Do JoãoZin…

JoãoZin é como o ManoPereira chama o JoãoZinho (como eu o chamo…) desde os tempos do Atletismo e da Paraiba… agora, aposentado, está em Santa Catarina… o ‘nosso’ JoãoZin é o João Batista Freire, uma das maiores autoridades em educação física desta terra - e se deixassem, de alhures também. Simplicidade no escrever, em traduzir, para nós outros, a ‘pedagogia do esporte’ - como ensinar educação física… Para João Batista Freire, a Educação Física só pode ser ‘de corpo inteiro’… um dos paradigmas de nosso metier… João sabe de que fala… ’scholar’ com linguagem que todos entendem, com uma experiencia prática antes de teorizar… 

O tenho acompanhado nas comunidades do CEV -Centro esportivo virtual, essa genial criação do ManoPereira (como chamo o Laércio Elias Pereira) - discutindo como ensinar educação física e como iniciar a criança no esporte… acredito que JoãoZin vale-se de seu imenso conhecimento filosófico - sim, tenho-o como um filósofo da educação física, tal qual o Manuel Sérgio e o Silvino Santin, só que ele, dos três, é o melhor… - e serve-se da raiz do verbo deportare - deporte - em ingles, sport = brincar, para lembrar-nos de que essa manifestação cultural é, antes de tudo, um jogo e que deve ser jogado = brincado. Tem sentido, especialmente aqui no Maranhão, onde está tão enraizada a palavra brincadeira e brincante, quando se nos referimos às manifestações folclóricas, especialmente ao nosso bumba-meu-boi. Esse, o sentido do jogo, do esporte, o brincar. Isso, que João nos deixa… esse, será seu legado… vale a pena segui-lo…  

Retirado de seu Blog   http://blog.cev.org.br/joaofreire/ o que segue:

 Sobre a vida

O que é a vida? Eu sei, mas não sei explicar. Ou seja, sou como quase todo mundo, exceto, é claro, os filósofos, que buscam, e buscam, e buscam, definir o que é a vida. Tomara que consigam. Sou a versão humana daquilo que chamam de vida. Em mim, a vida corre, a vida anda, a vida chora, a vida ri, a vida ouve, a vida nasce e a vida morre. Deu-me, para traduzi-la, pernas e braços e olhos e ouvidos e coração, cérebro e pulmão. Se tento conter a vida, ela doi em mim. Se deixo sobras de vida sem viver, angustio-me.

De onde viemos, para onde vamos?

Na última postagem sobre este tema, falei do jogo, como base da vida. A fonte primária do jogo é o movimento sem aparente finalidade, que é realizado por nós desde bebês. O jogo é a confirmação do ato de viver. E, se o primeiro jogo em nós, é o jogo de repetir movimentos, porque isso dá conforto, prazer, alívio, é porque movimentar-se está na base de nossa vida. Somos seres motores. Por mais que nos realize inventarmos tecnologias de imobilidade (facilidades que substituam a atividade motora), isso não mudará em nós a necessidade vital de movimentação. Sem movimento, adoecemos, deixamos de alimentar nossa base vital. No dia em que pararmos de nos movimentar, morreremos. Se as tecnologias permitem um trabalho quase sem movimentos, para manter nossas vidas, além dos remédios, temos que inventar tecnologias de lazer ativo.

O que é educação física?

Ensinar Educação Física é ensinar a viver corporalmente. Porque não há outra maneira de viver esta vida, neste planeta, que não seja corporal, que não seja encarnada. Nada se manifesta neste mundo que não seja como matéria e energia; essa é a lei para viver neste mundo. Ninguém chega a este mundo que não seja encarnado. O simples fato de trazer as crianças para o pátio, para a aula de Educação Física, mesmo que seja só para brincar com elas, já é, no meu entender, mais coerente com a educação para a vida que encerrá-las horas e horas por dia nos restritos espaços das carteiras escolares. A sala de aula e a carteira escolar, quando se tornam prisões de crianças, imobilizando-as três, quatro horas por dia, são contra a educação para viver neste mundo. Se os humanos são locomotores, por qual motivo temos que imobilizá-los nas escolas. Fazendo isso os educamos para o quê?

Deus e a ciência

A ciência, que nasceu da dúvida, até sobre Deus tem certeza. Intelectuais brilhantes e cientistas renomados sentenciam: Deus não existe. De onde lhes veio a certeza? Talvez da mesma fonte que inspirou os que falaram em nome de Deus. Como não há provas, só pode haver crenças. Um dia, um brilhante cientista, Carl Sagan, disse: “Nunca ninguém provou que Deus existe, mas nunca ninguém provou que Deus não existe”. Sábio, muito sábio. Como Sagan há muitos, os verdadeiros, os que sabem que fé e dúvida não se misturam, cada qual no seu canto. De minha parte, do alto de minha ignorância sobre esse tema, sinto-me absolutamente incompetente para julgar. Não sei se Deus existe e nem sei se Deus não existe, e nem preciso saber. Preciso apenas dar graças a Deus, todos os dias, por estar vivo, uma vez que sinto isso como um privilégio.

Por que temos que fazer educação física?

Agradeço os comentários carinhosos, sempre carinhosos. Obrigado Álvaro pelas sugestões de leitura; você é um alimentador de conhecimentos.

Por que temos que fazer Educação Física? Basta olhar para um de nós: temos pernas para nos locomover, braços para erguer, mãos para pegar, etc., etc. Com tal morfologia, parar é adoecer, adoecer no sentido dos desígnios da espécie. Mover-se é, para o ser humano, ontológico. No entanto, pouco nos movemos. Movimentar-se dá trabalho, cansa (exceto para as crianças livres). Mas, sabem porque as crianças não acham que se movimentar dá trabalho, cansa? Porque elas fazem isso brincando e brincar pouco cansa, ou permite que logo se descanse. Que burrice não incluir as brincadeiras nos treinamentos esportivos; os atletas se cansariam menos. Bem, como, para nós, gente grande, mover-se dá trabalho e cansa, inventamos tecnologias para tornar o trabalho mais produtivo e substituto dos movimentos corporais. Uma vez que pouco nos movimentamos, adoecemos por carência de movimento. Se pensasse nisso a Educação Física, de olho na vida das crianças, criaria um aparato adequado para que as pessoas, já que pouco se movem por obrigação, movam-se por opção, por gostarem, por gosto lúdico.

Inimigos por natureza

Minha gata estraçalhou um passarinho. Um tico-tico. Nem o comeu, porque não tinha fome, estava com a barriguinha cheia de ração. Ela não odeia os passarinhos; apenas os mata. Todas as manhãs ela se coloca de tocaia no quintal e vigia durante horas. Eventualmente tem êxito na caça. Por mais doméstica que seja, ela mantém sua fidelidade aos instintos. E nós, quais serão os nossos? Os gatos sabem, sempre souberam, e sempre saberão, que precisam manter suas habilidades de caçadores. Brincam todos os dias de exercer tais habilidades. Por serem tão hábeis, caçavam os ratos que consumiam as colheitas e foram adotados pelos plantadores. Nós os humanos, devemos guardar em nossa mais recôndita intimidade, algum instinto que nos proteja como espécie. Talvez o de se juntar para se proteger, tamanha nossa fragilidade motora. Se for assim, nossas brincadeiras deveriam transparecer o gregário que somos, e parece, isso é um fato. Brincamos de ficar juntos, de passar bolas uns para os outros, de nos pegarmos, nos agarrarmos (além de nos combatermos, de nos machucarmos, etc.). Continuaremos nos odiando, nos combatendo, nos matando, mas, acima de tudo isso, prevalecendo sobre isso, continuaremos nos juntando e só nisso reside as possibilidades de continuarmos existindo enquanto espécie. Há mais amor que ódio ou indiferença no mundo, há mais bem que mal, porém, o mal é escandaloso, barulhento, e faz propaganda de si, para alardear aquilo que nunca será. Só por isso parece haver mais ódio ou mal que amor ou bem. O bem é discreto, não precisa falar de si, já é bem.

Por que isso? Estava pensando no Elarrat - professor de educação física aqui do Maranhão - que completa, hoje, trinta dias, em coma. Sofreu um derrame e entrou em coma... Estava ’curiando’ o sitio - blog, vá lá - do João Batista freire quando minha mulher veio e me chamou que estava na hora da visita ao Elarrat... e lá estava - sobre a vida, sobre Deus, sobre a Educação Física... quase uma oração e quase um alento... Não busquei explicações sobre o porque Elarrat está neste estado... palavras confortam... publiquei em meu Blog... a Rô (mulher do Elarrat) vai ler...

sex, 04/09/09 por leopoldovaz | categoria Sem Categoria

Comentários

Nenhum comentário realizado até o momento

Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.