Precisamos avançar na complexidade dos conceitos... Entre corpo e corporeidade, podemos compreender o campo intercorporal com o mesmo sentido da intercorporeidade? Como observar e descrever a configuração desse campo energético? Algumas situações concretas do cotidiano poderiam contribuir com a nossa reflexão.
Comentários
Por
João Batista Freire
em 13 de Julho de 2009 às 13:24.
Num certo sentido Kátia, sou muito materialista. Vejo o corpo como nossa realidade possível neste mundo. Para mim, corpo integra o que dizemos que temos, como por exemplo, dizemos que temos alma, que temos energia, que temos razão, que temos espírito, como dizemos que temos mãos, braços, pernas. Ou seja, quando digo tenho, esse tenho refere-se a quê? Acredito que tudo que somos materializa-se numa maneira possível de viver neste mundo, o que não anula as crenças.
Por
Katia Brandão Cavalcanti
em 14 de Julho de 2009 às 13:37.
Quando afirmamos que entre corpo e corporeidade existem muitas questões, estamos nos apoiando nos estudos de neurocientistas como FranciscoVarela e colaboradores que procuram ampliar o campo de investigação da chamada “mente corpórea”. Esta perspectiva, inspirada na fenomenologia de Merleau-Ponty, reconhece que “a cultura científica ocidental requer que tomemos os nossos corpos simultaneamente como estruturas físicas e como estruturas experienciais vividas – em suma, tanto como externos e como internos, biológicos e fenomenológicos”. Ressalta-se ainda que o eixo fundamental que articula essas duas estruturas corporais é a corporeidade, que por sua vez assume este duplo sentido: “acompanha o corpo como uma estrutura experiencial vivida e também como o contexto ou o meio de mecanismos cognitivos”. Os autores são enfáticos quando afirmam que a corporeidade tomada nesse “duplo sentido” tem estado ausente da ciência cognitiva, quer seja na discussão filosófica quer seja na investigação prática. E mais: “tanto o desenvolvimento da investigação em ciência cognitiva como a relevância desta investigação para as preocupações humanas vividas requerem a tematização explícita deste duplo sentido da corporeidade”.
A grande dificuldade nossa é compreender que só podemos observar um determinado fenômeno se tivermos uma teoria adequada para tal. Esta foi a lição que Heisenberg aprendeu com Einstein: “Observar significa que construímos alguma conexão entre um fenômeno e a nossa concepção do fenômeno”. No caso das relações entre corpo e corporeidade, o grande obstáculo para a pesquisa está na dificuldade em abandonarmos conceitos que nos acompanharam por longo tempo. É muito mais fácil aceitar novos conceitos do que abandonar os antigos. Para aprofundar os estudos da corporeidade com a neurofenomenologia e as demais neurociências, exigindo familiaridade com o princípio de indeterminação, nos deixa num estado tal de perplexidade, podendo até nos imobilizar para a necessária investigação.
Não quero dizer com isto que estou livre dessa perplexidade... Pelo contrário, já são 15 anos de muitas angústias, desde que conclui a minha pesquisa do Pós-Doutorado, em 1994, que tratou dessa temática. Como Einstein, acredito na beleza dos modelos teóricos e das metáforas, além de um “profundo sentimento cósmico religioso”, para encontrar forças para prosseguir nessa busca...
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