Eu participei, até agora, das etapas municipais de São Paulo e Jaguariúna e também da etapa estadual de São Paulo, sendo eleito delegado à etapa nacional da III conferência, que acontecerá em Brasília. Estive envolvido nas duas conferências anteriores mobilizando e debatendo na condição de gestor público. Porém, nesta, estava como pesquisador, sem vínculo formal com nenhum governo, seja municipal, estadual ou federal. Antes, havia um sentimento de que estávamos caminhando na direção de colocar o esporte e, principalmente, a Educação Física em um outro patamar. Mas tenho a impressão de ter sido, em certa medida, ingênuo. Participei das discussões no eixo temático Esporte Educacional. E o que percebi foi uma completa consolidação do senso mais comum sobre esporte, programas sociais e educação física escolar. Percebi que a decisão de colocar o País como protagonista no cenário internacional custou um preço ao setor crítico e aos professores e profissionais da Educação Física e do esporte. Há uma pressão sob as cabeças dos professores, dos gestores, jornalistas esportivos e dos atuais membros do Ministério do esporte em dar conta de planejar o quê fazer daqui pra frente? Nos tornamos reféns do esporte de alto rendimento. Prisioneiros da lógica e do fetiche, literalmente do feitiço, coisa-feita, da economia do esporte globalizado, excludente e mediatizado. Há dois universos: um, o universo quase autista dos dirigentes que vivem em um mundo dos negócios, principalmente com o patrocínio público; e o outro, da soberba, da fantasia, da vaidade e de uma lógica da ocupação de espaços político-eleitorais mesmo que isto custe o aprisionamento por mais 50 anos de qualquer possibilidade de alteração de uma ordem patrimonialista de se beneficiar de concessões públicas estabelecida pelo Estado Novo na gestão do esporte no Brasil. De fato, a sensação é de que o ministério do esporte optou por colocar um fim à história e decretar a universalização daquilo que nem eles perceberam que está acontecendo.
Comentários
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Aldemir José Ferreira Teles
em 11 de Maio de 2010 às 22:52.
Caro Alexandre,
quero parabenizá-lo pela sua crítica e autocrítica, quando se reconhece "ingênuo". Não gostaria de aprofundar certos temas neste espaço, mas devo considerar que há várias formas de promover o debate e ouvir sugestões, para construir uma política de esportes eficiente. E não tem de ser, necessariamente, com o assembleísmo populista e demagógico como nas Conferências em voga. Aqui em Recife um candidato a delegado levou para a I Conferência dezenas de militantes do MST para votarem e ele ser eleito. Isso com os militantes devidamente uniformizados. Este ano, em abril, eram tantos adolescentes que um dos coordenadores gritava para o público no momente das inscrições: "atenção, só os maiores de 16 anos poderão se inscrever". Desisti.
Algumas das proposições importantes aprovadas nas Conferências anteriores não se concretizaram até hoje. Exemplo da criação dos Conselhos municipais e estaduais de esporte. Pelos menos em Recife e em Pernambuco. Proposta que o secretário estadual de esporte desconversa sempre que é cobrado. Outras proposições aprovadas é melhor que não se concretizem mesmo, como aquele que recomenda a taxação da utilização das águas do rio São Francisco para investir no futebol feminino.
Não acho que precisamos de novas sugestões para efetivarmos uma política de esporte satisfatória. Basta utilizar os documentos existentes, na sua maioria, e carimbar embaixo: cumpra-se.
Enfim, me disponho a dialogar sobre o tema, o qual tenho debatido e escrito.
abraço
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Rubens Guimaraes Pinheiro Silva
em 15 de Maio de 2010 às 23:37.
Nobres colegas,
As PROPOSTAS da 3ª Conferência do Esporte Mineiro foram encaminhadas à Comissão Organizadora Nacional para subsidiar as discussões da III Conferência Nacional do Esporte, que será realizada em Brasília de 03 a 06 de junho de 2010. Os delegados eleitos serão responsáveis por subsidiar a elaboração do Plano Decenal de Esporte e Lazer.
Para adquir o documento das propostas, favor solicitar pelo e-mail: rubinho.ef@hotmail.com
Obrigado e um forte abraço,
Prof. Rubinho
Delegado da III Conferência Nacional do Esporte
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Joelson Melo Alves
em 16 de Maio de 2010 às 01:12.
Eu também sou delegado representante de Minas Gerais e estarei na III conferência nacional do esporte em Brasilia.
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Alexandre Machado Rosa
em 16 de Maio de 2010 às 09:08.
Olha, eu estou convencido de que os profissionais que não compartilham com a lógica do pensamento e do financiamento ancorada no alto rendimento do esporte, devam ter uma participação ativa na III Conferência. Não basta fazer coro com o senso comum sustentado pelo COB e pelas emissoras de televisão que veem no esporte uma grande fonte de negócios e ganhos financeiros. Para mim e creio que para muitos, o esporte está e vai muito além desta lógica. Vamos à III Confer~encia sustentar a bandeira da massificação do esporte e de suas amplas dimensões, fora do pensamento excludente e elitista defendido pelo COB.
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Aldemir José Ferreira Teles
em 16 de Maio de 2010 às 10:24.
Caro Alexandre, quero insistir que a Conferência não vai mudar os rumos da política pública de esportes no Brasil. Tudo não passa de um grande encenação populista e demagógica. Basta conferir com os documentos já produzidos das Conferências anteriores. Bem, de qualquer forma é preciso que cada um verifique com seus próprios olhos e esperar o tempo passar para confirmar as minhas previsões.
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Alexandre Machado Rosa
em 16 de Maio de 2010 às 13:59.
Caro Aldemir, eu penso que não é bem assim. Algumas resoluções que foram fruto da primeira conferência, como o bolsa atleta e a lei de incentivos fiscais tiveram origens na primeira conferência nacional do esporte, na qual eu estava como delegado. O que chamo a atenção, na verdade, é para a lógica centrada na dimensão do esporte de alto rendimento que está prevalecendo nas orientações dos debates. Isto em função da agenda do país: Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Acredito que é necessário não cairmos no mesmo erro histórico comandado pelos militares durante a ditadura (1964-1985). Houve um grande debate originado na academia que colocou em xeque o pensamento centrado na aptidão física e na descoberta de talentos para o alto rendimento, resgatando a gênese do esporte moderno, qual seja: a educação de jovens e crianças para a vida em sociedade. O esporte de alto rendimento excluí e proporciona experiências nem sempre agradáveis. Acredito que o debate e a aplicação, principalmente na educação física escolar, de conceitos contidos nos parâmetros curriculares e na Constituição, no seu artigo 217, ainda não ganharam corpo e são muito suscetíveis às pressões que estão aumentando sobre a formação de atletas para 2016.
Penso que é necessário que os profissionais comprometidos com uma concepção acertada do atual desenvolvimento histórico da educação física brasileira e do campo esportivo, têm a tarefa de intervir neste debate para que não sejamos testemunhas de mais um sufocamento da educação física e a total entrega do esporte ao pensamento dos dirigentes das organizações esportivas do país: federações, confederações, e principalmente do COB.
Alexandre Machado Rosa
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Aldemir José Ferreira Teles
em 16 de Maio de 2010 às 16:16.
Alexandre, este é um bom debate, daqueles que contribuem para o esclarecimento e, dessa forma, aperfeiçoar a forma de intervenção. É interessante como podemos, assim, refinar nossa visão dos fatos. Sendo este espaço curto para expressar e fundamentar as discussões, vou enviar para o seu e-mail dois textos publicados na imprensa de Pernambuco, onde comento alguns dos temas presentes no nosso diálogo. Para compreender, entretanto, o "grande debate originado na academia" e os conceitos amplamente difundidos que demonizaram o esporte em meados da década de 80, como aquele que diz que o "esporte de alto rendimento excluí" ou é excludente e outras coisas mais, sugiro o texto do Go Tani "Educação Física desenvolvimentista vinte anos depois". Hoje, está mais claro ainda o caráter político-ideológico daqule movimento, com vários seguidores até hoje, embora alguns dos mentores daquelas idéias se declarem atualmente arrenpendidos das críticas que fizerem. Bem, mas essa é outra história, que tive o privilégio de ver de perto a sua origem e de ter convivido fraternalmente com seus autores, embora nunca tivesse concordado exatamente como as críticas foram feitas, porque tinham matriz ideológica. Por isso fui voz isolada durante muitos anos, assim como muitos acadêmicos brasileiros importantes que fizeram e fazem a história do esporte no Brasil. Um abraço.
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Alexandre Machado Rosa
em 16 de Maio de 2010 às 19:24.
Caro Aldemir, não sou contra o esporte de alto rendimento, muito pelo contrário. Acredito em todas as dimensões do esporte, inclusive no alto desempenho. No entanto, penso que a crítica feita às políticas de esporte implementadas durante o regime militar pautou-se pelo fracasso do modelo proposto. O modelo da sociedade brasileira está ancorada na exclusão de parcela da população desde suas origens. As escolas do país são deficitárias no atendimento e no ensino e aprendizagem. A educação física escolar perdeu espaços na escola em função da orientação durante os anos 1970 baseada na tese de desempenho e aptidão física, excluindo os menos aptos ou não detentores de habilidades e capacidades físicas apropriadas à prática sistemática de treinamentos e aperfeiçoamento. E os professores de educação física foram a ponta de lança deste modelo. Este modelo fracassou e levou com ele os espaços da educação física escolar do interior da escola. Deixar-se levar pela fantasia de que é fácil tornar-se potência esportiva, sinmplesmente desconsiderando-se as condições materiais objetivas da sociedade é incorrer, no meu ponto de vista, em mais um erro. Acompanhei e conheci de perto os esforços feitos pelos ingleses para reorganizar as políticas públicas de esporte daquele país. E perceba que foram eles os inventores do modelo de esporte moderno que conhecemos. Mas eles se fecharam, ao mesmo tempo que foram afastados das competições de futebol na Europa em função da violência e do hooliganismo. Houve um esforço de reorientação de todas as ações esportivas do país. A massificação e a inclusão das pessoas na prática sistemática de atividades físicas e esportivas atravessou os anos 1990 e 2000. Este esforço culminará com os Jogos Olímpicos de 2012, ou seja, a realização dos Jogos não será algo dissociado de uma ação coordenada de esforços envolvendo o poder público, as agências de fomento, as federações, os clubes e o comitê olímpico inglês. Eu acredito que a participação da sociedade na elaboração das políticas públicas, não só no esporte, é questão fundamental, pois ela garante a possibilidade de que opiniões que vêem de diferentes maneiras os caminhos para o desenvolvimento do esporte na sociedade sejam emitidas no mesmo espaço.
No entanto, o momento propicia o ressurgimento ou a manutenção da velha ordem que continua enclausurada no sistema esportivo brasileiro, ou seja, nas federações, confederações e no COB, principalmente. São personagens que estão há décadas à frente das entidades esportivas, devorando os recursos da Lei Piva e dos patrocínios na manutenção da estrutura burocráticas das organizações. Eu acredito no poder das conferências, mas creio que só a participação de amplos setores e da exposição de opiniões diferentes será capaz de construir um caminho para que efetivamente a população sinta-se parte integrante do desenvolvimento físico-esportivo do Brasil.
Alexandre Machado Rosa
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