Cevnautas Editores & Escribas,

Vivo divulgando o antigo artigo do Prof Litto "Argumentos Falaciosos. Pequeno compêndio para evitar a compra de gatos por lebres", sempre que tenho a impressão de que um texto é autofágico, de tanto abusar das falácias.http://cev.org.br/biblioteca/argumentos-falaciosos-pequeno-compencio-para-evitar-compra-gato-por-lebre/

Hoje recebi do Horácio Accioly http://cev.org.br/qq/horacio-accioly-junior/ o "Você já Pleonasmou hoje? Que foi publicado n'O Público. Saboroso. Recomendo os dois para professores, editores e orientadores de trabalhos escolares de qualquer nível. Laercio.

E você, já pleonasmou hoje?
O sintoma da doença pleonasmite é a verbalização de pleonasmos (ou redundâncias) que, com o objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre patético
Texto de Nuno Abrantes Ferreira • 04/09/2013 - 16:05

Todos os portugueses sofrem de pleonasmite, uma doença congénita para a qual não se conhecem nem vacinas nem antibióticos. Não tem cura, mas também não mata. Mas, quando não é controlada, chateia (e bastante) quem convive com o paciente.
 
O sintoma desta doença é a verbalização de pleonasmos (ou redundâncias) que, com o objectivo de reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre patético.
 
Definição confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios: “Subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”.
 
Já se reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda está em fase de negação? Olhe que há muita gente que leva uma vida a pleonasmar sem se aperceber que pleonasma a toda a hora.
 
Vai dizer-me que nunca “recordou o passado”? Ou que nunca está atento aos “pequenos detalhes”? E que nunca partiu uma laranja em “metades iguais”? Ou que nunca deu os “sentidos pêsames” à “viúva do falecido”?
 
Atenção que o que estou a dizer não é apenas a minha “opinião pessoal”. Baseio-me em “factos reais” para lhe dar este “aviso prévio” de que esta “doença má” atinge “todos sem excepção”.
 
O contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há lojas que o aliciam com “ofertas gratuitas”. E agências de viagens que anunciam férias em “cidades do mundo”. No local de trabalho, o seu chefe pede-lhe um “acabamento final” naquele projecto. Tudo para evitar “surpresas inesperadas” por parte do cliente. E quando tem uma discussão mais acesa com a sua cara metade, diga lá que às vezes não tem vontade de “gritar alto”: “Cala a boca!”?
 
O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao cinema ver aquele filme que “estreia pela primeira vez” em Portugal.
 
E se pensa que por estar fechado em casa ficará a salvo da pleonasmite, tenho más notícias para si. Porque a televisão é, de “certeza absoluta”, a “principal protagonista” da propagação deste vírus.
 
Logo à noite, experimente ligar o telejornal e “verá com os seus próprios olhos” a pleonasmite em directo no pequeno ecrã. Um jornalista vai dizer que a floresta “arde em chamas”. Um treinador de futebol queixar-se-á dos “elos de ligação” entre a defesa e o ataque. Um “vereador da autarquia” dirá que gere bem o “erário público”. Um ministro anunciará o reforço das “relações bilaterais entre dois países”. E um qualquer “político da nação” vai pedir um “consenso geral” para sairmos juntos desta crise.
 
E por falar em crise! Quer apostar que a próxima manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”?
 
Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não causa “dores desconfortáveis” nem “hemorragias de sangue”. E por isso podemos “viver a vida” com um “sorriso nos lábios”. Porque um Português a pleonasmar, está nas suas sete quintas. Ou, em termos mais técnicos, no seu “habitat natural”.
 
Mas como lhe disse no início, o descontrolo da pleonasmite pode ser chato para os que o rodeiam e nocivo para a sua reputação. Os outros podem vê-lo como um redundante que só diz banalidades. Por isso, tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo. Vai ver que não custa nada. E “já agora” siga o meu conselho: não “adie para depois” e comece ainda hoje a “encarar de frente” a pleonasmite!
 
Ou então esqueça este texto. Porque afinal de contas eu posso estar só “maluco da cabeça”.

Fonte: http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/9208/e-voce-ja-pleonasmou-hoje

Comentários

Por Edison Yamazaki
em 3 de Maio de 2014 às 11:11.

Laércio,

Bacana para parar e pensar. Será que é só a lingua portuguesa é cheio de "reforços de idéias"?


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