Cevnautas da Educação Física Escolar,

Segue a entrevista para O Globo do Prof Jorge Perez Gallardo http://cev.org.br/qq/jsperezgallardo/. Cevnauta desde a criação do CEV na Unicamp, hoje vivendo no Chile. O convite para a palestra de abertura do encontro importante no Rio foi uma homenagem merecida! Laércio

Faculdades não preparam professor de Educação Física para trabalhar na escola.
Palestrante no 16º Congresso Internacional SM Fitness & Wellness, que neste fim de semana no Rio, o chileno Jorge Gallardo defende novo currículo para a disciplina
por Leonardo Vieira  04/09/2014

RIO - Professor assistente da Unicamp e pesquisador em Educação Física, o chileno Jorge Gallardo é um dos que advoga um novo papel para a disciplina nas escolas, que seria ainda muito ligada ao lúdico e ao lazer. Segundo Gallardo, a prática de atividades físicas poderia ser muito mais conectada à cultura de um país, estimulando brincadeiras, jogos interativos e até o trabalho voluntário. O professor vem ao Rio para o 16º Congresso Internacional SM Fitness & Wellness, que começa nesta sexta até domingo no Colégio Santa Mônica, em Jacarepaguá.

Qual a importância da Educação Física na escola?

A Educação Física escolar hoje não leva em conta seu verdadeiro valor, está subordinada às diretrizes da área da saúde. E isso leva a procurar objetivos praticamente impossíveis de se alcançar, como a melhoria da saúde, a diminuição da obesidade, da criminalidade... As causas estão principalmente nas instituições de formação dos profissionais, que preparam o licenciado em Educação Física para trabalhar, principalmente, fora da escola (academias, clubes, etc.); mas não no âmbito do ensino básico. É praticamente impossível atingir êxitos desportivos e de saúde com apenas um encontro semanal de 50 a 60 minutos, com turmas numerosas, 35 a 40 alunos e com uma infraestrutura precária.

Mas o que a disciplina pode trazer de benéfico para o aluno?

O verdadeiro valor da Educação Física escolar ficará em relevo quando ela se transformar em disciplina, ou seja, quando adquirir o mesmo valor das outras matérias do currículo, quando ela criar seu próprio conteúdo e tiver autonomia para aplicá-lo. O corpo de conhecimentos dessa disciplina, segundo o nosso grupo de estudos, são as manifestações da cultura corporal, que devem ser pedagógicas para levá-las para o ambiente escolar: esportes, conhecimentos sobre o corpo, anças, jogos, elementos das artes marciais, ginásticas, elementos das atividades de expressão corporal das artes cênicas, artes circenses, artes musicais e das artes plásticas.

As diretrizes curriculares de Educação Física propostas pelo MEC estão defasadas?

O problema das diretrizes curriculares é que elas ainda procuram o domínio técnico das manifestações da cultura corporal e não o domínio conceitual, que é o onde deveria focar. O domínio técnico exige muito tempo de prática e a aula não tem essa condição, só no espaço extra-aula seria possível. É fora da escola que se encontra a maior riqueza e possibilidades de praticar alguma manifestação cultural que tenha sido vista nas aulas de Educação Física, na forma de vivência. No entanto, esse espaço não pode ser utilizado apenas para a prática dos esportes tradicionais.

Qual a relação entre o voluntariado e a Educação Física? É possível que um estimule o outro?

O grande desafio para a Educação Física no ensino médio é formar agentes socioculturais. Todos os que em algum momento foram técnicos ou professores de alguma modalidade sabem muito bem que os participantes mais avantajados nos auxiliam, assumindo algumas responsabilidades com seus colegas de turma. Capacitar os alunos como agentes socioculturais nos permite a construção de uma cidadania autônoma e participativa. Assumir funções de liderança na escola e na comunidade é transformar o aluno em cidadão soberano, e este deve ser um dos papéis mais importantes da educação física escolar.

Como a cultura e o folclore brasileiro podem ser trabalhados pela Educação Física?

Todas as manifestações da cultura corporal devem ter um espaço nas aulas de Educação Física na escola. Os professores devem pesquisar cada uma das manifestações juntos com os alunos e escolher com quais eles serão analisados e vivenciados. Num pequeno desafio, pense quantos jogos de sua localidade você conhece, ou quantas danças. Mais interessante ainda: as escolas podem ver o mesmo conhecimento, mas o conteúdo ser diferente.

O estímulo aos jogos eleva o desempenho acadêmico dos alunos?

Essa é ainda uma grande questão, já que tudo pode ser visto de forma lúdica e prazerosa e não necessariamente deverá ser um jogo. Para entender melhor o jogo, devemos pensar nos objetivos que estão por trás da atividade. Temos as brincadeiras, que são explorações de uma atividade de forma livre e criativa; temos o jogo consensual, que é uma atividade organizada por normas construídas pelos participantes, as que podem mudar, para adequar-se ao momento e as características do contexto. E finalmente temos os jogos com regras que devem ser assumidas para poder participar.

E qual é a mais importante do ponto de vista acadêmico?

A brincadeira e o jogo consensual são muito mais pedagógicos do que o jogo com regras, já que eles são construídos pelos participantes e adequadas às características do contexto físico e social no qual, nesse momento, o grupo se encontra. Por exemplo, brincar com cordas pode ser um excelente desafio para que os alunos em grupos inventem e criem diferentes brincadeiras, e que depois mostrem suas descobertas aos colegas. Também, pode-se escolher aquelas brincadeiras que sejam mais relevantes para a turma e mostrá-las à comunidade escolar, seja num festival ou evento escolar.

O senhor defende que universidades e escolas brasileiras concedam bolsas de estudo para alunos com bom desempenho em algum esporte, assim como já ocorre nos Estados Unidos? Além disso, o senhor concorda com a necessidade de teste físico no vestibular para Educação Física?

Não concordo com nenhuma das duas. As Universidades devem formar pesquisadores em suas respectivas áreas de atuação, sejam eles professores, engenheiros, advogados, médicos... O professor de Educação Física deve ser um pesquisador das manifestações da cultura corporal de seus alunos e um transformador dessas descobertas em material ou conteúdo para estruturar o currículo escolar. Veja bem, o professor estuda de 3 a 5 anos para se tornar professor pesquisador, com autonomia e poder para transformar seu espaço de intervenção. As escolas não são locais para treinamento, o local do treinamento é o clube ou centro esportivo; a escola deve facilitar o desenvolvimento de todo o potencial do aluno. Mas esse potencial não pode ser somente o esportivo, o artístico também deve ser considerado.

FONTE com foto e links: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/faculdades-nao-preparam-professor-de-educacao-fisica-para-trabalhar-na-escola-13830108#ixzz3CuxVPLdL

Comentários

Por Rildo Ansaloni Gomes
em 25 de Setembro de 2014 às 13:43.

Gostei da entrevista,li muitas verdades, mas discordo na questão da bolsa, acho sim que o aluno deve receber bolsa por representar a universidade, seja no esporte ou em qualquer outro assunto de qulaquer outro curso. E também quero comentar sobre a questão da preparação, vejo que o aluno que apenas faz o curso de Educação Física indo a aula, estudando e passando até se formar não sai preparado para ser professor, mas há projetos para que complementem essa formação e acho que os alunos deveriam todos passar por projetos assim, iria ajudar e muito na sua formação.

Por Luiza Nascimento Matozinhos
em 24 de Novembro de 2014 às 18:44.

 

As Universidades tem se preocupado muito mais com outras coisas do que ensinar ao discente a trabalhar na escola. A pessoa faz os variados Estágios durante a sua  formação, porém esses Estágios não suprem a necessidade do futuro professor. Quando chega na escola, eles percebem que a realidade é outra. Como diz o autor, a  Universidade prepara os seus alunos para trabalhar em outras áreas fora da escola e não dentro da escola.

A Educação Física é uma disciplina muito importante dentro da Escola para o aluno, é um campo muito amplo, portanto dentro da escola podemos trabalhar o esporte em si, assim como brincadeiras, culturas, danças, etc.

Por Hugo Leonardo Barros de Paula
em 24 de Novembro de 2014 às 21:48.

Esse é um ponto que está sendo discutido atualmente na minha graduação, a preparação dos alunos para o âmbito escolar. Com alguns debates, posso ter uma visão de que os estágios não estão suprindo e nem estão preparando os professores corretamente para o que vai encontrar dentro de uma sala de aula. Mais projetos, carga horária maior nos estágios, para vivenciar realmente o que é uma escola e o que acontece dentro dela, seria uma forma de prepara mais os alunos durante sua formação. 

Por Thayane da Silva Campideli
em 24 de Novembro de 2014 às 22:03.

Infelismente, o curso de graduação prioriza em inúmeros casos a teoria de forma separada e antecedente à prática, notamos isso quando temos disciplinas teóricas ao longo de mais da metade do curso, e então no final do curso se iniciam os estágios. Neste caso, os estágios de tornam insuficientes para suprir as dificuldades que o futuro profissional vai encontrar no seu dia-a-dia. Medidas devem ser feitas para melhorar a associação da teoria com a prática e principalmente para antecipar as dificuldades futuras que muitas vezes são previsíveis e pouco sanadas em curso. 

Por Isabella Cristina de Carvalho
em 25 de Novembro de 2014 às 11:41.

Ao formarem os professores de Educação Física sofrem um choque de realidade e enfrentam grandes dificuldades, entre elas a falta de matérias da escola, algumas vezes resistência por parte dos alunos com as aulas ministradas, entre outros. 

Na maioria das faculdades os cursos de graduação ficam muito presos à área da saúde e à aulas teóricas e quando chega na reta final do curso os estágios não são suficientes para suprir as dificuldades dos profissionais, como disse a Thayane da Silva no comentário a cima.

Vejo nas bolsas e projetos de extensão uma grande oportunidade para o discente em ter um maior contato com as dificuldades e com a realidade da profissão, uma vez que quando chegam no mercado de trabalho, inclusive nas escolas, estão mais preparados.

Por Allan Gabriel da Silva Nascimento
em 25 de Novembro de 2014 às 12:17.

"O professor é sem dúvida quem mais influencia na qualidade da escola, sendo o agente mais importante, para tanto deve dominar e mediar os saberes, possibilitando acessocaos alunos de forma organizada e sistematizada, a partir da seleção de conteúdos planejados, movidos por uma intenção social, política, histórica e cultural (PARANÁ, 2008)." 
  "O problema entre teoria e prática no processo de formação docente não é um problema pontual, nem simples, como nos mostra Trojan (2008, p. 30): Historicamente, a relação entre teoria e prática no processo de formação docente tem se apresentado como um processo de difícil solução. Ainda que se busque a prática como fundamento da teoria e meio de conhecimento da realidade, as práticas de ensino em geral se mostram como meros campos de aplicação da teoria."   "Para Pimenta e Lima (2006), é preciso afastar essa compreensão da prática de ensino, ou estágio, ou seja, como sendo a parte prática do curso de formação docente. Para as autoras, é preciso estreitar a relação entre teoria e prática, pois, no processo de formação: [...] o papel das teorias é o de iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação, que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos, e ao mesmo tempo, se colocar 6 elas próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 12). "   Em muitos cursos de formação o profissional tem dificuldades em aliar o conhecimento teórico ao prático, uma visão cultural que percebo é a de não conseguir enxergar a teoria e prática como uma coisa só, muitos ainda possuem dificuldades de aplicar a teoria na prática, por insegurança e muitas vezes por pouco estudo por parte dos estudantes de Educação Física, onde muitos ainda possuem o pensamento voltado a parte prática somente. Na formação do Licenciado é fundamental que ele conheça aspectos teóricos, para que possa atuar com qualidade, e que com seu conhecimento possa enfrentar situações adversas e manter o nível de sua aula. Algumas Universidades Federais possuem projetos de extensão que são bons caminhos para quem deseja ter uma formação completa e não apenas um diploma ao final do curso, pois os estágios, com toda certeza não tem a capacidade de suprir todas as necessidades formacionais para atuação prática do acadêmico.   

 


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