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O 22° Festival de Dança do Triângulo – O corpo negro e suas identidades traz em sua programação, além das mostras e apresentações de dança, o Seminário Pedagógico com palestras ligadas ao tema do festival. As atividades são direcionadas a bailarinos, coreógrafos, professores e admiradores da dança.
Na tarde desta sexta-feira (29), na sala Roberto Rezende da Oficina Cultural, teve início o eixo 1 do seminário, intitulado “Recorrências e Tradição”, com a Professora Doutora de Educação Física da Universidade Federal do Goiás, Renata Lima. Na palestra, a especialista fez um exercício de recordação de imagens e como mexer e renovar essas memórias.
“A apresentação tem um caráter de mini-curso e, a partir das imagens e da nossa consciência, vamos refletir um pouco sobre a dança e como ela se expressa no contexto da cultura negra. Eu trouxe desenhos e um vídeo com algumas danças de Moçambique (país do sudeste da África) e outro do antropólogo Darcy Ribeiro para pensarmos um pouco sobre as influências da matriz africana brasileira e a identidade corporal negra”, disse a professora.
Para desenvolver a proposta, Renata Lima apontou noções que abordam as ligações entre o presente e o passado juntamente com o sujeito que vivencia esse cenário. Para retratá-los, a palestrante denominou dois conceitos: o de Encruzilhada e o de Corpo Limiar. “O primeiro é esse espaço relacionado ao ‘momento agora’ e ao passado conectado a uma ancestralidade, onde acontecem os rituais performáticos, mais ligados à cultura popular. Então estamos falando de roda de capoeira, roda de jongo, folia de reis, e acredito que nesse território, habita um corpo limiar, que vive entre esses dois estados e que carrega uma potência expressiva munida dessa herança cultural de matriz africana”, explicou.
O festival traz mais de 50 companhias participantes, de três estados (além de Minas Gerais) e de outros dois países. De acordo com Renata Lima, o Festival de Dança do Triângulo dá oportunidade para projetar as diversas culturas e o Brasil é carente no sentido de abrir mais espaços para as tradições negras e marginais.
“Apesar dessa problemática, tenho visto que a dança negra tem sido tematizada em alguns eventos que vem quebrar essas barreiras. Mais do que dizer que falta espaço, se faz necessário valorizá-lo. Vejo inclusive o pessoal de Minas fazendo bastante isso. No Rio de Janeiro as pessoas também são muito articuladas em pensar o teatro negro e a dança negra. E discutir e mostrar isso no seminário dentro de um festival é uma maneira de construção coletiva de conhecimento”, finalizou a professora.
Este é o terceiro ano que o Festival de Dança do Triângulo traz o Seminário Pedagógico. São três eixos de discussão. Neste sábado (30) o seminário continua com o eixo 2 que trará o tema “Deslocamentos e Processos Ocupacionais” e no domingo (31) será a vez do eixo 3 que vai discutir “Interferências na Produção Contemporânea”.
Segundo o coordenador do Setor de Dança da Secretaria Municipal de Cultura, Dickson Du-Arte, o objetivo é fazer que os profissionais da dança reflitam sobre seus próprios trabalhos e criações. “O diferencial do festival é a preocupação com o debate e a discussão sobre a dança e seus fazeres teóricos. Vale destacar que Uberlândia tem a característica de produzir muita dança e pensar sobre essa produção. Por isso estamos trazendo pessoas de vários lugares do Brasil ligadas ao tema do corpo negro para fomentar esse debate e trocar experiências”, afirmou.
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