Cevnautas, Vcs lembram do Lauro de Oliveira Lima, de "Escola Secundária Moderna", "Escola do Futuro" e "Mutações em Educação segundo McLuhan"? Há 50 anos ele escrevia: "O professor não ensina, ajuda o aluno a aprender". Ele até usou o exemplo do treinador de futebol em "Mutações em Educação..." (todomundo leu, confere? Fininho. Tem baratinho na Estante Virtual). Quem sabe se a mesma coisa dita por um estrangeiro, ainda mais um guru das tecnologias, meio século depois, dê jogo. Laércio

`Professor deve ajudar aluno a ser autodidata`
Davi Lita O Estado de São Paulo - 29/01/2012


Dos três adjetivos associados à sua pessoa - visionário, inventivo e futurista -, talvez o primeiro seja o mais adequado para descrever o norte-americano Marc Prensky, especialista em educação e em tecnologia. Prensky é conhecido pela criação dos termos `nativos digitais`, geração que nasceu durante a era digital, e `imigrantes digitais`, aqueles que nasceram antes da explosão digital.

Autor de livros premiados, como o Não me atrapalhe, mãe! Estou aprendendo e Aprendizagem baseada em jogos digitais, Prensky deve lançar no fim do ano sua sexta obra, que vai discutir a reformulação dos currículos ao propor mais ênfase à abordagem de habilidades voltadas ao estímulo do senso crítico, aprofundamento do pensamento, sociabilidade e relacionamento humano.

A convite da Fundação Telefônica Vivo, o escritor fará uma palestra na Campus Party 2013 (evento de inovação tecnológica) amanhã, em São Paulo. Na quinta-feira, Prensky conversou com o Estado por telefone de sua casa em Nova York.

Como o avanço da tecnologia agrava as dificuldades da educação hoje no mundo?

Marc Prensky - A educação formal que oferecemos não é muito boa, independentemente do lugar ou da rede de ensino. Isso porque vivemos num momento onde o tempo é cada vez mais acelerado, cheio de incertezas, complexidades. A educação que nós oferecemos às nossas crianças ainda é a mesma que era oferecida no século passado.

Como adaptar a escola ao novo contexto tecnológico?

Marc Prensky - A forma como os professores ensinam é a mesma. Eles ficam em pé na frente dos alunos e apenas falam, enquanto os estudantes apenas escutam, quando escutam, e fazem anotações. São métodos velhos. O melhor método é único, é o da parceria. E há várias formas de se alcançar bons resultados quando professores e alunos trabalham como parceiros. Estudantes podem fazer suas atividades e o professor deveria estar presente como um guia, uma espécie de técnico esportivo. Essa mudança conceitual é uma forma pedagógica que está mais relacionada a esse novo contexto.

Mas como se daria efetivamente essa parceria?

Marc Prensky - Professores e alunos devem conversar. Não sobre notas, mas sobre quem eles são. E como eles fazem as coisas que fazem. Isso é a principal coisa que falta. Eles acham que são dois grupos diferentes. Eles devem se enxergar como parceiros. Como pessoas que estão trabalhando juntas buscando resolver problemas comuns. Professores precisam conhecer as paixões dos estudantes, a maneira como eles pensam e como eles aprendem. E estudantes precisam saber mais sobre os seus professores. O que eles estão tentando fazer, quais são os seus objetivos. Esse relacionamento pode continuar formal, mas numa maneira menos distante.

O senhor propõe uma revolução nos métodos educacionais?

Marc Prensky - Eu não gosto de falar em revolução. Eu prefiro falar em adaptação a um novo contexto. O aspecto tradicional da escola deve ser preservado, mas ela deve ter como norte a preparação dos alunos para o mundo.

É onde entra a tecnologia?

Marc Prensky - Parte dessa adaptação deve ser feita com a tecnologia, porque as crianças vivem na era da tecnologia. Mas isso é apenas uma parte da questão. Nós devemos deixar os estudantes fazerem coisas úteis, devem pesquisar assuntos que serão discutidos em sala, utilizando cada vez mais a tecnologia. E a função do professor seria responder às dúvidas. A outra parte tem a ver com a maneira como ensinamos. O que ensinamos para as crianças é Matemática, Línguas, Ciência e Estudos Sociais e isso não é o que deveríamos ensinar pensando no futuro.

Deveríamos reformular o currículo então?

Marc Prensky - Sim, nós temos que mesclar as disciplinas. Mas o que eu proponho vai além disso. Nós deveríamos ensinar numa lógica de aprofundamento de habilidades de análise, pensamento, discussão, sociabilidade e relacionamento humano.

Como deve ser a postura do professor?

Marc Prensky - Os professores devem ser como técnicos esportivos. Eles devem ser bons em fazer com que os jogadores sejam bons. O professor deve trabalhar como se fosse um guia que incentiva o aluno a ser mais autodidata.

Os professores devem ser mais tecnológicos?

Marc Prensky - Os professores não deveriam nem se aproximar da tecnologia, porque a função do professor é observar o que os estudantes fazem e ter certeza de que o que eles estão fazendo é de boa qualidade. Eles devem saber apenas as possibilidades que a tecnologia pode oferecer.

Os professores não precisariam nem se familiarizar com o assunto?

Marc Prensky - Eles devem saber que é possível que os estudantes possam se comunicar bem através de um vídeo, e a partir daí avaliar a qualidade do material produzido. Ou seja, os professores não precisam ficar preocupados com a tecnologia. Agora, existe algo que é muito estúpido. Os professores dizem: agora nós todos iremos criar uma apresentação em power point juntos. O que os professores deveriam dizer é que todos precisariam apresentar alguma coisa sobre o conteúdo específico, usando a ferramenta que eles quiserem.

Então como tornar a escola mais atraente?

Marc Prensky - Aumentaríamos o interesse de alunos se mostrássemos a eles porque estamos ensinando o que ensinamos e para quê serve tudo isso. Não damos respostas aos alunos que perguntam porque estamos aprendendo equação quadrática ou porque eles deveriam estudar, em detalhes, a história da Grécia.

Você é um entusiasta dos cursos online, como os do educador Salman Khan, que viraram uma febre na internet?

Marc Prensky - As crianças deveriam ter acesso a cursos online. Mas acho que são velhos métodos em novos formatos. A velha educação apresentada de uma maneira online. Se você quiser promover essa velha educação, tudo bem. Mas se você acha que esse método defasado é ruim, então, fazê-las num formato moderno não adicionada nada. As pessoas ainda tentam consertar um sistema defasado de maneiras diferentes como essa.

QUEM É

O nova-iorquino Marc Prensky, de 67 anos, é considerado um dos maiores especialistas na aplicação de tecnologias nas áreas de educação. Ele é formado em Matemática e Francês com especializações pelas universidades de Yale e pela Escola de Negócios de Harvard. Com passagem por Wall Street, é também criador do site Spree Games e presidente da Game2Train, que utiliza jogos no processo de aprendizagem.

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 4 de Fevereiro de 2013 às 10:05.

Mais uma vez obrigado Laércio.

Pena não poder estar na primeira fila do auditório neste dia 4 para aprender com Marc Prensky e confirmar algumas premissas que intuitivamente já venho empregando há algum tempo e que podem ser vistas no Procrie e no Prezi.

Parece que sabemos todos o que fazer H.B. Adams dava máxima importância ao mestre e como ele deveria se conduzir quando afirmava: Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.

O tempo – afirmou Heráclito – é um jovem a brincar. (...) O importante é que cada homem saiba brincar com o tempo que brinca, de modo criativo, sem se esquivar aos seus dons. (Domenico de Masi)

Apregoamos no Procrie um ensino crítico, até porque todos percebem a fragilidade de nossas instituições de ensino, do maternal à universidade. Os currículos são jurássicos e ministrados com toda a "seriedade" possível, quando não são violentados pelas greves estudantis ou mesmo de professores. Colocamos em discussão vários temas a serem debatidos com professores e, estes, com seus alunos, tornando o ensino mais acessível e compreensível aos jovens.

O problema é colocar em prática - Nada deve ser repetido, mas inventado, criado e desenvolvido. Para tanto, há que saber explorar a intuição e criatividade dos alunos. Entretanto, qual o conhecimento que exibem na esfera da Metodologia e Pedagogia os nossos docentes? E mesmo os treinadores, como são formados?

Ensino crítico - "Trata-se de contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. É um treinamento decisivo para quem deseja mais do que reproduzir, mas inventar. O bom educador deve ensinar a seus alunos a olhar sempre com uma ponta de desconfiança aquilo em que todos acreditam e dar uma ponta de crédito a ideias ou projetos que todos desmerecem. Ninguém inventa nada se for servil ao conhecimento passado". (desconhecido)

Importância da Dúvida - No ensaio A Dúvida (Relume Dumará), o filósofo tcheco Vilém Flusser diz que "duvidar é um estado de espírito que pode significar o fim de uma fé ou o começo de outra. Em dose moderada, estimula o pensamento. Em dose excessiva, paralisa toda atividade mental". (em Procrie/Curso de Mini Voleibol)

Os próximos passos são os seus! - Certamente este é um modelo atrativo para acadêmicos, professores iniciantes que se disponham a enveredar por estudos metodológicos. Neste espaço obnubilado por mentes ainda não despertas para a Psicologia Pedagógica, criamos aspectos atrativos para aqueles que não contam com recursos ou modelos norteadores. Não verão escrito como fazer, mas sim o quê fazer. Por isso se adapta ao tamanho de qualquer atividade, não importa se nas escolas, clubes, praias ou, mesmo, em qualquer região desse imenso Brasil. (Prezi/Contributo ao Desenvolvimento do Voleibol) 

Por Edison Yamazaki
em 6 de Fevereiro de 2013 às 03:50.

Muita boas essas informações. Só de saber que tem gente querendo mudar algumas coisas na educação já é um alento. Agora, eu acho que essas mudanças precisam começar logo porque o mundo não irá esperar por reuniões para discutir o assunto.

Quem acha que o sistema atual não serve mais, precisa urgentemente partir para outra.

Como o Roberto, eu também havia "descoberto" ou melhor, desconficado de que algumas coisas precisavam ser diferentes, tudo isso empiricamente. Agora ouço vozes e estudos sobre mudanças necessárias para um ensino melhor. Tomara que essa idéia " pegue" e mais profissionais passem a analisar o que fazem e/ou fizeram. Mas a coisa precisa começar, não pode ficar somente nas intenções.

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 6 de Fevereiro de 2013 às 09:06.

Tenho me dedicado à missão de transferir conhecimento Pedagógico e não pretendo transferir o foco de meu trabalho no Procrie, até porque tenho confiança no que faço e cada vez mais aprendo com as observações de internautas. É o caso do incentivo para dar continuidade consignado pelo Edison. Grato, meu amigo.

Mas não só ele, pois existem milhares de anônimos que me seguem acompanhando meus escritos, o que soa como "elogio silencioso e permanente." Sinto-me lisonjeado por tamanha audiência. Vejam o que me diz o Google Analytics no período 14.5.2010 - 5.2.2013, aproximadamente 2 anos e 8 meses:

Visitas: 128 mil   -  Visualizações/páginas: 211 mil  -    Tempo médio/página: 00:02:15

Países: 117       -   Cidades: 1.946  -    Cidades BRASIL: 858  -   Cidades Portugal: 75

                                                             Visitas BRASIL: 114 mil  - Visitas Portugal: 8,7 mil

Estou empenhado nesse momento em promover Cursos Presenciais pelo País e, para tanto, produzi um projeto específico apresentado a duas entidades e aguardo pacientemente uma resposta. Caso seja feliz nesse intento, promoverei um Centro de Referência no Rio para 240 crianças e, através deles, o incentivo para que outras regiões sintam a necessidade e o apoio que o Procrie poderá proporcionar.

As linhas mestras do arcabouço metodológico e pedagógico á disposição em  http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/

Não adie sua visita, e como bem disse o Edison, vamos analisar as propostas e realizar um mutirão pedagógico factível para as novas gerações. Espero-os no Procrie www.procrie.com.br/procrienoprezi/ com acesso imediato ao Prezi. 


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