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RÚGBI 11/12/2010 | N° 10921
‘A essência do rúgbi é a amizade’
ENTREVISTA: Luis Gerardo Serei, argentino, professor de Educação Física

Ex-jogador e treinador de rúgbi, o argentino e professor de Educação Física Luis Gerardo Serei esteve em Caxias do Sul em outubro, quando realizou um workshop para integrantes do Serra Rugby. Serei, 54 anos, mora em Córdoba, e atualmente trabalha mais com o futebol. Porém, sempre manteve ligação afetiva com o rúgbi.

Pioneiro
: Na Argentina o rúgbi está entre os esportes preferidos? Não se compara ao apelo do futebol, mas as pessoas gostam?

Serei: Sim, eu, particularmente, gosto de ambos. Como jogo, gosto mais do futebol. Mas quando era pequeno vivia em um ambiente onde muito se jogava rúgbi. E conheci o rúgbi pela sua essência, que é a amizade. Isso me fez praticá-lo e começar a entendê-lo. Com a amizade compreendi que se podem desenvolver muitas coisas. O futebol é um jogo muito bonito, mas não tem a amizade que tem no rúgbi.

Pioneiro: Por quê?

Serei: Porque se profissionalizou, porque no futebol primeiro vem o resultado, o importante é sempre ganhar, e no rúgbi o fundamental é compartilhar o tempo com os amigos. Na hora do jogo é o mesmo. Se não tenho apoio dos meus amigos e companheiros, não posso ser nada.

Pioneiro:
E existe uma confraternização ao final dos jogos, não é?

Serei: A amizade e a confraternização são fundamentais. Temos o terceiro tempo, quando compartilhamos um momento e vemos que o rival não é um inimigo (as duas equipes confraternizam após o jogo, independente do resultado). É um amigo que está do outro lado. E se não tivéssemos esse rival não poderíamos jogar. Então valorizamos muito o rival também.

Pioneiro: Existe a ideia de que o rúgbi seja um esporte violento e isso pode afastar algumas pessoas de praticá-lo. É verdade?

Serei: Sim, é a imagem que passa quando alguém assiste friamente. É um jogo de muito contato, mas não é violento. Violência é quando se faz alguma coisa que não está dentro das regras. Creio que as partidas de futebol sejam mais violentas que o rúgbi, porque se perdeu o respeito ao rival. Violência é fazer coisas que o rival não espera. No rúgbi os jogadores estão esperando que o outro empurre. É um jogo de contato, mas é leal. E não é qualquer um que pode jogar, é preciso ter um grande interesse espiritual, ser muito educado, responsável e racional.

Pioneiro:
Quando a pessoa conhece melhor o esporte, perde essa ideia de violência?

Serei: Quando se começa a jogar, se passa a entender as regras. É um jogo de muito contato, se golpeia muito, é aparentemente violento. Então é preciso aprender que toda a força deve ser para o jogo, e não contra o corpo de um rival. Em uma partida de rúgbi há menos lesionados do que em uma de futebol. Isso demonstra que há um interesse de cada jogador em ser leal.

Pioneiro: Quais são as lesões mais comuns?

Serei:
Há muitas lesões nos membros superiores, nos ombros, porque há mais contato nessas partes do que nas pernas.

Pioneiro:
Quais as expectativas para a popularização do rúgbi no Brasil?
 
Serei:
O primeiro passo é pela televisão. As pessoas começam a ver os campeonatos e se interessam. E todos podem jogar rúgbi, seja gordo, magro, fraco, forte. É só aproveitar o potencial de cada um, porque cada posição tem as suas peculiaridades. No futebol, uma pessoa que pesa 150 quilos não pode jogar. No rúgbi sim. Então essa pessoa se sente útil em poder praticar um esporte. A forma de popularizar é começar desde criança. Como é um esporte recente, é difícil conseguir treinadores para os pequenos. Eu praticava rúgbi há mais de 40 anos, quando não era um esporte tão popular como agora. Hoje há crianças com quatro anos jogando rúgbi na Argentina. Simplesmente correm com a bola na mão, sem muita preocupação com as regras. É como se começa.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3138492,157,16072,impressa.html

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