C e-mail 4081, de 24 de Agosto de 2010.
   
21. Olhar sociológico sobre a infância
    
Livro apresenta artigos de grupo de pesquisadores da UFSCar que trabalham na construção de uma genealogia da sociologia da infância no Brasil

Desde a década de 1980, a sociologia da infância vem se constituindo como um campo de pesquisa no plano internacional. Nos últimos anos, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem trabalhado para construir uma genealogia da sociologia da infância brasileira.

Os resultados conseguidos até agora por esse esforço coletivo de pesquisa estão reunidos no livro "O plural da infância: aportes da sociologia", organizado por Anete Abramowicz e Andrea Braga Moruzzi e lançado recentemente pela EdUFSCar. Andrea é doutoranda orientada por Anete, professora do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSCar.

De acordo com Anete, a infância, em especial na faixa de zero a seis anos, sempre foi tema estudado de forma abundante pela psicologia. Mas, até a década de 1980, a sociologia pouco havia produzido sobre o assunto. "Quando estudava a criança, fazia isso por meio de suas ’instituições zeladoras’, como a família ou a escola. A criança, para além de seu métier como aluno, nasce nessa trajetória", disse à Agência Fapesp.

A partir de 1980 - e com mais intensidade na década de 1990 -, a sociologia da infância começou a se tornar um campo do conhecimento.

"Os sociólogos haviam abandonado a criança, mas nos últimos anos esse panorama foi sendo transformado e o nosso grupo na UFSCar tem trabalhado intensamente com o tema. O livro discute as múltiplas possibilidades da sociologia quando toma a criança pequena como foco", afirmou Anete.

Do ponto de vista da sociologia da infância, as crianças são entendidas como atores sociais e como sujeitos dos seus processos de socialização, produtoras da diferença e da pluralidade.

"O livro procura introduzir os aportes teóricos desse campo, valorizando a afirmação das crianças como categoria social que deve ser entendida no plural, já que as experiências de infância são infinitas", disse.

A obra, que reúne artigos de diversos autores ligados ao grupo da UFSCar, destaca os temas fundamentais desse campo emergente do conhecimento e indica o que a sociologia tem a dizer sobre a criança e a infância. "Essa área tem como temas de destaque a cultura da infância, o trabalho infantil, a sexualidade infantil e a construção da institucionalização da criança, por exemplo", explicou Anete.

A partir de autores pós-estruturalistas e pós-colonialistas, o grupo também trabalhou o pensamento sobre a criança em relação a temas como gênero, raça e etnia. "O livro é produto de um longo trabalho de pesquisa, em um esforço coletivo dedicado a organizar essa temática", disse a pesquisadora, que concluiu em 2010 um pós-doutorado sobre sociologia da infância na Universidade Paris-Descartes, na França.

O objetivo do grupo é contribuir para o debate sobre o que significa uma sociologia da infância brasileira. "Estamos construindo essa genealogia, identificando como se constrói", disse.

Anete coordena o projeto de pesquisa "Educação e Sociologia da Infância no Brasil: uma genealogia em construção", apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.

Cultura infantil

Embora tenha se consolidado como campo de pesquisa apenas na década de 1980, na França, o termo sociologia da infância já havia sido cunhado em 1937, em um texto do sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872-1950).

No Brasil, o marco inaugural da sociologia da infância, de acordo com Anete, é o texto As trocinhas do Bom Retiro, do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), publicado no livro Folclore e mudança social na cidade de São Paulo, de 1961.

"Naquele texto, Florestan usou pela primeira vez o termo ’cultura infantil’. É esse o marco inicial da sociologia da infância brasileira. É a partir daí que vamos traçar o percurso dos autores que trataram do tema, construindo a genealogia desse campo do conhecimento", disse Anete.

O título do livro lançado agora, segundo ela, reflete a preocupação em evidenciar a existência de diversas infâncias distintas sob o ponto de vista sociológico. "Tratamos desde a infância no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, até a infância indígena observada do ponto de vista da sociologia", apontou.

A publicação é voltada em especial para estudantes de graduação e de pós-graduação, além de professores que pretendem trabalhar com a sociologia da infância.

"É provavelmente a primeira vez que se reúne um conteúdo sobre sociologia da infância organizado com um viés didático. Esperamos que essa característica possa ajudar a multiplicar os estudos sobre o tema que são feitos em diversos centros no Brasil", disse Anete.

Mais informações: http://editora.ufscar.br
(Fábio de Castro)
(Agência Fapesp, 24/8)

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