A equipe campeã do mundial interclubes da FIFA 2011, esse time do Barcelona que enche os olhos dos espectadores, nos faz pensar sobre o aproveitamento das catergorias de base, na equipe principal.
Um time que possui mais da metade de seus atletas titulares oriundos das categorias de base, é algo para se impressionar e se seguir o modelo.Ainda mais quando se trata de um modelo adotado há mais de 30 anos, e que vem apresentar seus resultados no fim da década passada e início dessa década, e que contraria os princípios de nosso futebol nacional, o qual se discute a qualidade atual e o futuro em uma próxima Copa do Mundo.
Apesar de termos equipes que investem de forma significativa nas categorias de base, a transição juniores-profissional em muitas delas não ocorre de forma adequada, ao meu ver, colocando em xeque o desempenho e muitas vezes até o futuro de atletas com qualidade que são desaprovados na equipe profissional.
Tome-se o exemplo da equipe do Corinthians, bicampeão mundial sub-17 vencendo a equipe do Barcelona em ambas finais.Não se veem os atletas serem aproveitados na equipe profissional, (o time campeão brasileiro em 2011 possuia como titular apenas o goleiro Julio Cesar formado nas categorias de base) ao contrário da equipe catalã.
Fora a questão de que o lucro com atletas formados na base é muito maior do que se contratarem atletas profissionais.Não estou dizendo que não se deve contratar, mas o lucro quando o atleta vem da base é muito maior, e pode superar os investimentos feitos. Lembro-me da venda do zagueiro Breno ao futebol alemão, que na época rendeu aos cofres do São Paulo uma quantia que permitia construir mais de um CT como o de Cotia.
Se for uma questão de modelo de gestão, e de cultura, ainda é possível mudar, pois talentos nosso país tem de sobra, e isso é indiscutível, mas hão de ser lapidados, e hoje em dia infelizmente (ou felizmente), somente isso já não é necessário para ser o maior país do mundo no futebol e vencer campeonatos.
Comentários
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Nelson Aleixo de Sousa
em 11 de Janeiro de 2012 às 23:10.
Hoje é uma situação complicada, lembro-me muito bem nos anos 70 que no C R Flamengo havia um dito que "Craque o Flamengo fas em casa" e vemos hoje que acontece ao contrário, pagando milhões de reais para montar um time em que muitas veses não da certo, vejo também que a maioria desses garotos quanto dispontam geralmente é por um lance ou um gol bonito e acham que ja é hora de colocar-lo no time principal, e quando recebem um proposta do exterior e este jovem acaba caindo no esquecimento ou ficando como se diz no popular "queimado" o processo desses jovens é que estão pulando etapas,a transição da base para o principal tem que ser natural, como li no texto exposto, esse time do Barcelona é de encher os olhos e dar medo em qualquer time, eles olharam para o futuro plantando sementes e cuidando como muita dedicação, é um trabalho a longo prazo que sempre se colhe bons frutos, agora fico pensando... como iremos formar uma seleção para a disputa da copa do mundo aqui no Brasil? esperar chegar 3 meses antes e sair pegando um e outro? ja vimos este filme várias veses, tenho em mente que também se deve acontecer urgente uma renovação nesses que estão aí, sempre os mesmos na direção do nosso futebol, uma bela renovação seria bom de cima para baixo, abraço a todos.
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Roberto Affonso Pimentel
em 12 de Janeiro de 2012 às 08:48.
Daniel,
(extraído do livro "O código do talento", de Daniel Coyle)
Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve levar em conta um misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. É um sentimento que nos leva a perguntar: "De onde veio aquilo"? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam tão talentosos?
Coyle recorre a um professor de matemática frustrado, Adriaan Dingeman De Groot, nascido em 1914, psicólogo holandês. Após alguns estudos, testes e experiências comprovou na prática que "a diferença entre alguém que compreendia uma linguagem e alguém que a desconhecia era uma diferença de organização". Assim, a habilidade consiste em identificar elementos importantes e agrupá-los num sistema significativo. Esse tipo de organização em blocos maiores e carregados de sentido é o que os psicólogos chamam de chunking. A pesquisa científica tem mostrado como as habilidades são construídas por pedaços e também se aplicam às ações físicas, como um ginasta aprende exercícios de solo quando monta e interliga seus blocos, eles próprios feitos de outros blocos. Ele agrupa vários movimentos musculares do mesmo modo como agrupamos várias letras para formar qualquer palavra.
De Groot publicou seu estudo em 1946, sem nenhuma repercussão. O trabalho do psicólogo holandês foi descoberto 20 anos depois por Anders Ericsson, que reconheceu De Groot como um pioneiro da psicologia cognitiva. Quer me parecer que outro holandês – Johan Cruijff – logo após o retumbante sucesso da metodologia empregada pela seleção de seu país em 1974 com o técnico Rinus Michels, dispôs-se a desenvolvê-la na formação de novos atletas a partir de sua instituição voltada para o futebol.
Repare que o efeito mostrado pela equipe atual do Barcelona não exclui o talento, muito ao contrário, cria condições para que ele se manifeste e desenvolva, a partir da contínua posse de bola, uma vez que a equipe atua em bloco e determinada a impedir que o adversário jogue. Por outro lado, uma equipe que atue à base de dois ou três atletas (Santos) ficará impedida de efetuar suas principais jogadas, uma vez que não consegue neutralizar a eficiente marcação sob pressão em todo o campo de jogo. Possivelmente seja uma explicação por que o Messi não consegue atuar tão bem quando no selecionado argentino.
“Cruijff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo" ( Josep Guardiola). Se, atualmente, há no futebol jogadores polivalentes que podem atuar sem posição fixa no campo, sem prejuízo de suas atuações individuais, muito se deve a este genial craque e não menos a seu treinador no Ajax, Barcelona e na Seleção Neerlandesa, Rinus Michels. (Wikipédia)
Como poderá concluir, basta lembrar ou observar ainda hoje como são instruídos os nossos jovens atletas. Aliás, parece-me que a CBF instituiu um Curso de Técnicos de Futebol que em dois meses (?) habilita qualquer indivíduo para a função. Este também um dos diferenciais na formação em qualquer esporte, pois não evoluem e simplesmente repetem as mesmas receitas dos nossos avós.
Veja textos sobre o assunto também em www.procrie.com.br/: Habilidade vs. Talento, Como se Adquire Habilidades? (I, II), Como Ensinar, Psicologia e Forma de Treinar. Espero-o por lá com seus comentários.
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Daniel Alecksey Rodrigues Koscak
em 12 de Janeiro de 2012 às 13:09.
Ótima contextualização Roberto, com certeza irei conferir o link que você me passou.O que ainda me dá certa esperança é ver que alguns treinadores do interior de SP tentam desenvolver tal sistema de jogo ("Futebol Total"), e posso acompanhá-los de perto, sem o medo de irem na contramão do que acontece de forma geral no futebol nacional.Talvez adotem tal sistema pelos bons resultados obtidos nos últimos anos, mas ainda é necessário discutir o sistema de forma mais ampla, não somente dentro das 4 linhas.Basta analisar certas questões como a ausência do regime de "concentração" como ocorre em nosso país, e outros tópicos que chegam a entrar no parâmetro cultural.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para perguntar se os estudos na Metodologia e Pedagogia da iniciação do voleibol, os quais você se refere em seu perfil, se aplicam ao futebol, e de que forma se dão, se não for incomodar.
Abraço
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Roberto Affonso Pimentel
em 12 de Janeiro de 2012 às 15:28.
Daniel, e colegas professores ou não de qualquer desporto,
A Pedagogia e a Metodologia pretendem descobrir princípios e normas aplicáveis à VIDA. Estão calcadas em teses que a Psicologia nos provê a cada momento. (In)felizmente não há verdades, mas trata-se de uma busca incessante. Assim, para entender e melhor aplicar seus ensinamentos, cabe a qualquer indivíduo que se propõe à tarefa de educar e ensinar outrem estar devidamente habilitado e instruído. Como verá após algumas leituras, não lhe basta possuir um diploma. Tenho certeza absoluta que tão pouco as faculdades de Pedagogia conseguem se sair bem nesta tarefa. É uma calamidade!
Veja no Procrie - www.procrie.com.br/novosumario/ uma extensa relação de postagens. As mais remotas (final da relação) estão recheadas de assuntos pertinentes que tanto se aplicam ao voleibol como a qualquer outro desporto e, especialmente, a todas as condições de aprendizagem do conhecimento humano. Veja que já fiz pequenas palestras inclusive para estudantes de Física (UFRJ) sobre como "Aprender a Ensinar". Verá que os princípios pedagógicos do matemático húngaro G. Pólya, tanto se aplicam às ciências exatas, como ao futebol, basquete e ao ensino de História e Línguas.
Em "Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem" (3 artigos) e "Teoria vs. Prática" (postados em nov./2009) há interessantes abordagens que podem nortear o início de qualquer trabalho com jovens. Há pouco, neste mesmo CEV (Comunidade Futsal, Iniciação Esportiva?), um colega nosso encantou-se com o Procrie e solicitou permissão para postar alguns dizeres em seu próprio blogue. Sinaliza-se, assim, a importância de leituras e ensinamentos da Psicologia Pedagógica para exercer a nobre tarefa de um professor e até mesmo de um treinador.
Veja o alcance de meu trabalho em http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/ que estarei atualizando em breve, especialmente com dados estatísticos que dão conta da aceitação que vimos alcançando não só no Brasil como nos cinco continentes. E apareça no Procrie com seus comentários e dúvidas.
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Edison Yamazaki
em 8 de Março de 2012 às 02:56.
Daniel,
Sua preocupação faz todo sentido. Acho que no Brasil a pouca utilização dos jogadores da base é uma questão cultural. Tem também o fato de muitos clubes existirem somente para formar jogadores e vendê-los, pouco se importando com o futuro dessa "mercadoria".
A divisão é bem clara. Clubes pequenos do interior formam as categorias de base e quando um desses meninos começam a aparecer, são "vendidos" para os clubes maiores. E é lá que ele começa a lapidação (não tão lapidados assim). As péssimas condições em que trabalham os profissionais do futebol também entram nessa contagem. Mal remunerados e loucos para descobrir algum talento para viver de glórias. É um processo de sobrevivência, coisa de gente e país pobre de conhecimento.
O futebol está tão contaminado que mesmo aqueles que gostariam de tentar mudar o seu "conteúdo" acaba sucumbindo à mesmice. A questão é encontrar uma maneira de fazer com que os clubes tenham profissionais que não fiquem à mercê de diretores torcedores/amadores ou políticos interesseiros. Que consigam deixar o futebol profissionail e sua base longe daquilo que o dirigente valoriza muito: a vaidade, o status, as diferenças de classes sociais.
Pelo Brasil afora são vários os clubes que possuem em sua diretoria políticos profissionais. Alguns até como seus presidentes. É assim nas equipes mais poderosas até naquelas que sobrevivem vendendo jogadores. Para refrescar a memória: Laudo Natel, Abi Chedid, Onaiareves, Carneiro, Marcio Braga, Francisco Horta, Marin, Eurico Miranda, etc. A lista não tem fim.
Por fim, o futebol como negócio está muito mal administrado. Não existe uma visão clara para a formação de uma equipe, um método de trabalho, um sistema de jogo, etc. O resultado é a contratação de profissionais que ficam perdidos em meio a todas essas incógnitas ficando a mercê do humor dos seus dirigentes e jogadores. Neimar peitou Dorival Jr. e venceu. Ronaldinho fez o mesmo com Luxemburgo e venceu. Já ouviu alguma coisa parecida na Espanha?
Abraços,
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