Professores discutem novas estratégias e possibilidades de ensino diante das alternativas digitais da atualidade e do acesso à grande quantidade de informação permitido por elas. Ferramentas não faltam.
Por: Rafael Foltram
Publicado em 28/04/2011 | Atualizado em 28/04/2011
A teoria do conectivismo parte da premissa de que o conhecimento é construído por meio de redes e interações. Esse processo – dinâmico, contínuo e complexo – pode se beneficiar das novas alternativas tecnológicas. (foto: Michael Heiss/ CC BY-NC-SA 2.0)
Celulares, tablets, notebooks e outros eletrônicos – quer queiram, quer não – fazem parte da vida de crianças e jovens em boa parte do mundo. Em vez de vê-los como obstáculo à educação, é hora de enxergar o seu potencial como ferramenta para aprimorar o ensino.
O conectivismo é uma das poucas teorias de aprendizagem que estão em sintonia com essa nova realidade. Idealizado por George Siemens, parte do pressuposto de que o conhecimento é construído por meio de redes e interações e busca responder a seguinte questão: como podemos ajudar o estudante a aprender?
“Aprender, é criar redes”, reafirma o colombiano Diogo Leal. Especialista em redes sociais na educação, Leal participou do congresso PeopleNET in Education, realizado no mês de março, em São Paulo, com o objetivo estimular a reflexão e o bom uso das novas mídias em sala de aula.
Na ocasião, ele lembrou que a aprendizagem e o conhecimento se apoiam em uma vasta gama de informações provenientes de diferentes fontes, acrescentando: “Não é possível controlar as redes, mas pode-se influenciá-las”.
Novas tecnologias permitem o acesso rápido a um volume enorme de informação. Nesse contexto, o difícil é discernir o que é relevante e pertinente e o que é besteira e inútil. É aí que entra a figura do professor, para ajudar o aprendiz a construir conhecimento a partir dessa avalanche de informação.
Para Leal, as tecnologias disponíveis hoje já seriam capazes de revolucionar os métodos de ensino. O que falta, segundo ele, é criar estratégias e ferramentas que as tornem efetivamente vantajosas para o aluno, sem tirar do professor o papel de “agregador, curador e amplificador de ideias e informações”.
“O professor nunca foi tão necessário quanto é no contexto atual”A professora universitária Martha Gabriel, palestrante no congresso, também defendeu o papel fundamental do professor no mundo tecnológico. “O digital era só um apoio ao processo de educação tradicional, mas hoje há colaboração, troca; o poder está diluído na rede”, afirmou, salientando que, apesar disso, o professor não perdeu sua importância; muito pelo contrário.
“O professor nunca foi tão necessário quanto é no contexto atual”, acredita Martha. “Hoje ele é um catalisador”, defende, e cabe ao educador entender esse papel e desempenhá-lo da melhor maneira possível.
Um dos problemas desse novo processo de aprendizagem reside na possibilidade de se construir um movimento de “cegos conduzindo cegos”, como aponta José Arnaldo Valente, livre docente da Unicamp.
De acordo com Valente, não temos profissionais preparados para atuar nesse novo sistema, trazendo novas informações e garantindo o bom desenvolvimento do conhecimento. “O grande desafio está na formação dos educadores”, ressalta.
Outro obstáculo seria o currículo atual, “elaborado para a era do papel e lápis”. Para o professor, seria necessária uma mudança curricular substancial no ensino. “A mesma amplitude de conteúdos pode ser ensinada, mas a forma de ensiná-los deve ser adaptada a nova realidade”, defende.
Atendendo aos apelos de muitos professores ainda atordoados diante das novas alternativas digitais, foi apresentada durante o congresso uma série de ferramentas capazes de usá-las em prol do ensino.
Plataformas gratuitas como o moodle possibilitam aos professores construir suas próprias redes virtuais. Esse software permite o desenvolvimento de um site personalizado que pode ser usado tanto como complemento aos estudos em sala de aula como ambiente para ensino à distância.
O moodle possibilita aos professores construir suas próprias redes virtuaisOutra ferramenta amplamente utilizada para fins educativos é o site delicious, que agrega os endereços favoritos do usuário e publica-os em uma página própria. Dessa forma, links que o professor ou os alunos julguem interessantes podem ser facilmente buscados e compartilhados.
Para encorajar a leitura, uma boa opção é o skoob, uma rede social brasileira de leitores. Nela, a página de cada usuário contém os livros que ele já leu e que está lendo e suas impressões sobre eles. O site permite a criação de grupos de discussão e acompanhamento mais restritos.
Ferramentas não faltam; resta a disposição da comunidade escolar de ingressar na educação 2.0.
Rafael Foltram
Ciência Hoje On-line/ SP
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