá-lo e fugir, mas o boi não sabe da força que tem, permanecendo passivo. A historinha é apenas para comunicar que nós temos o conhecimento, o sentimento e a força para construirmos uma história diferente para o esporte brasileiro. Depende de nós.

Abraço a todos.  

Por Adriano Pires de Campos
em 23 de Dezembro de 2010 às 13:17.

Aldemir,

Concordo com você, espero que um dia a política pública seja administrada sem interesses pessoais ou exclusivamente partidários.

É interessante (e trágico) saber que em Pernambuco foram gastos 30% do orçamento., É muito difícil acreditar que faltam projetos após 4 anos de governo. Aliás, a justificativa "falta de projetos" é antiga, já ouvi esse discurso várias vezes, só não ouço os gestores dizerem que sobraram propostas de desenvolvimento em nossa área.

Tenho uma sugestão para nos afastarmos um pouco da posição de "bois de curral". Que tal tomarmos essa aparente má execução orçamentária do Ministério do Esporte em 2010 para irmos a fundo na questão? Achei importante a manifestação do Lino Castellani, mas ainda não temos a resposta completa. Vamos provocar mais?

Abraços,

Por Lino Castellani Filho
em 23 de Dezembro de 2010 às 13:52.

Prezados Aldemir e Adriano

Demais colegas da Comunidade

Não é de se estranhar a ausência de interesse por assuntos como esse que estamos tratando... Temos hoje em nosso país algo ao redor de 960 cursos superiores de formação em Educação Física, 21 programas de pós-graduação em nível de mestrado e 11 de doutorado... Tenho convicção de que os de graduação destinam menos de 5% de sua carga horária para conteúdos associados à gestão de políticas em EF, Esporte e Lazer... Isso sem entrar no mérito de como esse tema vem sendo tratado nos cursos onde se faz presente... Na pós-graduação o avanço é notório, mas ainda insuficiente e incipiente...

O esforço realizado pelo Aldemir merece aplausos! Lidar com o Siafi requer estômago de avestruz (rss)...

Partamos então da tese de que os valores lá presentes de fato foram disponibilizados para execução a se ralizar pelo ME... O passo seguinte seria mapear as ações (destinatárias dos recursos) localizando-as nos programas orçamentários concernentes ao PPA do ME para, em seguida, localizar a instância do ME (Secretarias Nacionais, Secretaria Executiva...) responsável pela gestão do Programa orçamentário... Ai poderíamos atestar o grau de execução orçamentária do ME programa a programa, nominando os gestores responsáveis por eles...;

Mas isso não basta... Temos que aferir o porquê da não execução... Se o "nó" se deu na instância do ME ou naquela destinatária dos recursos (governos, estaduais, municipais, ONGs...).

Não resta dúvida do quâo trabalhoso é estudo dessa natureza, mas é assim... E fico satisfeito em encontrar pessoas como vocês atentas à essa complexidade.

Continuemos a conversa.

Abraços

Lino   

Por Adriano Pires de Campos
em 23 de Dezembro de 2010 às 15:14.

Caro Lino

Como professor universitário, sou testemunha do escasso conteúdo curricular voltado à administração e gestão esportiva. Pior que isso, no entanto, é ver as disciplinas existentes passarem longe da discussão sobre políticas públicas, apenas retringindo-se a temas como "organização de campeonatos" e "elaboração de tabelas de jogos".

Compreendi bem a explicação que nos deu sobre todos os caminhos que os recursos do orçamento federal percorrem. Para uma análise coerente da execução orçamentária, seria mesmo necessário localizar cada instância e cada gestor de secretaria para concluirmos, com algum grau de certeza, as razões de um orçamento não concluído.

Atualmente, sou um dos gestores de um projeto em parceria com a prefeitura de São Paulo. Somos auditados e fiscalizados mensalmente, para que nenhum centavo seja motivo de controvérsia sobre o destino de sua aplicação. Caso tenhamos de devolver dinheiro, é uma luta imensa para justificarmos a razão do não investimento social. Diante disso, meu espanto permanece quando me deparo com um orçamento não realizado, ainda que você tenha razão em suas considerações.

Abraços,

Adriano

Por Roberto Affonso Pimentel
em 23 de Dezembro de 2010 às 16:07.

Senhores Professores,

Como é agradável acompanhar uma discussão em tão alto nível. Parabéns a todos que participam.

Mas tenho uma resposta para a pergunta lá de cima:"Alguém sabe dizer o porquê desse despropósito?"

Muitos anos de vida às vezes nos levam a "frequentar a sacristia", isto é, vivenciar certas coisas que ocorrem nos bastidores e, ainda que não vejamos tudo, podemos nos aperceber e deduzir o que ocorre. Evidentemente, são suposições, mas que se aproximam da realidade.

O cargo de ministro é essencialmente político. Como não este que aí está também não entende do assunto, ele passa a se aconselhar em quem ele pensa que sabe, no caso o Nuzman (COB). Presenciei uma das reuniões em que emissário de Brasília esteve colhendo subsídios dos "técnicos" do COB, composto por muitos ex-atletas, ex-..... quase todos sem formação acadêmica. Em suma, por sua grande influência no desenvolvimento profissional do voleibol, o Nuzmam angariou para si uma áurea de "eminência parda", a quem todos (os políticos) beijam a mão. Ele teve realmente uma participação muito ativa e eloquente na década de 80 à frente da CBV, mas daí a achar que é o máximo em administração e gestão técnica seria muita pretensão. Infelizmente, é o que temos e mais nada. Daí para baixo é gente a reclamar e sem projetos, pois a coisa está disseminada pelo País.

Má administração? Quantas surpresas ainda teremos? Não nos iludamos. Quem quer faz, quem não quer, alie-se a eles.

Roberto Pimentel. 

           

Por Paulo Cabral de Oliveira
em 23 de Dezembro de 2010 às 17:29.

Ilustres colegas,

Inicialmente devo me congratular pela disposição em discutir o tema. Como já foi explicitado, a formação em EF no Brasil pouco contribui para que os profissionais detenham ferramentas que os habillite a discussão segura sobre o tema. Isso é um fato. É um fato, também, que isso ocorre na maioria das áreas de atuação e reflete um modelo de formação que perpassa todo o conjunto de profissões. Em verdade, o que se tem é uma intecional e deliberada ação que se destina a formação dos “bois de curral” a que Dema se refere. Isso é histórico.

No caso da execução orçamentária isso é quase uma praxe e não só no ME, com a ressalva feita por Lino, sobre a necessidade de se olhar com mais acuidade os números para se observar o que realmente representam.

De minha parte, sem medo de errar na afirmação, esses números representam o patamar de gestão que encontramos no Brasil afora. Em boa parte dos casos, são pessoas sem a mínima qualificação, incluíndo nessa classificação, o que é mais grave, o fato de boa parte desses “gestores, não serem da área.

Para ilustrar o que digo, cito o trabalho do prof. Vilde Meneses, que realiza um estudo na Regiaão metropolitana do Recife, tendo como um dos  focos de seu trabalho (são vários) a formação do gestor que está a frente de secretarias municipais de esporte. No estudo tem dois casos emblemáticos; em um deles o gestor é carteiro e no outro é o motorista do prefeito. Com situações como essa é difícil atingir excelência na gestão.

Por  fim, voltando para o orçamento, destaco, ainda, a necessidade de se verificar onde os recursos estão sendo gastos. Salvo engano, existem diretrizes que definem prioridades para o investimento dos recursos do ME. (esporte educacional, por exemplo!).

Um abraço a todos.

Por Aldemir José Ferreira Teles
em 24 de Dezembro de 2010 às 21:21.

Olá Adriano, Lino, Roberto, Paulo e os amigos Cevnautas,

 

Neste momento, podemos considerar que temos um consenso, a qualidade da discussão. Acredito que podemos evoluir dessa forma. Assim, vamos aprendendo e construindo um bom e oportuno debate, neste instante nacional. Até elaborei uma Ata dos comentários publicados até agora, como se faz em qualquer organização. Se aprovarem a iniciativa ou tiverem outra sugestão informem. Quando solicitado, publico a ata. Não sei se terei fôlego para esta tarefa, se o volume de comentários crescer, mas vamos em frente.

 

A questão do orçamento para o esporte é apenas a ponta do iceberg. O tema foi ganhando publicidade, especialmente, após a primeira declaração do Ministro, quando foi confirmado para continuar no cargo. Ele disse que a meta agora é triplicar o orçamento. Parece, então, que o orçamento é o primeiro e único problema do esporte nacional, quando sabemos que não é. E como justificar o aumento do orçamento se, do atual, foram executados (contingenciamento à parte) apenas 13%? E os maliciosos diriam: “O Ministro só pensa naquilo”. Que maldade.

 

Mais uma historinha para ilustrar o meu pensamento: o funcionário de um instituto para cegos promove um passeio para eles ao zoológico. Lá, diante do elefante, foi solicitado que cada um dos participantes do grupo tocasse o animal. Um tanto assustados, cada um tocou uma parte do bicho. Depois foi solicitado que eles descrevessem o animal. Já imaginaram a confusão? A alegoria é para ilustrar a complexidade do que vem a ser uma política pública, especialmente no nosso caso, a do esporte. Então, o orçamento é apenas uma parte do elefante.

 

No meu entendimento, o desafio é propor uma reformulação da política de esporte, com base em princípios norteadores, definição de prioridades e diretrizes consistentes na execução, pois no papel já existe. Pires (2005) sugere alguns princípios, por exemplo: o Princípio da Responsabilização do Estado, o começo de tudo. Ocorre que o desafio não é apenas técnico é, principalmente, político. Aí tem que haver mobilização daqueles que têm o conhecimento e o sentimento do esporte e enxergam a necessidade de mudança. O exemplo que Paulo Cabral citou, dos “gestores” do esporte, um carteiro e outro motorista do prefeito, em parte se deve à nossa omissão. De uma ação política de nossa parte.

 

Enfim, para não me alongar mais, que tal se a gente passasse a explorar o elefante? Por exemplo: o Programa Segundo Tempo. Vocês conhecem o estudo do IPEA, que avalia esse programa? Se interessar a alguém, posso disponibilizar.

 

Abraço e tenham um ótimo Natal.


Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.