Quero meu futebol de volta
O Rio de Janeiro continua lindo! Mas o Rio de Janeiro não continua sendo a capital do futebol; agora é a capital dos grandes negócios futebolísticos, onde a arte de jogar com a bola nos pés vale bem pouco. O Rio de Janeiro deixou de ser a terra do Nilton Santos, do Garrincha, do Zico e do Didi, para ser a terra do Ricardo Teixeira, da Rede Globo e do Joseph Blatter. O povo carioca, como, de resto, todo o brasileiro, nada vale para esses senhores dos negócios, a não ser pelo que podem comprar, a não ser pelos lucros que podem produzir.
Mário Filho nos ensinou, em seu consagrado “O Negro no futebol brasileiro”, que lá pelos anos 1920, 1930, o negro chegou ao grandes clubes do futebol carioca, primeiro com as chuteiras do Vasco da Gama, time de portugueses, que nada tinham contra misturar pretos aos brancos de seu time. Os outros grandes clubes, de tudo fizeram para criar regras que impedissem os negros de jogar ao lado dos brancos, mas, finalmente, tiveram que ceder, caso contrário, amargariam um campeonato perdido atrás do outro para o onze vascaíno.
Com os negros veio também o povão. Sendo inevitável sua presença, arrumaram-lhe um lugar, consagrado pela divisão: camarotes, numeradas, arquibancadas, geral. No Maracanã, o povão ficava na geral, quase no nível do gramado, sempre em pé. Absurdo, disseram os defensores da democracia. E recentemente criaram o estatuto do torcedor: que ninguém entrasse no estádio para assistir a jogos se não tivessem lugar marcado em cadeiras confortáveis. O povão já não fica mais em pé na geral, fica do lado de fora, porque não pode pagar o absurdo que cobram para entrar nos estádios. Claro, porque se trata de tirar do povo aquilo que o povo construiu. Quando os negros chegaram ao futebol brasileiro, um patrimônio nacional foi construído. O futebol era nosso; o dos ingleses era outro. Este que os negros Leônidas, o Domingos e os brancos Heleno e Friedenreich nos ajudaram a construir era só nosso. E começamos a assombrar o mundo já em 1938. Por pouco não ganhamos a Copa de 1950, mas era uma questão de tempo. Em 1958 o mundo do futebol curvava-se a um novo jeito de jogar bola.
Não se trata só de defender o nosso futebol, mas de defender nossa cultura, uma cultura produzida a duras penas por um povo sofrido que nunca abriu mão de festejar o privilégio de viver. O carnaval, o samba, a capoeira, o baile e o futebol, entre outras manifestações, é nosso jeito brasileiro de viver. Agora, e principalmente por causa do ouro que brilha nas letras da Copa 2014, nos chegam esses senhores da FIFA e da CBF e nos querem colocar para fora dos estádios. E querem que a gente acredite que esses meninos que eles escolhem para celebrar, são os mesmos grandes jogadores que foram o Garrincha e o Pelé. Domingos e Pelé entravam em campo para honrar as cores de suas equipes. Pelé morria pelas cores do Santos. Didi jogava por mim. Alguns dos craques da atual seleção entram em campo para vender televisores, bolas, chuteiras, camisas, carros, cerveja, e no dia seguinte são celebrados como se fossem deuses.
Quero meu futebol de volta. Eu sou o dono da bola e não esse senhor chamado Ricardo Teixeira, que parece estar acima da lei e ignorar ostensivamente a opinião pública, cegamente fiado na impunidade que marca a justiça de nosso país. O Brasil não é a casa da FIFA e a CBF não é a capital do Brasil. Isto aqui, Sr. Ricardo Teixeira e Sr. Joseph Blatter, não é a casa da Mãe Joana.
Comentários
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João Batista Freire
em 2 de Agosto de 2011 às 15:30.
Estamos movendo uma grande luta para tirar Ricardo Teixeira da CBF. Ele domina o futebol brasileiro há 22 anos. Transformou-o num negócio, roubando-nos um dos mais preciosos patrimônios culturais. Para tirá-lo do comando da CBF, assine o abaixo assinado entrando em: www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8944
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Leosmar Malachias de Oliveira
em 29 de Agosto de 2011 às 23:44.
Futebol virou religião no Brasil já vai um tempo. E como deturparam o sentido de religião o fizeram também com o futebol. Padres Pedófilos, Bispos estelionatários e criminosos, grandes cafajestes vendendo Deus a massa de fieis não são tão difierentes daqueles que transformaram o futebol nesta industria inescrupulosa que acompanhamos diariamente. Grandes grupos cervejeiros, conglomerdos industriais que vão desde desodorante a matéria prima para industria química. Todos querem tirar suas lascas no esporte nacional. O produto futebol é altamente rentável e assim como a religião conta com o fanatismo e a fé cega dos fieis para assaltar suas carteiras em nome de Deus, nossas Instituições Podres que comandam o futebol e se locupletam nos valores astronômicos gerados pela tal industria."Nossos Deuses" agora não são mais os de outrora, como você nos alerta João, mas tenho fé que um dia essa p... vai mudar, e nós professores podemos contribuir bastante pra que nossos alunos não sejam consumidores ignorantes de um futebol sem arte. Se Deus quiser!!!
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