DOPING OU TOXICO DEPENDENCIA ?

 Luís Avelãs

Tinha pensado interromper as férias para escrever umas linhas sobre a jornada europeia do futebol português. Embora o saldo não tenha sido muito favorável (FC Porto e Nacional perderam, pese terem equilibrado os jogos com Chelsea e Werder Bremen, respectivamente), a verdade é que os quatro emblemas lusos deixaram a ideia de que possuem, de facto, capacidade suficiente para seguir em frente nas provas em que estão inseridos. Precisam é de acreditar e, aqui e ali, ter alguma sorte.

Porém, face à notícia do controlo positivo do recente vencedor da Volta a Portugal em bicicleta... tenho de esquecer o futebol e alinhavar umas palavras sobre o ciclismo, modalidade que apreciei durante muitos anos mas que, de há uns tempos a esta parte, teima em ser notícia quase que exclusivamente pelas razões erradas. Os anos passam, os protagonistas mudam, umas equipas desaparecem e outras são criadas, mas o pesadelo continua: raro é o ciclista com resultados relevantes que não é, mais tarde ou mais cedo, apanhado nas malhas do "doping". E mesmo entre os poucos que, por enquanto, escapam... existem dúvidas, muitas dúvidas.

Eu sei que ainda há algumas (poucas) pessoas de bem na modalidade. E tenho pena que elas, com uma regularidade assustadora, sejam envolvidas numa teia cinzenta que, infelizmente, apanha praticamente todos os que andam envolvidos neste desporto que, no mínimo, já devia ter sido excluído do programa dos Jogos Olímpicos por, objectivamente, violar todos os princípios que estiveram na origem da criação do maior evento do planeta. Numa altura em que tantas modalidades lutam para entrar na festa, o ciclismo devia, por uma questão de respeito e decoro, ser afastado até se regenerar.

E não me venham com o "choradinho" de que também há casos de "doping" nas outras modalidades. Eu sei que há. Todos sabemos. A diferença é que enquanto nos restantes desportos existem algumas análises positivas, no ciclismo ainda aparecem algumas... negativas.

Não consigo entender o que leva os ciclistas a arriscar a sua saúde bem como a reputação profissional e pessoal. Bem sei que só quem consegue resultados é que tem direito a amealhar mais uns euros mas, depois de serem desmascarados, de que vale isso? Não terão vergonha de andar na rua? De olhar para os familiares, para os amigos, para todos os que patrocinam as equipas, para os cidadãos anónimos que vão às estradas aplaudir aqueles que, em tempos, eram os heróis do povo? 

Por mais brusca que possa parecer a avaliação tenho de dizer que aqueles que recorrem às substâncias dopantes são... estúpidos! Sim, sim... estúpidos! Se não sabem o que lhes dão para tomar... andam a dormir; se sabem e alinham... são meros "paus mandados" e batoteiros; se não se preocupam com as consequências futuras dos seus actos são... irresponsáveis. Eles e os pseudo-médicos que, nas equipas de ciclismo, são os "engenheiros" que inventam as "receitas" que incluem todo um tipo de práticas que, só de ouvir, chega para causar arrepios.

Mas, mesmo perante os inúmeros casos que vão sendo conhecidos, as autoridades competentes não fazem nada. Eles pensam que sim, suspendendo os corredores e, por vezes, impedindo as equipas de alinhar nesta ou aquela competição. Mas, invariavelmente, os infractores acabam quase sempre por voltar à acção. Como se nada de anormal tivesse sucedido.

Quando é que as suspensões passarão, logo à primeira, a ditar a irradiação dos prevaricadores? De que têm medo os dirigentes para não aplicar medidas drásticas de modo a acabar com esta verdadeira palhaçada e, dessa forma, "limpar" a imagem da modalidade? Mais do que continuarem a serem apanhados uns atrás dos outros, teremos que esperar pela morte maciça de corredores até que alguém, de forma concreta, resolva agir em conformidade?

Ao contrário do que sucede com muitos atletas de outras modalidades, no ciclismo ninguém usa as chamadas drogas sociais. Aqui, convive-se, diariamente, com coisas pesadas. O ciclismo, hoje em dia, está recheado de batoteiros e irresponsáveis (está à vista de todos) mas também de toxicodependentes. Ninguém quer abordar a questão sob esse ângulo, mas esta é a mais pura das verdades. Em Portugal e lá fora. E existem vários relatos a confirmá-lo, não é imaginação minha...  
Autor: LUÍS AVELÃS 
Data: Sexta-Feira, 18 Setembro de 2009 - 20:29

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