EDUCAÇÃO PARA A PAZ E EDUCAÇÃO EM  VALORES HUMANOS: POSSIBILIDADES PARA A O CORPO E A EDUCAÇÃO FÍSICA

Nei Alberto Salles Filho - UEPG/PR

RESUMO :

O presente artigo vai abordar características gerais sobre os movimentos educacionais denominados “Educação para a Paz” e “Educação em Valores Humanos”, objetivando situar possibilidades da inserção do pensar o corpo e a Educação Física escolar dentro dessas abordagens. O que se busca são novos olhares para as práticas da cultura corporal de movimento, privilegiando a dimensão do corpo sensível como superação do paradigma fragmentado da instituição escolar.

Na busca de outras perspectivas na educação e na Educação Física, encontramos novas possibilidades de perceber questões até bem pouco tempo ignoradas pelos educadores. O que nos faz levantar essas questões é que cremos que as equipes pedagógicas têm, atualmente, oportunidades especiais de estabelecer, juntamente com professores, propostas diferenciadas no cotidiano escolar. O que definimos como diferenciadas, nesse recorte, são ações que possam buscar efetivamente novas perspectivas e possibilidades de transformação humana a partir do contexto educacional.

Segundo Martinelli[1], os atuais sistemas educacionais dissociaram aspectos materiais e espirituais, fragmentando o conhecimento e por conseguinte o desenvolvimento da personalidade dos alunos. Com isso, houve uma inibição da criatividade e da percepção superior. Para ela, a restauração da unidade e da integração do conhecimento só ocorrerá quando os valores morais e espirituais voltarem a fazer parte da educação.

Nesse sentido, percebe-se que o discurso educacional tem priorizado e valorizado possibilidades diferenciadas ao cotidiano escolar. Do relatório da Comissão Internacional de Educação realizado para a UNESCO [2], podemos extrair os quatro pilares básico para a Educação às portas do século XXI : aprender a fazer, aprender a conhecer, aprender a ser e aprender a viver juntos. Os dois primeiros pilares remetem à questões mais específicas sobre processo de produção de conhecimento, enquanto os outros encerram uma dimensão mais ligada à consciência e ao resgate do ser humano. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN´s/MEC) esses pilares foram adotados como pressupostos fundamentais, sendo que aprender a ser e aprender a viver juntos como aspectos a serem priorizados numa dimensão comunitária e cidadã.

Para dar conta dessas idéias foram organizados os temas transversais, isto é, questões sociais que podem ser discutidas e vivenciadas na escola. No entanto, os temas transversais (ética, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo, meio ambiente e pluralidade cultural, possuem algo mais comum, que é a percepção e autoconhecimento do indivíduo. Por isso, optamos em levantar as questões a seguir, que englobam inúmeras possibilidades atuais de realizar a aproximação do aluno consigo mesmo, num “re-conhecimento” de suas qualidades humanas mais interiores, na busca de uma convivência mais pacífica, harmoniosa e qualitativa na escola.

Partimos inicialmente dos estudos encaminhados na perspectiva da “Educação para a Paz”, discutida e difundida pela UNIPAZ/Brasília, que levanta questões sobre a necessidade de mudança de paradigma em educação, que contemple aspectos de auto conhecimento e sensibilização. Nessa perspectiva, o paradigma emergente em educação abandona a noção única de informação, ensino limitado ao intelecto e instrução dirigida à memória e à razão, para o sentido da formação e educação da pessoa, ou seja, um processo de harmonização e de pleno desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão e da intuição. [3]

Nesse mesmo sentido, levanta-se a “Educação em Valores Humanos”, baseada na proposta de Sathya Sai Baba[4], que trabalha basicamente em função de cinco valores humanos: verdade, ação correta, amor, paz e não violência. O fato de existirem livros, sites, entre outros materias, faz com que seja muito rica uma discussão sobre o assunto para realmente dimensionar o papel da escola com os alunos e com a comunidade, no que tange às questões de violência, uso de drogas e demais mazelas sociais hoje tão presentes.

Para  criar uma prática pedagógica alternativa, a intenção é inserir a possibilidade de vivências de harmonização, sensibilização e dinâmicas lúdicas, ou sejam, trabalhos que tenham uma dimensão corporal, acessível a todos, visando um resgate da auto estima e auto conhecimento, aspectos fundamentais para se desenvolver qualquer trabalho em grupo.

Para isso tomamos um argumento de Celano : “Somos seres multidimensionais e nos sentiremos harmonizados se nossas ações, afetos, vontades, pensamentos, imagem, autopercepção  o ambiente e os níveis energéticos mais sutis estiverem em equilíbrio. O corpo é a expressão síntese de todas essas dimensões.” Nesse sentido,  Assmann[5] e Restrepo[6]  expressam algumas idéias de como pensar a processos de relacionamento (educação) no final do milênio dizendo a separação entre inteligência e afetividade parece ter sua origem no fato de que – diante de uma percepção  mediada pelo tato, pelo gosto,  e pelo olfato – o Ocidente preferiu o conhecimento através dos exteroceptores, ou seja os receptores à distância, como o são a vista e o ouvido. Nossa cultura é uma cultura visual auditiva. Assim, nossa herança autêntica é de tradição visual-auditiva, gerando uma falsa idéia que o corpo não deve merecer atenção.

Ainda de acordo com os professores, não cabe dúvida de que o cérebro necessita do abraço para seu desenvolvimento, e, as mais importantes estruturas cognitivas dependem deste alimento afetivo para alcançar um nível adequado de competência. Não devemos esquecer que o cérebro é um autêntico órgão social, necessitando de estímulos ambientais para seu desenvolvimento. Sem aconchego afetivo, o cérebro não pode alcançar seus ápices mais elevados na aventura do conhecimento.

Portanto, parece ser necessário substituir  as certezas e dos saberes pré-fixados, isto é, os conceitos de saúde, qualidade de vida e cidadania nos quais muitas vezes nos apoiamos sem reflexão, por uma pedagogia da pergunta, do melhoramento das perguntas e do acesso de informações, isto é discutir quais são realmente as noções de cultura corporal, qualidade de vida e cidadania concretas para nossa realidade, além de proporcionar um acesso (troca/discussão/proposição) nas informações.

Pensando nestas questões, levantamos argumentos estabelecidos pelo “Projeto Cooperação Global Para um Mundo Melhor”, estabelecido pela Organização das Nações Unidas em parceria com a Universidade Brahma Kumaris.[7]

Segundo esse projeto, que torna-se pano de fundo para a percepção da “Educação para a Paz” e a “Educação em Valores Humanos”, para um mundo melhor, seria necessário pensar em : reverência a vida; reconhecimento e respeito pela dignidade e integridade de cada ser humano; meio ambiente limpo, fresco, verde e com equilíbrio ecológico; todo ser humano seria saudável e alegre em espírito, mente e corpo; todo ser humano teria abrigo, alimento e água; todos os indivíduos estariam em paz consigo mesmos; haveria justiça social, econômica e política com ênfase em direitos humanos; haveria amor, confiança, amizade e entendimento em todos os relacionamentos; a vida em família seria cheia de amor, contribuindo para que o sentimento de uma família universal vivendo em harmonia; todos os indivíduos teriam oportunidades iguais para o crescimento, progresso educacional e emprego com total encorajamento para o desenvolvimento de todas as suas potencialidades; todo indivíduo gozaria de liberdade de expressão, movimento e ação, respeitando as liberdades e direitos de todos; haveria comunicação aberta e franca em todos os níveis da sociedade; haveria honestidade e um senso de responsabilidade dentro de organismos governamentais e em todos os setores da sociedade; haveria compromisso dos governos para trabalhar para o bem estar e progresso dos povos; haveria cooperação a nível local, nacional e internacional. 

Obviamente, as ações acima, mediadas na Educação Física poderão ser balizadas nesses princípios, mas relacionadas mais diretamente com a perspectiva das práticas corporais, pois como Brunhs[8] entendemos os indivíduos como seres humanos que vivem num corpo, um corpo que se relaciona, que cria, que se expressa, que sofre repressões, que vibra, que se movimenta. Portanto nossas ações devem ser pensadas sob o aspecto do corpo  sensível.

Assim em relação à Educação Física é necessário procurar discutir um novo olhar sobre as práticas do corpo, muito relacionadas no cotidiano à exercícios utilitários, isto é, como sacrifício para estética ou “saúde”. Portanto, as práticas corporais e o conceito de saúde tem contornos ligados muito mais ao consumo que à vivência pessoal do ser humano. Porém, saúde não é apenas ausência de doença. A  Organização Mundial da Saúde (OMS), considera a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social.

Nesse sentido[9] o bem-estar físico relaciona-se com hábitos saudáveis de alimentação, práticas corporais e ausência de vícios; o bem-estar mental é a possibilidade de trabalhar a auto-estima e a capacidade de estabelecer relações afetivas com as demais pessoas (o sentimento de amar e ser amado é uma valiosa manifestação desse plano); o bem-estar social depende, além da formação de cada um de nós, das nossas atitudes para com os outros e a comunidade em geral, assim, ser cooperativo e sociável desperta receptividade nas pessoas pois, é possível tornar a vida melhor optando pela cooperação ao invés do confronto, criando sistematicamente oportunidades de colaboração entre as pessoas.

          Como observamos, o bem-estar é a integração de muitas dimensões humanas – a emocional, a intelectual, física, espiritual e social – que expandem o potencial de cada um para viver, trabalhar e contribuir de forma mais significativa para a sociedade. Nesse aspecto, Guiselini comenta que é impossível falar sobre saúde e bem-estar sem referir-se à prática de atividade física, uma vez que ao serem exercitadas, as várias dimensões do potencial humano são postas em ação de forma integrada. Para Guiselini [10], a melhora do condicionamento físico – auto-imagem positiva, capacidade de suportar o estresse, maior conhecimento sobre o corpo – são alguns dos principais objetivos das práticas corporais, investindo contra o binômio estresse-sedentarismo, que constitui-se hoje num dos principais problemas em relação à saúde e qualidade de vida. 

          Portanto, a espontaneidade, o prazer, a simplicidade e a liberdade de escolha são fundamentais para a aquisição de hábitos saudáveis que, somados à discussão de cidadania, na perspectiva de criar condições materiais e ambientais favoráveis para a mudança do estilo de vida das pessoas, podem ser a base concreta na transformações de conceitos ligados às práticas corporais e saúde.

[1] Marilu MARTINELLI, Aulas de transformação: o programa de educação em valores humanos, 1996.

[2] O relatório intitulado Educação um tesouro a descobrir (1998), foi organizado por Jacques DELORS, coordenador da equipe internacional que levantou os principais aspectos da Educação para o início do século XXI.

[3] As questões levantadas podem ser aprofundadas no livro A mudança de sentido e o sentido da mudança de Pierre WEIL, 2000. Weil é o atual presidente da Fundação Cidade da Paz e reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília –UNIPAZ.

[4] Espiritualista e educador indiano.

[5] Hugo ASSMANN, Reencantar a Educação : rumo à sociedade aprendente, 1998.

[6] Luís Carlos RESTREPO, O direito à ternura, 1998.

[7] O objetivo do referido projeto, desenvolvido entre 1988 e 1990, foi de identificar uma Visão Comum do futuro do planeta. Durante o período da estruturação da proposta, foram reunidas contribuições de pessoas, grupos, entidades e governos de 120 países. Essas idéias estão contidas em BROTTO, Fábio O., Jogos Cooperativos : se o importante é competir, o fundamental é cooperar, Ed. Re-Novada, Santos-SP, 1997. O documento original no qual foi baseada a proposta é : Brahma Kumaris World Spiritual University, ed. Visions of a Better World. London, United Nations Peace Messanger, 1982.

[8] BRUNHS, Heloísa (org). Conversando sobre o Corpo. Campinas, SP: Papirus, 1991.

[9] Síntese organizada por COSTA, Hélio e KARAM, Marcelo na proposta do Programa de Melhoria da Qualidade de Vida, realizado pelo Governo do Estado do Paraná para o Seminário de Atualização de Professores da Rede Pública Estadual de Ensino, na Universidade do Professor em Faxinal do Céu. 

[10] Reflexões de GUISELINI, Mauro. Atividade Física e Qualidade de Vida. Informativo da Phorte  Assessoria em Atividade Física e Saúde. Guarulhos, SP, 1999.


Comentários

Por Nei Alberto Salles Filho
em 9 de Fevereiro de 2010 às 20:43.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OUTRA CONTRIBUIÇÃO, Abraço

Nei

 

ESPORTE E EDUCAÇÃO PARA A PAZ: REFLEXÕES NECESSÁRIAS

Nei Alberto Salles Filho

Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG

Resumo:

 

A pesquisa sobre as interfaces entre Esporte e Educação para a Paz é desenvolvida dentro do Projeto de Pesquisa “Configurando elementos teóricos e práticos da Educação para a Paz”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná. Trata da análise do documento elaborado pela Força Tarefa Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento e a Paz, que foi intitulado “Esporte para o Desenvolvimento e a Paz: em direção à realização das metas de desenvolvimento do milênio” (ONU, 2003). O documento discute a promoção da utilização coerente do esporte em atividades relacionadas à Paz e ao Desenvolvimento, buscando atingir as metas de desenvolvimento do milênio propostas pelas ONU. A estrutura do relatório discute o esporte como ferramenta para o desenvolvimento e a paz nas relações com saúde, educação, desenvolvimento sustentável, voluntariado e a paz. Nesse último ponto enfatiza que quando aplicados eficazmente, programas de esportes promovem a integração social e a tolerância. As reflexões iniciais sobre a pesquisa levam à percepção de que as áreas de Educação Física e Esportes ainda tem muito a discutir sobre os pressupostos nos quais tem se baseado (vitória a qualquer preço, violência e exclusão).

Documentos internacionais: necessidade de abordagem

O Esporte, nos últimos anos, tem sido objeto de estudos cada vez mais elaborados, em diferentes campos como: desenvolvimento motor e biológico, aspectos históricos, sociológicos e filosóficos, dimensões educacionais e políticas. Todos estes estudos comprovam o fato que há muito tempo tem sido enfatizado pelo senso comum: o esporte é um elemento cultural privilegiado para o entendimento de relações humanas e sociais. Nesse caminho dentro do projeto de pesquisa “Configurando elementos teóricos e práticos da Educação para a Paz”, desenvolvido na UEPG, optou-se em estudar de maneira introdutória as relações entre o Esporte e a Paz, na perspectiva de contribuir na argumentação do Esporte nos aspectos educacionais, sociais e políticos.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base documentos oficiais da ONU e da UNESCO, buscando a mediação com autores que discutem a questão da Educação para a Paz, mostrando o potencial dos documentos, e, por outro lado, sua relativa fragilidade

teórica, fato que pode fazer com que ações com objetivos muito diversos acabem dentro de uma idéia pura e ingênua sobre a Paz.

O documento chave analisado vem da Organização das Nações Unidas (ONU) que reuniu uma Força Tarefa (2002/2003) com a participação de Agências Internacionais para discutir e analisar o esporte no sistema das Nações Unidas. O trabalho foi denominado de “Força Tarefa entre as Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento e a Paz”. As Agências participantes foram: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), Organização Mundial da Saúde (OMS), Voluntários das Nações Unidas (UNV), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR), Fundo de Emergência das Nações Unidas para as Crianças (UNICEF), Escritório das Nações Unidas para o Combate às Drogas e ao Crime (UNODC) e Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS (UNAIDS). O que foi buscado foi exatamente a experiência de todas as agências na utilização do esporte em seu trabalho.

Os objetivos da Força Tarefa estiveram focados na promoção da utilização coerente do esporte em atividades elacionadas à Paz e ao Desenvolvimento da Humanidade, buscando atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs), propostas pelas Nações Unidas. Basicamente, as MDMs remetem a aspectos relacionados à valorização e respeito à vida, o combate à fome e injustiças, diminuição e controle de doenças, cuidado com o meio ambiente dentro de um desenvolvimento sustentável e novas formas de relações humanas, mais éticas, solidárias e não-violentas.

O documento produzido pela Força Tarefa foi intitulado “Esporte para o Desenvolvimento e a Paz: em direção à realização das metas de desenvolvimento do milênio”. Para a nossa análise, estaremos utilizando a tradução do Relatório para a língua portuguesa, disponível no sítio Ministério do Esporte (www.esporte.gov.br). De forma geral, o documento vem organizado por temas, todos argumentando em favor do esporte como um elemento viável e fundamental para o cumprimento das 

MDMs. A seguir, analisaremos os diferentes aspectos tratados no relatório, buscando diferentes contribuições ao tema. Inicialmente o documento discute o potencial do esporte como ferramenta para o desenvolvimento e a Paz, onde ressalta a importância de valores presentes no esporte, como a cooperação e o respeito. O conceito definido pela Força Tarefa é de que os esportes “são todas as atividades físicas que contribuem para a boa forma física, para o bem-estar mental e para a interação social” (RELATÖRIO, 2003, p.03). Nesse sentido, o conceito inclui desde as práticas de brincadeiras e recreação até o esporte organizado, casual e competitivo.

Mesmo entendendo o caráter geral do documento, uma ressalva é o não aprofundamento no conceito, na medida em que as diferentes perspectivas do esporte conduzem objetivos também diferenciados, como exemplo disso é o esporte de alto rendimento, que não necessariamente promove a saúde. Na continuidade, enfocando o esporte na busca das Metas de Desenvolvimento do Milênio, o relatório traça considerações sobre: o esporte e saúde; o aumento de doenças não-contagiosas no mundo (cardiovasculares, diabetes, câncer, etc.); o aumento do sedentarismo e os benefícios do esporte para a saúde e para a economia. Nesse aspecto, o documento ressalta uma perspectiva muito difundida nos últimos anos, a importância da atividade corporal como elemento significativo para melhoria da qualidade de vida e prevenção de doenças. Essa dimensão traz a possibilidade de ampliar a necessidade de incluir o esporte e a atividade corporal como elementos prioritários em políticas públicas na área da saúde.

Na seqüência do relatório, explicita-se a relação entre esporte e educação, entendendo o esporte como uma “escola para a vida”. Trata-se de um argumento interessante, mas também relativo, na medida em que os valores do esporte podem ser positivos ou negativos, como uma prática humana e social. A discussão ainda reforça o caráter inclusivo do esporte, dando exemplos de sua utilização em campos de refugiados e durante as guerras. Termina este ponto chamando a atenção para a importância da educação física no desenvolvimento de uma cultura esportiva, enfatizando:

 

A educação física é um componente essencial da educação de qualidade e

uma parte integral da aprendizagem por toda a vida. Negligenciar a educação

física reduz a qualidade da educação, com futuros impactos negativos na

saúde pública e nos orçamentos da saúde. A educação física é a única matéria

no currículo escolar que focaliza especificamente o corpo – seus próprios,

assim como os dos outros – e os ajuda a lidar com muitos dos desafios

enfrentados por jovens, incluindo o risco do HIV/AIDS e outras doenças

sexualmente transmitidas e os perigos do tabaco e das drogas. Oferecer aos

alunos a oportunidade de praticar esporte na escola assegura de que recebam

uma educação completa que trate do corpo, da mente e do espírito.

(RELATÖRIO, 2003, p.18)

Nessa mesma discussão, cabe inserir argumentos do documento da UNESCO (2002), chamado “Mesa Redonda de Ministros y principales responsables de la educación física y el deporte” onde um dos principais argumentos é:

La necesidad de volver a pensar, de renovar y adaptar las políticas y

programas de educación física supone que sepamos adaptarnos a la evolución

del mundo: las doctrinas de las políticas y programas de educación física y el

deporte que se han tomado como modelo han sido concebidas por lo general

al finalizar la Segunda Guerra Mundial y ya no son eficaces en el contexto

cultural moderno, en el que parece difícil olvidar las diferencias culturales

que afectan a los valores, las actitudes y las conductas.

Este é o aspecto importante dos documentos, argumentar a favor de um novo olhar e posicionamento frente ao universo da educação física e dos esportes. Um universo que amplia a visão do esporte como mera atividade e o coloca como elemento humano potencialmente rico para o mundo do século XXI. Outro aspecto estabelecido no relatório da ONU trata da percepção do esporte como auxílio ao desenvolvimento sustentável, onde afirma que programas esportivos bem-sucedidos contribuem para a sustentabilidade tanto dos aspectos econômicos como também do meio ambiente. Ressalta a importância de estratégias locais e a articulação com propostas regionais, nacionais e internacionais. O documento ainda discute esporte como desenvolvimento social, relatando experiências em vários países em relação ao apoio de propostas para drogados, portadores de deficiências e menores infratores. Aqui, mais uma vez, fica clara a

possibilidade de utilizar o esporte como ferramenta positiva dentro do trabalho com grupos em situação de risco, o que na realidade brasileira tem uma dimensão possível e necessária e urgente.

O Relatório também aborda a questão do esporte e voluntariado, enfatizando o esporte como espaço de criação de vínculos favorecedores à participação comunitária. Soma-se ao voluntariado as iniciativas pertinentes na busca pela Paz, aspecto analisado adiante. No item relacionado ao esporte e comunicação, o Relatório destaca a importância do esporte como meio de comunicação universal entre os povos e mobilização social, chamando a atenção da importância da mídia esportiva e dos Organismos Internacionais do esporte (COI, FIFA, etc.). Outro ponto a ressaltar é a discussão da relevância do esporte no combate ao HIV/AIDS.

Em síntese, as questões básicas propostas no Relatório da Força Tarefa são as colocadas acima. Depois destas são elencadas outras questões ligadas à estruturação de ações, mobilização de parceiros e como supor estratégias positivas para o esporte. A seguir nos deteremos, de maneira mais aprofundada, no item que trata do esporte e a Paz.

Argumentos sobre Esporte e Paz: sugestões para releitura do documento da ONU

Embora possamos defender a importância do esporte nos moldes propostos pelo Relatório da Força Tarefa, não podemos deixar de entender que o esporte, ao longo da história, também foi largamente utilizado para finalidades bem opostas (imposição de força internacional, imposição de raças “superiores”, “doping”, esporte como “comércio”, competição e individualismo). O esporte foi tratado, de certa forma, como uma prática com modelos estruturais universalizantes e que remetem à própria negação de possíveis elementos contraditórios. Isso nos faz crer que os conceitos e valores universais propostos ao esporte devem ser relativizados e alvo de análises mais reflexivas. Tal pensamento é necessário quando não temos um consenso mundial em relação a temas como saúde, meio ambiente, 

violência, desenvolvimento sustentável, educação, entre outros temas fundamentais da humanidade.

Nessa direção procuramos analisar a dimensão sobre o Esporte e a Paz contida no documento, essa discussão serve como forma de reorientar a leitura de maneira mais crítica e de orientação para aspectos operacionais. Em relação ao Esporte e a Paz o Relatório diz:

O poder do esporte pode ser usado como uma ferramenta para evitar conflitos

assim como um elemento da construção da paz sustentável. Quando

aplicados eficazmente, programas de esportes promovem a integração social

e a tolerância. Esses valores fundamentais são os mesmos que são necessários

para a paz duradoura. Particularmente em ambientes de pós-guerra (pósconflito),

pode ajudar a reduzir tensões e a gerar o diálogo. (2003, p.26)

Da dimensão relatada acima, é importante perceber que o Relatório faz a ressalva que “quando aplicados eficazmente”, os esportes são positivos. Porém, não existe aprofundamento sobre o que ou como seria essa aplicação eficaz de programas esportivos. Nota-se que nesse caso, a interpretação pode ser diferente para governos, entidades, associações e pessoas. Embora o relatório traga diversos exemplos de práticas positivas bem sucedidas em relação ao esporte, ainda não são discutidos com maior cuidado as motivações, encaminhamentos pedagógicos e repercussões das mesmas. Insistimos que da mesma forma que os exemplos são úteis, eles podem ser “copiados” sem nenhum cuidado e orientação, por grupos, instituições e governos.

O relatório prossegue levantando outro argumento:

Já que as habilidades e os valores ensinados através do esporte são

compatíveis com os esforços para promover a paz, as atividades esportivas

devem ser consideradas como um elemento de apoio dos programas em áreas

de pós-conflito e de alta tensão. (2003, p.29)

Essa dimensão em relação aos “valores” ensinados pelo esporte, também traz mais questões para reflexão. Quais seriam esses valores? Qualquer forma de esporte traz os mesmo valores? Podemos elencar valores universais para o esporte? Os valores são 

inerentes à prática do esporte ou são construídos de acordo com a orientação estabelecida pelos envolvidos? Nesse caminho as respostas vão surgindo no próprio documento, embora ainda fique em aberto o aprofundamento delas:

É imperativo que os programas de esporte para a paz enfatizem os valores

positivos e o potencial de união do esporte e que sejam oferecidos em

ambientes seguros que sejam agradáveis e livres de pressão. As iniciativas

relacionadas ao esporte requerem liderança responsável e bem treinada.

Como idioma internacional, o esporte deve ser considerado como um meio

prático de comunicar mensagens de paz e ajudar a encontrar soluções não

violentas para os problemas. (2003, p.29)

Mais uma vez fala-se em valores e habilidades positivas, liderança responsável e treinada e soluções não-violentas para problemas. Aqui, também, não existe aprofundamento sobre como devem ou deveriam ser as metodologias de intervenção prática com as atividades esportivas, especialmente porque muitas das formas de ensinar e aprender um esporte, nos dias atuais, são relacionadas aos conflitos, violência, etc. Para ampliar as questões acima e contribuir na reflexão indagamos: Como analisar o esporte e a paz com a violência esportiva no momento da competição? A competição em si não seria uma forma de conflito? Como analisar o esporte e a paz na briga entre torcedores e torcidas? Como fica a idéia de idioma esportivo universal? Como pensar as Olimpíadas (doping, patrocínio, dinheiro e marketing)? Como pensar esporte e paz quando os “valores” pretensamente “universais” são manipulados por pessoas, entidades e até por governos? Será que pensamos todos iguais sobre “Esporte é Saúde”, “Esporte é Vida”, entre outras frases de efeito?

Considerando todos argumentos apresentados e mediados até o momento, temos plena convicção que o Relatório da ONU é um marco extremamente positivo para o esporte. Isso justifica nossa abordagem na perspectiva de trazer novos elementos, para que as questões universais por ele levantado possam ter repercussões mais concretas em diferentes realidades, em nosso caso a reflexão do esporte e a paz na realidade brasileira.

Para pensar as relações entre esporte e paz, nos remetemos aos estudos de Jares (2002). Para este estudioso da temática da Paz, é necessário rever os conceitos de paz sobre os quais temos nos apoiado historicamente. O autor considera que a paz sempre veio atrelada a dois aspectos dominantes, porém igualmente limitados conceitualmente. O primeiro enfoque é o da paz como mera “ausência de guerra”. Nesse sentido diz que a paz, em última instância, fica ligada ao Estado, sem o poder de intervenção do cidadão, ou seja, as pessoas ficam reféns de decisões de outros (no caso dos governantes). O segundo enfoque, igualmente limitado conceitualmente, entende a paz como um estado de harmonia e serenidade, a ausência de conflitos e, nesse sentido, se aproxima da dimensão da religiosidade, ficando o entendimento sobre a paz num sentido altamente subjetivo.

Nos casos citados dois s conceitos-chave deixam de ser considerados: o primeiro é o entendimento sobre violência e o segundo é a noção de conflito. Para Jares e demais estudiosos da Educação para a Paz (EP), como Galtung, a paz é justamente o contrário das idéias acima. Como expressa Galtung (apud JARES, 2002, p.65):

 

Em primeiro lugar, a paz já não é o contrário de guerra, mas sim de sua

antítese, que é a violência, dado que a guerra é só um tipo de violência, mas

não o único. [...] Em segundo lugar a violência não é unicamente a que se

exerce mediante a agressão física direta ou por meio de diferentes artifícios

bélicos que se podem usar, mas é preciso levar em conta também, outras

formas de violência menos visíveis também, mais difíceis de reconhecer, mas

também mais perversas no sentido de produzir sofrimento humano.

A citação acima faz menção ao que Galtung chama de violência direta (de pessoas) e violência estrutural (estruturas de governo, de sociedade, etc.). Isso nos faz perceber que o Relatório da Força Tarefa, embora traga inúmeras ossibilidades, ainda não trata de maneira crítica os conceitos que defende. Assim, no caso do esporte, a violência direta que ocorre na própria prática (competição em contraposição à cooperação) acaba ficando sem consideração.

Outro conceito importante de ser pensado, em relação à paz, é a noção de conflito, que não é abordada especificamente no Relatório. Segundo Arenal (1989, p.22)

“O conflito é um processo natural e necessário em toda a sociedade humana, é uma das forças motivadoras da mudança social e um elemento criativo essencial nas relações humanas”.

De acordo com a perspectiva colocada, a EP procura entender o conflito numa perspectiva positiva, ou seja, a paz não é a ausência de conflito (que são inerentes aos seres humanos), mas sim, sua perspectiva criativa, no sentido em que os enfrentamentos criam novas formas de relações. Já Callado (2004, p.23) também aponta novas perspectivas para a noção sobre conflito, definindo este como “uma situação de incompatibilidade de metas, ou a percepção de que estas são incompatíveis...”. Tal concepção permite um entendimento ampliado sobre a dinâmica de contradições que envolvem o universo das relações humanas, uma vez que prevê a existência do conflito e da diferença. Pensando nos conceitos mais claros sobre violência e conflito, podemos começar a aproximar as contribuições do Relatório com o esporte em nossas comunidades, cidades, através de formas de ensiná-lo, de pensá-lo em políticas públicas, etc.

Conforme estamos discutindo nesse artigo, a relação entre Esporte e Paz é muito positiva em termos de intenções. Porém, uma questão fundamental que se coloca é que cada vez mais se intensifica o campo de estudo e pesquisa sobre a paz. Logo qualquer possibilidade de pensar as interfaces entre os temas carece de análise mais adequada. O próprio Relatório já faz esse alerta:

O potencial do esporte como ferramenta para o desenvolvimento e a paz

ainda precisa ser plenamente apreendido. A utilização do esporte permanece

fora do pensamento convencional das Nações Unidas. O mesmo tempo em

que o esporte e a brincadeira são repetidamente reconhecidos como um

direito humano, nem sempre são considerados como uma prioridade e já

foram até mesmo chamados de “direitos esquecidos”. (2003, p.06)

O que fica como alerta – na tentativa de que o Relatório da Força Tarefa não fique no nível da utopia, mas que efetivamente seja pensado como possibilidade de tradução cotidiana nas escolas, clubes, nas secretarias de esporte municipais, estaduais e

nos governos nacionais – é a fundamental importância de se discutir seriamente os conceitos de paz e desenvolvimento humano. Como ressalta Rabbani (2003, p.63):

[...] nem toda educação conleva à paz e que a uma sociedade cuja paz não é

resultado do processo educativo, por mais civilizada e materialmente

desenvolvida que seja, é uma sociedade que violenta seus membros e ameaça

constantemente os demais.

Assim, apenas falar e informar sobre a paz, sem discutir historicamente os contextos onde o esporte tem a pretensão de tornar-se um instrumento contra a violência, pode ser uma atitude arriscada. O risco é o de aceitar qualquer ação “louvável” ou “espirituosa” em nome do esporte, mas que, no fundo, podem estar repletas de outras intenções, inclusive a de fomentar violências de toda a ordem. Ficam as ressalvas e a intenção de que cada vez mais nos aproximemos do movimento da “Pesquisa pela Paz”, já presente no mundo todo e que cresce a cada dia no Brasil. Articulado ao movimento de pesquisa pela paz que seja reafirmada a importância do esporte como instrumento para a paz e o desenvolvimento humano. Mas, que seja um esporte pensado de maneira pedagógica e sistemática, com profissionais preparados e conscientes de como pensar sociedades mais justas e democráticas.

Um caminho possível: os jogos cooperativos

Considerando a cooperação um dos aspectos significativos da busca por uma Educação para a Paz, muito se tem discutido sobre a importância do lúdico no desenvolvimento do ser humano. Basicamente, se argumenta que o lúdico auxilia no desenvolvimento porque provoca mudanças substanciais nas relações interpessoais, que, por sua vez podem mudar relações intrapessoais.

De acordo com Negrine (2002) o comportamento lúdico não é herdado e sim adquirido através de aprendizagem. Essa aprendizagem, segundo o autor, não acontece só na escola, mas em todos os ambientes que possam gerar mediações pedagógicas. Assim, segundo Negrine (p.28-29), “a atividade lúdica serve de mediação entre o

mundo relacional e o mundo simbólico, mundos nos quais se inserem todos os comportamentos humanos. Para Olivier (1999, p.21) quando falamos em lúdico temos que entendê-lo como alegria, espontaneidade. Para isso devemos repensar os parâmetros da racionalidade para uma idéia diferente, o da “lógica do ser feliz agora, de construir o futuro (e não o de preparar-se para o dia em que ele despencará em nossas cabeças), do resolver o velho e construir o novo...”.

Marcellino (1999, p.31), em referência a busca do lúdico na sociedade atual, diz que “reencontrar o lúdico, entender seu valor revolucionário, torna-se imperativo se se deseja preservar os valores humanos do homem”. Nessa lógica podemos argumentar que, valorizando a competição e o vencer a qualquer custo (vigente na concepção geral colocada ao esporte), estamos criando adversários. Isso acaba sendo reproduzido continuamente nas sociedades, nas pequenas atitudes cotidianas. O discurso do ser humano integral, livre, solidário, responsável e cooperativo continua ainda muito distante das ações do mundo “real”. Segundo Soler (2002), podemos supor que a vitória não depende da derrota dos outros, que podemos ser competentes sem destruir o outro, aprendendo a compartilhar as nossas habilidades e notando que todas são importantes dentro do jogo e da vida. Os jogos cooperativos têm como característica integrar todos, onde ninguém se sente discriminado, através de jogos aonde a cooperação venha em primeiro lugar, e não o desejo de vencer. Muitos estudos também argumentam que os jogos em grupos repetem e perpetuam modelos globais da sociedade, principalmente referentes a suas crenças e valores. Segundo Orlick (apud Soler, 2002)

(...) quando participamos de determinado jogo, fazemos parte de uma

minissociedade, que pode nos formar em direções variadas. Uma vez

formados pelas regras, pelas reações dos outros, pelas recompensas e

punições, tornamo-nos parte do jogo e começamos a formar outros. Dessa

forma o jogo ganha vida e poder independente dos jogadores. Em vez de criar

minissociedades ou jogos, que refletem de forma pura a competitividade, a

desonestidade e a cobiça da sociedade maior; por que não desenvolver jogos

que criem uma miniatura de utopias em que gostaríamos de viver? Por que

não criar e participar de jogos que nos tornem mais cooperativos, honestos e

atenciosos para com os outros? Por que não usar o poder transformador dos

jogos para ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoa que realmente gostaríamos

de ser?

Como podemos observar, o jogo vai muito além do que pode ser visto no plano físico, a forma com que os jogadores se comportam refletem a maneira como jogam o jogo da vida. Nesse sentido, podemos supor que essa idéia de sociedade minimizada (o jogo), através da metodologia cooperativa, é um dos principais caminhos no trabalho com valores humanos e Educação para a Paz, pois aquilo que se aprende nos jogos, pode ser ampliado no mundo real ou social. As características práticas dos Jogos Cooperativos podem aguçar sensibilidades e competências como o pensar, criar, tocar, ver, mover-se, etc. São versáteis com regras flexíveis e por isso adaptam-se a todo tipo de pessoas, grupos, espaços e competências”, o que auxilia o professor na interpretação e o aluno na transmissão do conhecimento adquirido.

Nos jogos cooperativos a aprendizagem pode ocorrer de duas maneiras: Aprendizagem indutiva: o professor/instrutor passa o conhecimento e demonstra com a prática; Aprendizagem dedutiva: o facilitador aplica um jogo cooperativo e faz os demais deduzirem o conceito através do jogo. Já o focalizador é mais abrangente, lembra os demais da missão do grupo, ajudando a tomar decisões e agir da melhor forma para realizar e alcançar os objetivos da missão. Terry Orkick explica que podemos aproveitar um jogo competitivo e torná-lo cooperativo, através da demonstração dos conceitos existentes no jogo como por exemplo: derrota, sucesso, ansiedade, amizade, aceitação, companheirismo, respeito, etc. Mas isso tudo depende de que modo apresentamos o jogo e de quem aplica (facilitador, professor ou focalizador).

Considerando os argumentos levantados evidenciamos a proposta de ampliar os estudos e análises sobre a teoria e prática dos Jogos Cooperativos em situações de aprendizagem, particularmente em programas destinados a trabalhar com a educação para a paz. Conforme Orlick (apud Brotto, p,23)

:

Dar uma contribuição ou fazer uma coisa bem, simplesmente não exige a

derrota ou a depreciação de outra pessoa. Pode-se ser extremamente

competente, tanto física como psicologicamente, sem jamais prejudicar ou

conquistar o outro. Muitas pessoas ainda acreditam que para ‘vencer’ ou ‘ter

sucesso’, é preciso ser um feroz competidor e quebrar as regras. Muitas

pessoas parecem achar que para ensinar as crianças a viver e prosperar na

sociedade é necessário prepará-las para serem competitivas e tirar vantagem

dos outros, antes que os outros o façam.

Assim, valorizar o ensino dos Jogos Cooperativos, é um dos aspectos fundamentais para redimensionar o Esporte que leve a contribuição por uma Cultura de Paz. Acreditamos que os aspectos levantados ao longo do relatório da ONU devem ser pensados frente a metodologias mais práticas, e que essa dimensão prática venha permeada pelo foco qualidade e nos valores como cooperação, bondade, amor, respeito, paz, além do conflito mediado, da discussão social e de novos olhares buscados na Educação para a Paz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENAL, C. 

La noción de paz y la educación para la paz . Cruz Roja Española: Madrid, 1989.

BROTTO, F. 

Os Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. SP, Projeto Cooperação, 2000.

CALLADO, C.V. Educação para a paz : promovendo valores humanos na escola através da educação física e dos jogos cooperativos. WAK Editora, 2004.

JARES, X. 

Educação para a Paz : sua teoria e sua prática. Porto Alegre: Artmed, 2002.

MARCELLINO, N.C. Lúdico e Lazer. In

: MARCELLINO, N. C. (org). Lúdico, educação e educação física . Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1999.

NEGRINE, A.

Recreação na Hotelaria: pensar e fazer o lúdico. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.

OLIVIER, G. G. F. Lúdico e escola

: entre a obrigação e o prazer. In: MARCELLINO, N. C. (org). Lúdico, educação e educação física. Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1999.


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