Cevnautas dos Estudos Olímpicos,, segue artigo do Fórum Olímpico português, do brasileiro Alcides Costa. Indicação do Prof. Gustavo Pires (OBRIGADO!).
Alguém tem informação sobre a atuação do Solidariedade Olímpica no Brasil - quanto recebemos dos US$ 134 milhões distribuidos entre 2009 e 2012, e quais os estudos realizados? Tem estudos ou é só ajuda humanitária? Quem representa o Brasil no Solidariedade Olímpica? A informação rareia aqui: http://www.cob.org.br/movimento-olimpico/solidariedade-olimpica. Laercio
Solidariedade Olímpica: A Visão Internacionalista de Pierre de Cobertin Alcides Vieira Costa (*)
As preocupações do COI relativas ao desenvolvimento do desporto nos países menos desenvolvidos começaram com um programa de ajuda assinado por Pierre de Coubertin em 1924. Dizia Pierre de Coubertin:
The time has come for sport to advance to the conquest of Africa, that vast continent which it has as yet hardly touched and to bring to its people the enjoyment of ordered and disciplined muscular effort, with all the benefits which flow from it.[1]
Coubertin pretendia instituir, em primeiro lugar, os Jogos de África que seriam celebrados, pela primeira vez, em Alexandria, no Egito, no ano de 1927 (acabaram por não ser realizados) e, em segundo lugar, uma medalha para a propaganda do desporto em África, a ser distribuía profusamente pelo Continente.[2]
Depois, em 1962, foi criada por Jean de Beaumont, representante do COI em França, a Comissão para a Ajuda Olímpica Internacional. Esta decisão foi tomada na 59ª Sessão do COI, realizada em Moscovo, de 5 a 8 de junho de 1962, com o objetivo implementar uma estratégia de afirmação do Movimento Olímpico (MO) em África e na Ásia através da ajuda técnica e financeira aos países emergentes do colonialismo. Diz a ata:
Comte de Beaumont reports on behalf of the Commission over which he presides: It has decided to call itself CAIO: International Olympic Aid Committee. Comte de Beaumont visited 11 African and Asiatic countries and expects to visit more next September.[3]
A Comissão para a Ajuda Olímpica Internacional tinha um propósito nobre e um profundo significado moral. Contudo, as dificuldades financeiras à época não permitiram que ocorressem significativas contribuições para os CONs que mais necessitavam. Esta situação só veio a mudar consideravelmente, a partir do momento em que o COI começou a gerir recursos mais avultados. Em consequência, em 1968, foi criada uma Comissão com o mesmo nome a par das demais Comissões do COI.
Em 1979, durante a Assembleia Constituinte da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais (ACONs), realizada em Porto Rico, foi apresentado um pedido ao COI para reservar 20% dos direitos de transmissão televisiva para apoiar a participação dos CONs no Jogos Olímpicos, montante a ser administrado pela ACON, ao tempo presidida por Mario Vázquez Raña.
Em 1981, de acordo com a decisão de Antonio Samaranch, a Comissão, sob a nova designação de Comissão da Solidariedade Olímpica, adquiriu a sua forma definitiva. Passou a ter como missão satisfazer as necessidades dos CONs e, em 1983, o lugar de Diretor da Solidariedade Olímpica passou a ser exercido a tempo pleno.
A partir dos Jogos Olímpico de Los Angeles (1984), com o aumento das receitas televisivas, foi possível apoiar dezenas de CONs, tendo em atenção critérios decididos pela Comissão da Solidariedade Olímpica. O aumento das receitas dos direitos televisivos, relativamente a Atlanta (1996) e a Nagano (1998), permitiram que a Solidariedade Olímpica tivesse ao seu dispor, entre 1997 e 2000, um orçamento de aproximadamente US$ 122 milhões, 64% a mais do que no quadriénio anterior.[4] Foi melhor do que nada, mas não foi muito, na medida em que, segundo a Olympic Marketing Matters (2001), durante os vinte anos da presidência de Samaranch, o COI adquiriu cerca de US$ 12 biliões em direitos televisivos e patrocínios.[5]
Em 2001, o presidente do COI, Jacques Rogge decidiu reforçar o trabalho da Comissão da Solidariedade Olímpica desencadeando uma maior descentralização política e administrativa para as Associações Continentais, CONs e ACON.
No quadriénio 2001-2004, foi desencadeado um plano quadrienal de atribuição de 40% dos fundos para o desenvolvimento do desporto, a partir da ACON e das Associações Continentais. De 2005 a 2008, a Comissão de Solidariedade Olímpica ampliou o processo de descentralização para as Associações Continentais de maneira a aumentar a assistência financeira aos CONs.
Jacques Rogge ao apresentar as estimativas das receitas dos direitos televisivos para os períodos de 2006-2008 e 2010-2012, que eram de US$ 2.6 bilhões e US$ 3.8 bilhões, respetivamente, considerou que isto significava que mais recursos poderiam ser distribuído para a família olímpica.
The total revenue for the 2006 and 2008 Games had been USD 2.6 billion, while for the 2010 and 2012 Games, contracts had so far been signed for a total of 3.8 billion, although this was dependent on the Games being held successfully. This meant that more could be distributed to the Olympic family members.[6]
No quadriénio 2009-2012, foram distribuídos US$ 134 milhões através dos programas mundiais, para além de US$ 122 milhões distribuídos pelas Associações Continentais de CONs.[7]
Mais recentemente, Jacques Rogge, em São Petersburgo, Rússia, durante uma reunião do COI com a Associação das Federações Olímpicas de Verão (ASOIF) anunciou que, relativamente a 2013, as Federações Olímpicas irão receber um total de US$ 519 milhões, cerca de 400 milhões de euros. O que significa que o sucesso dos Jogos Olímpicos de Londres (2012) vai traduzir-se num aumento de 75% relativamente a 2008, em que as federações receberam um total de US$ 296 milhões, cerca de 230 milhões de euros. A repartição das verbas pelas diferentes federações será realizada tendo em atenção os bilhetes vendidos para os espetáculos desportivos, as audiências televisivas e as visitas às páginas de Internet das diferentes modalidades.[8]
Hoje, a principal missão da Solidariedade Olímpica é planear, organizar e controlar a execução dos programas de apoio aos CONs, em especial para aqueles que, de acordo com o estipulado na Carta Olímpica, mais necessitam. Assim sendo, a Comissão é responsável por gerir as atividades da Solidariedade Olímpica, através de: a aprovação de programas; aprovação de orçamentos; execução dos programas e suas necessidades logísticas; atividades de controlo, bem como todas as outras ações relacionadas com os objetivos para os quais foi criada.
A Comissão da Solidariedade Olímpica tem uma estreita relação de trabalho com a Comissão Executiva e Presidente do COI, informando-os regularmente sobre as suas operações. A sua gestão é responsável pela execução e controle dos acordos adotados, possuindo autonomia financeira, técnica e administrativa, sendo totalmente financiada pela parte dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos, que pertence aos CONs.[9]
A Solidariedade Olímpica Internacional (SOI) é uma Comissão do Comité Olímpico Internacional (COI) que tem por objetivo gerir o apoio aos Comités Olímpicos Nacionais (CONs) a fim de que estes possam desenvolver o desporto nos respetivos países.
Hoje, a Regra 5 que faz parte do Capítulo 1º relativo ao Movimento Olímpico diz o seguinte:
A Solidariedade Olímpica tem por fim organizar a assistência aos CONs, em particular os que tem maior necessidade. Tal assistência assume a forma de programas elaborados em conjunto pelo COI e pelos CONs, com a assistência técnica das Federações Internacionais (FIs), se necessária.
O texto de aplicação da Regra 5 esclarece:
Os objetivos dos programas adotados pela Solidariedade Olímpica são contribuir para:
1. Promover os princípios fundamentais do Olimpismo;
2. Prestar assistência aos CONs na preparação dos seus atletas e equipas, tendo em vista a participação nos Jogos Olímpicos;
3. Desenvolver o conhecimento técnico desportivo dos atletas e treinadores;
4. Melhorar o nível técnico dos atletas e treinadores em cooperação com os CONs e FIs, nomeadamente através de bolsas de estudo;
5. Formar gestores de desporto;
6. Colaborar com organizações e entidades que prossigam estes objetivos, em particular através da educação olímpica e da propagação do desporto;
7. Criar, sempre que necessário, instalações desportivas simples, funcionais e económicas, em cooperação com organismos nacionais ou internacionais;
8. Apoiar a organização de competições de nível nacional, regional e continental, sob autoridade dos CONs e assistir os CONs na organização, preparação e participação das suas delegações nos Jogos Regionais e Continentais;
9. Encorajar programas conjuntos de cooperação bilateral ou multilateral entre CONs;
10. Incitar os governos e as organizações internacionais a incluírem o desporto nos programas de assistência oficial ao desenvolvimento. Tais programas são geridos pela Comissão da Solidariedade Olímpica.
(*) Alcides Vieira Costa é cidadão brasileiro de Porto Alegre - Rio Grande do Sul. Atualmente vive em Portugal. É Doutorado em Sociologia e Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. É Prof. Associado na Universidade Lusíada onde leciona nos cursos de Educação Física e de Gestão do Desporto. Faz parte da Direcção do Fórum Olímpico de Portugal.
[1] “Chegou o momento para o desporto avançar na conquista de África, um vasto continente que o desporto só muito dificilmente tocou a fim de levar as suas populações o prazer do esforço muscular ordenado e disciplinado com todos os benefícios dele decorrentes.” In: Bulletin du Comité International Olympique, n. 8, February 1963, p. 64.
[2]In: Bulletin du Comité International Olympique, n. 8, February 1963, p. 64.
[3] O Conde de Beaumont relatou à Comissão que preside que foi decidido chamar CAIO - Comité de Ajuda Olímpica Internacional. O Conde de Beaumont visitou 11 países africanos e asiáticos, e espera visitar mais no próximo mês de setembro.” In: Ata da 59ª Sessão do COI - Moscovo, 5 a 8 de junho de 1962, p.6.
[4] In: Ata da 106ª Sessão do COI - Lausanne, 3 a 6 de setembro de 1997, p.29.
[5]In: Olympic Marketing Matters, n. 19, july 2001.
[6]In: Ata da 120ª Sessão do COI - Beijing, 5 a 7 e 24 de agosto de 2008, p.6.
[7]Zammit, M. T. & Henry, I. P. (2012). Olympic Solidarity: Evaluating Equity in Olympic Funding Programmes. Centre for Olympic Studies and Research. Loughborough University. EASM Congress, 18-21 September 2012, Aalborg, Denmark.
[8] COI distribui 400 milhões de euros de lucro dos Jogos Londres (2012) In:
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/desporto/detalhe/coi_distribui_400_milhoes_de_euros
_de_lucro_dos_jogos_londres2012.html, consultado em 2013-05-29.
[9]International Olympic Committee (2006). Olympic Solidarity - Creation and Development. Published by Olympic Solidarity in two editions English/French. Switzerland: Courvoisier Arts Graphiques SA.
FONTE: http://www.forumolimpico.org/content/solidariedade-olimpica
Comentários
Por
Bárbara Schausteck de Almeida
em 30 de Junho de 2013 às 09:37.
Em 2008-2009 solicitei essas informações ao COI mas eles disseram que não poderiam passar esses dados, somente o próprio COB. Em anos anteriores, conforme uma revista que tive acesso, existia um investimento nos esportes de inverno. Atualmente parece que o COB tem investido na formação dos técnicos e gestores pelo Instituto Olímpico Brasileiro. Mas seria ótimo ter maiores informações sobre isso.
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