Natal: a oração dos encarnados

                                                                                  João Batista Freire

            À meia-noite os sinos anunciarão o nascimento de Jesus. O nosso nascimento, nós que somos os cristos homens e mulheres, o corpo, a carne, a presença viva. Somos os cristos encarnados, somos a vida, aqueles que festejarão e morrerão. Somos os que dão sentido à vida, aqueles que esquecem o que veio antes, se veio, e o que virá depois, se virá, para sermos fieis a esta vida. Não Pai, não afasta de mim este cálice, quero bebê-lo, até o fim, e me embriagar, não para me resignar à morte, mas para celebrar tanta vida. À meia-noite os sinos dirão que é Natal e que Cristo nasceu em cada um de nós, mesmo os mais egoístas, para pensarmos, nem que por instantes, que há os que necessitam mais que nós, e que renunciaremos por eles, e que isso é amor, um amor que nasce em cada Natal. Sou corpo, sou carne, sou o Cristo que nasce em cada Natal, sou o galo da meia-noite, sou as doze badaladas, o que come, o que bebe, o que se abriga, se reproduz, e morre. E quando, por fim, me arrebatar a morte, cansada de brincar de esconde-esconde comigo, nada deixarei para trás, nem herança, nem sobras, somente a vaga lembrança de quem morreu de tanto viver.

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