JC e-mail 4042, de 30 de Junho de 2010. Qualidade no ensino, artigo de Guiomar Namo de Mello "No Brasil o lado estruturante do ensino é ainda mais importante" Guiomar Namo de Mello é diretora executiva da Fundação Victor Civita. Artigo publicado em "O Globo": Permeia o imaginário pedagógico brasileiro a visão do ensino como um processo de criatividade perpétua no qual o professor inventa e reinventa tudo de novo, todo dia. Essa visão ignora que o ensino, embora seja uma prática sujeita ao "toque" pessoal, como toda prática, tem um lado estruturante: precisa ser organizado no tempo e no espaço; o professor precisa saber o que ensinar (conteúdos); quando (ano escolar, série ou período); como ensinar (conjunto de saberes e fazeres que envolvem métodos e orientações para organizar a aula) e com que ritmo (ordenação e cadência). Para quem domina bem o conteúdo e a forma de ensiná-lo, a estruturação será um roteiro básico a ser adotado de modo flexível. Para o inexperiente ou que não sabe ensinar porque não aprendeu, a estruturação é a salvação de seus alunos: ajuda o professor a cumprir um roteiro de ações e procedimentos que propiciam aprendizagem aos alunos que estão na escola hoje, e facilita que ele acumule experiência e conhecimentos práticos, para ser mais criativo no futuro. No Brasil o lado estruturante do ensino é ainda mais importante. Grande parte dos professores chega à sala de aula sem dominar o conteúdo e os métodos de ensino. Esse professor enfrenta um desafio complexo, que é fazer aprender as crianças que vêm de um universo alheio à cultura escolar. Ele precisa de apoio contínuo para não acumular frustrações de fracasso diante da tarefa. E esse apoio precisa ser prestado já, porque os alunos de hoje não podem esperar. Esse é o sentido pleno da educação de qualidade para todos: para todos os que já estão na escola. Sistemas estruturados de ensino são também chamados de materiais curriculares, porque na verdade é isso que são: um currículo em ação, organizado de tal forma que pode ser colocado em prática na escola agora. Neles, os conteúdos e os fazeres do ensino estão estruturados com começo, meio e encerramento para cada etapa, que pode ser uma aula, uma unidade ou um ano inteiro. O estudo da Fundação Lemann oferece evidências para corroborar essa verdade óbvia, mas difícil de ser aceita: os alunos aprendem mais nas localidades que adotam os sistemas estruturados de ensino, porque a escola e o professor contam com recursos didáticos e assistência pedagógica que lhes dão apoio no dia a dia para definir o que, o quando, e o como ensinar e cadenciar o desenvolvimento do ensino. Não é preciso ser um grande especialista para entender que esse ordenamento do ambiente escolar é mais produtivo do que a cacofonia curricular que ainda hoje impera em muitas das nossas escolas públicas. (O Globo, 30/6) Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=71852

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