Segue o posicionamento do escritor e cevnauta Manuel Sérgio http://cev.org.br/qq/manuelsergio/ sobre a eleição no Comitê Olímpico Português. Laercio

A Verdade é o Todo... ...em José Manuel Constantino
Manuel Sérgio

O nosso tempo é um tempo hegeliano. Não estou a dizer que Hegel (1770-1831) o tenha previsto, nem defendo o retorno à sua filosofia. Mas, como o nosso, o seu foi um tempo de crise e de mudança. E, para entendê-lo, Hegel adianta que a ilusão é a ausência da perspetivação dialética das situações e a ingenuidade é a alienação na imediatez. Em poucas palavras: o mal reside em  não descobrir-se o Todo, nos fenómenos em que a vida se desentranha. A ilusão e a ingenuidade são, por natureza, adialéticas, incapazes que são de encontrar o Todo, no fenómeno...

Na apresentação da sua candidatura ao Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino fez suas as palavras de Hegel, A Verdade é o Todo, ao afirmar: “O olimpismo e a ação de um comité olímpico nacional requerem um pensamento e uma doutrina, que ultrapassam, em muito, o domínio das questões desportivas, em sentido estrito”. Enfim, como já o venho repetindo de há 40 anos a esta parte: o desporto é mais do que desporto, não é uma simples atividade física, porque dele emerge tudo o que o Homem é.

O José Manuel Constantino licenciou-se em Desporto e apresenta, hoje, um currículo profissional que integra os mais altos cargos da administração pública, também no âmbito do Desporto. Poderemos dizer, sem medo de errar, que toda a sua vida é uma preparação, para o cargo de presidente do COP, de que é um dos candidatos. No meu modesto entender: o principal candidato, que me perdoe o Comandante Vicente de Moura, que muito admiro e respeito, se acaso não concordar com a minha opção. É que não basta, para o COP, um novo presidente, precisa antes do mais de um presidente novo, na teoria e na prática.

 Voltemos ao Hegel no diagnóstico da crise que corrói a sociedade burguesa e que ele estabelece fundamentalmente nas Lições dos anos de 1805-1806 e, em diferentes prolongamentos sistemáticos, na Fenomenologia do Espírito e na Filosofia do Direito. Uma dessas contradições fundamentais traduz-se na redução do trabalho aos aspetos quantitativos, na proclamação do dinheiro, como a principal categoria da existência, e ainda na irracionalidade da produção pela produção, sem outros objetivos, para além da produção.

O “Desporto pelo Desporto” é também um desconhecimento de que a Verdade é o Todo, ou seja, de que não é possível transformar o Desporto, sem um estudo prévio do Todo de que faz parte. Chegou, com José Manuel Constantino, a hora da ação, acompanhada de reflexão. A História não cessa de ensinar-nos que foram muitas as revoluções confiscadas, porque a hora da reflexão falhou, de revoluções frustradas, porque o modelo quebrou de encontro à realidade que pretendia afeiçoar. De facto, é preciso partir do desporto que temos, do desporto que somos e não de outro, situado a ocidente ou a oriente. É que há modelos que, ou estão ultrapassados, ou não servem.

É fácil também dizer que não há dinheiro. Mas (e a interrogação levanta-se, imparável) será que não é possível fazer melhor, com o dinheiro que há?Há necessidade, por isso, de repensar, para refazer, o desporto nacional. É que a Verdade é o Todo e quem só sabe de desporto ainda não sabe de desporto. Esta frase disse-a eu ao José Mourinho, corria o ano de 1982. Há trinta e um anos, portanto! E ele repete, com frequência: ”Foi a frase que me ajudou a entender o futebol!”. Mas há muito oportunista, sem escrúpulos, que ainda não quis entender. Ora, estamos no momento em que o nosso desporto se deve pôr em causa, para melhor se poder definir e transformar. Chegou portanto a altura do José Manuel Constantino, no Comité Olímpico de Portugal!

FONTE: www.forumolimpico.org

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Março de 2013 às 09:15.

O “Desporto pelo Desporto” é também um desconhecimento de que a Verdade é o Todo, ou seja, de que não é possível transformar o Desporto, sem um estudo prévio do Todo de que faz parte.

Lembro-me de minha ida ao COB no prédio Avenida Central nos idos de 1982. Inocente, indaguei a um dos generais de pijama sobre a possível utilização nas camisas do símbolo olímpico em evento na AABB-Niterói que estava a organizar. Disse-me: "Envie-nos por escrito suas pretensões e nos reuniremos para deliberar". Mais não disse e retirei-me satisfeito com a resposta.

Não só o COB, mas outras instituições ligadas ao desporto sempre foram  reduto de militares aposentados. Após 1995 sofreu uma guinada espantosa que deixou a todos estupefatos. Tomara que aconteça o mesmo em Portugal.


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