Cevnautas do Futebol, Ó que artigo bom pras feiras de ciências! Laércio
A física da bicicleta no futebol
O esporte predileto dos brasileiros é analisado à luz da ciência em artigo da CH. Destaque especial para Pelé, que explorava como ninguém as leis da física, para executar o famoso chute de bicicleta perfeito.
Por: Marcos Duarte
Publicado em 15/04/2014 | Atualizado em 15/04/2014
A física da bicicleta no futebol
Grandes jogadas no futebol requerem conhecimentos intuitivos de física avançada que poucos têm. (foto: Sxc.hu)
A física – cujo nome vem do grego physis, natureza – é a ciência que estuda os fenômenos naturais. Os corpos em movimento é um deles. E, para isso, usa conceitos como energia, força, velocidade, aceleração, espaço, tempo etc. Dá para notar, então, que jogadores de futebol podem ser considerados grandes especialistas em usar a física para fazer uma jogada – afinal, fazer com que a bola adquira um movimento em curva acentuada, como em um chute com efeito do ex-lateral esquerdo da seleção brasileira Roberto Carlos, sem dúvida, requer conhecimentos intuitivos de física avançada que poucos têm.
Dizem que, no futebol, o gênio é aquele que desafia – e, como dito popularmente, até mesmo ‘viola’ – as leis da física. Não. É justamente o contrário: só o ‘perna de pau’ quer, em vão, violar as leis da física. O jogador talentoso tem tais leis incorporadas a ele e as usa como se fosse mágica.
Dito isso, vamos entender como Pelé – para muitos, o maior dos gênios no futebol – explorava as leis da física, para executar o famoso (e raro) chute de bicicleta perfeito.
Conservando o movimento
Entre tantas leis da física, a que nos interessa aqui é a chamada conservação da quantidade de movimento angular, pois, com ela, podemos explicar certos movimentos no futebol.
Um corpo que gira está dotado de quantidade de movimento angular. Essa grandeza é obtida quando multiplicamos a chamada velocidade angular pela inércia de rotação de um corpo.
Velocidade angular de um corpo é simplesmente o quanto ele roda por unidade de tempo. Por exemplo, se um ginasta dá um salto mortal (uma cambalhota no ar) por segundo, dizemos que sua velocidade angular é de 360 graus por segundo (360º/s) ou de 2 pi radianos por segundo (2 p rad/s).
É mais fácil iniciar ou parar com as próprias mãos o giro de uma roda de bicicleta do que uma roda de trator, pois a roda de trator tem massa maior
Inércia rotacional é uma medida da dificuldade de alterar o estado do movimento de um corpo. Por exemplo, é mais fácil iniciar ou parar com as próprias mãos o giro de uma roda de bicicleta do que uma roda de trator, pois a roda de trator tem massa maior. Dizemos, portanto, que a inércia de rotação da roda de trator é maior que a da bicicleta.
Note outra sutileza: esta inércia de rotação também irá depender da distância da qual a massa está do eixo de giro – quanto maior esta distância, maior a inércia rotacional. Por exemplo, a inércia rotacional do corpo do ginasta que dá uma cambalhota em torno de um eixo imaginário que passa por seus quadris de um lado a outro é cerca de três vezes maior quando ele está com o corpo estendido do que quando está com o corpo todo encolhido, abraçando as pernas na altura dos joelhos.
E, agora, a lei de quantidade de movimento angular entra em cena. Se o ginasta estiver girando no ar com o corpo estendido e, então, se encolher (isto é, diminuir em três vezes sua inércia rotacional), sua velocidade angular irá aumentar na mesma proporção (três vezes), pois o produto entre velocidade angular e inércia de rotação – ou seja, a quantidade de movimento angular – é conservado no ar.
Como uma tesoura
Os registros de bicicletas de Pelé mostram que ele sempre a executava de forma peculiar: antes de chutar a bola, as duas pernas se distanciavam, se cruzavam no ar e voltavam a se separar, como o movimento de uma tesoura – e esse detalhe torna o movimento da bicicleta ainda mais belo.
Mas qual a função – se há alguma – do movimento da perna que não chuta (esquerda) no sentido contrário do movimento da perna que chuta, momentos antes do contato com a bola? Uma possibilidade: a forma com que Pelé executava a bicicleta tem uma razão além da estética, pois, talvez, o tal movimento fosse para usar a seu favor a lei de conservação da quantidade de movimento angular.
Do ponto de vista da mecânica – área da física que estuda o movimento e o repouso dos corpos –, em um corpo com segmentos articulados (como o humano), a quantidade de movimento angular total é a soma das quantidades de movimento angular de cada segmento.
Como no caso do ginasta que dá uma cambalhota no ar, quando um jogador executa uma bicicleta, a única força externa que atua sobre ele é a da gravidade, que não provoca rotação do corpo como um todo. Isso significa que, para um corpo no ar, sua quantidade de movimento angular total se conserva. Aqui, é fundamental compreender que essa lei de conservação se aplica somente ao corpo como um todo, pois a quantidade de movimento angular de cada segmento pode variar (quase) livremente.
Artigo completo com fotos e gráficos: http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2014/313/a-fisica-da-bicicleta-no-futebol/view
Comentários
Nenhum comentário realizado até o momentoPara comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.