Aos craques da atual seleção canarinho de futebol, se lhes falta talento dentro do campo, não lhes falta habilidade como vendedores dos mais diversos produtos. A lista é grande. Fossem outdoors ambulantes, não haveria gramado para contê-los. Enquanto vemos a bola ser maltratada como nunca pelos donos da verde e amarela, compramos dos mascates futeboleiros comidas, automóveis, chuteiras, bolas, camisas, televisores, desodorantes, telefones, anticépticos, energéticos, cuecas, colírios, refrigerantes, planos de saúde, isotônicos, assinaturas de TV, roupas de grife, sandálias, cervejas, pilhas, lâminas de barbear, passagens aéreas, contas bancárias, relógios, etc. E a gente, no campo ou na frente da TV, acha que eles estão lá para jogar bola. Claro, no começo eles precisam jogar um pouco, até que se forme uma imagem vendável. Junto com ela vão os produtos. Aí, não precisam mais se preocupar com a bola. Podem, inclusive, protagonizar a inédita façanha de perder quatro penalidades máximas seguidas, como a que ocorreu no recente jogo contra o Paraguai. É impressionante a lista de craques que esqueceram como jogar bola em pouco tempo. Mas a imagem bem formada resistirá durante anos ao mau desempenho no campo. É o caso, por exemplo, de Robinho, que brilhou durante algum tempo no Santos. Há pelo menos cinco anos ele não tem um desempenho satisfatório sequer em jogos da seleção brasileira, mas a imagem ainda vende; enquanto isso acontecer, é provável que ele continue sendo um dos craques canarinhos. Ou o caso do jogador Ganso, alçado há pouco mais de dois anos à categoria de astro da constelação brasileira. Mesmo fora do campo boa parte do tempo, por contusões, continua sendo cantado em prosa e verso, e vendendo bebidas e eletrodomésticos. Neymar, embora o mais jovem de todos, vende uma lista impressionante de produtos. Sua imagem, muito bem trabalhada, carrega com ela telefones, energéticos e cuecas, entre outros produtos. Dá pinta de que tem talento para a bola, mas a imagem supera o craque largamente. Sim, o futebol sempre foi também um grande negócio, mas agora, parece, é somente um grande negócio. Os fazedores de imagem atuam mais que os treinadores. Só precisam conseguir colocar seus “craques” em campo. E que a gente, ao ver a lâmina de barbear deslizando na cara de bebê do Kaká, estenda a mão automaticamente para o produto na gôndola do supermercado. Ah, e continue acreditando que a seleção que entra em campo com a camisa verde e amarela, é mesmo a nossa seleção brasileira!
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