Cevnautas dos Estudos Olímpicoa, aqui vai mais um artigo do cevnauta Gustavo Pires http://cev.org.br/qq/gpires/ no Jornal Primeiro de Janeiro, edição de 27/2/2013. Laércio
Implosão Olímpica
Gustavo Pires
Há muito tempo que o desporto em Portugal tem dinheiro a mais. Não é que o desporto não precise de mais dinheiro, mas porque não é claro que o dinheiro que o Orçamento de Estado atribui ao desporto, desde à Administração Pública nacional, regional e local até aos clubes, Federações e ao Comité Olímpico de Portugal (COP) seja bem gasto. Mas não só. Tenho para mim que o sistema desportivo se habituou a viver numa atitude de subsidiodependência parasita que custa muitos milhões aos bolsos dos contribuintes sem que se vejam resultados. Por outro lado, basta ver o currículo de alguns dirigentes septuagenários para se perceber que o Estado anda a entregar o dinheiro dos contribuintes a gente que já não tem nem competência nem capacidade para o gerir.
Por isso, quando vemos dirigentes desportivos septuagenários pretenderem ocupar os mais altos lugares da administração desportiva pretendendo auferir um complemento de vencimento, pensão ou reforma, temos de dizer que o desporto corre o risco de implodir pela simples razão de que tais pessoas vão perder completamente o controlo da situação. Nestas circunstâncias, é necessário fazer um apelo ao Ministério Público a fim de que se possa apurar se o dinheiro que pretendem ganhar para além dos vencimentos ou reformas tem cobertura legal. Porque, se não tem, a situação tem de parar imediatamente e aquele dinheiro que já receberam no passado deve ser devolvido com os respetivos juros aos cofres do Estado. É dinheiro público que está em jogo até porque ninguém acredita que exista uma qualquer empresa privada disposta a patrocinar uma organização desportiva a fim de pagar o “gancho” ou o complemento de reforma aos dirigentes desportivos.
As dificuldades nos próximos anos vão ser terríveis para o Movimento Olímpico. Por isso, os atuais atletas e aqueles que hoje os representam devem ter em consideração que cada euro que se paga de complemento de reforma ou de vencimento a um dirigente é um euro que se tira à preparação olímpica. E todos já ouvimos falar de atletas com bolsas em atraso, mas nunca ninguém ouviu falar de dirigentes com complementos de reforma por pagar.
Nesta hora de mudança, é necessário ver longe (pelo menos a doze anos) e congregar esforços à volta de um projeto de desenvolvimento que, na transparência das decisões, na competência dos processos e na partilha de responsabilidades entre homens e mulheres, se abra à sociedade e aposte na juventude. A menos que se deseja um implosão olímpica.
FONTE: http://www.oprimeirodejaneiro.pt/opj/diarias.asp?cat=Desporto&cfg=0&idioma=item_lingua1&item=3480
Comentários
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Edison Yamazaki
em 19 de Março de 2013 às 23:32.
Parecem que todos querem mudanças nos seus respectivos Comitês Olímpicos e nas suas ações. Parece também que existem dirigentes "da antiga" que não querem largar o osso. Será que o que acontece no Brasil é herança cultural? Tudo é muito parecido.
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Roberto Affonso Pimentel
em 20 de Março de 2013 às 16:15.
Edison e demais brasileiros,
Cada caso é um caso. Cuidado para não passar despercebido o esforço que um único indivíduo vem realizando no Brasil desde 1973 quando foi eleito presidente da Federação de Voleibol do Rio de Janeiro. Estou falando do Carlos Arthur Nuzman, a quem teço críticas, mas também reconheço seu papel histórico no rumo dos desportos no Brasil.
A herança cultural, como diz, está vinculada a todos os povos, haja vista seu comentário sobre as judocas japonesas que se rebelaram contra os maus tratos. No Brasil não pode ser diferente, todavia, há olhos de ver e olhos de enxergar. A Federação, a Confederação e o COB, além de outras instituições que comandavam o desporto nacional sempre foram apáticas e ineficientes. Neste ponto concordo com você: herança cultural que também está se desenrolando em Portugal, como você bem percebeu.
Creio que estamos alguns anos à frente de muitos países especialmente pelo rompimento da tal herança de que fala. Falta-nos apenas nos orgulharmos de estarmos a promover competições mundiais em nosso País sem medo de errar. Por que não acreditar que podemos fazer?
Não seria esta a grande lição que nos dá o Presidente do COB? Não lhe parece um beija-flor que tenta apagar o incêndio da floresta com o seu exemplo e destemor? Se cada um fizer a sua parte, sairemos todos vencedores e felizes.
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Edison Yamazaki
em 28 de Março de 2013 às 21:09.
Roberto,
Nada contra o Nuzman, nada contra o esporte olímpico brasileiro.
O que me incomoda é perceber que nada é feito para melhorar. Os problemas são detectados e tudo fica por isso mesmo. Aqui no Japão as judocas reclamaram por escrito, tentaram esconder o problema, mas um dos dirigentes achou melhor revelar tudo. Não se passaram duas semanas e tudo já estava resolvido. Mudaram até a estrutura hierárquica na federação de judô. Foram contratadas ex-atletas olímpicas que criticavam ferozmente o atual sistema machista. Essas mulheres/atletas farão a supervisão da equipe feminina conversando com as atletas e servindo de "ponte" . Tudo em menos de um mês.
Todos os dirigentes das federações do país, juntamente com o presidente do comitê nacional se reuniram para pedirem desculpas por todas as trapalhadas, tudo devidamente documentado por câmeras de TV em escala nacional. O assunto ficou nos noticiários e "mesas redondas" foram realizadas até chegarem num acordo. Não teve choro nem vela.
Sei da importância do Nuzman para o voleibol brasileiro. Acho até que o vôlei não estaria no patamar atual sem o seu esforço. Nuzmam ter chegado á presidência do COB foi até natural. Mas não é por isso que devemos deixá-lo por lá eternamente no comando de tudo. Os problemas graves (desvio de verbas, corrupção, etc) que acontecem nas federações precisam ser apuradas e os responsáveis punidos. No Brasil não acontece nada disso. Lembro de problemas nas federações de natação, basquete, judô e tênis, mas não me lembro de ter lido nada sobre os resultados das apurações e nem as punições para os envolvidos.
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Roberto Affonso Pimentel
em 29 de Março de 2013 às 09:00.
Edison,
Como disse, no Japão as mulheres se rebelaram e um dos dirigentes (imagino que do judô) mostrou tudo. No Brasil aconteceu algo similar com um ex-campeão revelando a público mazelas na Confederação. Saiu o dirigente e ele tomou o seu lugar. Hoje parece que foi destituído por problemas na administração.
O Nuzman deve ser retirado do comando de tudo porque há corrupção nas Confederações? No Brasil as Confederações são autônomas. Imagine se o Nuzman teria feito alguma coisa quando na CBV se o presidente do COB tivesse autoridade para impedir! Guindado à presidência, ele - Nuzman - não deve interferir nos processos afetos às respectivas entidades. Cumpra-se então, a lei! Ora, creio que seria melhor, então, colocar o Chefe de Polícia, o gaúcho Beltrame, como interventor. Ele certamente fecharia todas, mandaria os velhinhos para casa e com sua equipe policial acabaria com a corrupção no país. Parece até que só existem corruptos e corruptores no Brasil.
Comparar diferentes culturas me parece um erro histórico. Especialmente quando não nos aprofundamos nos fatos ou recorremos a especialistas. Tomara que tais exemplos nos inspirem e possamos algum dia nos nivelar à cultura milenar japonesa, com tudo o que ela oferece de bom. Afinal, temos poucos anos de vida e engatinhamos nesse sentido. Lembra-se da civilização japonesa quando tinha nossa idade?
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