Texto publicado hoje (3/7) no Blog do Torcedor, Jornal do Commercio, Recife. http://jc3.uol.com.br/blogs/blogdotorcedor/canais/copadomundo/2010/07/03/e_a_historia_se_repete_36_anos_depois_74517.php

HOLANDA X BRASIL

E a história se repete 36 anos depois

POSTADO ÀS 08:26 EM 03 DE Julho DE 2010

Artigo de

Aldemir "Dema" Teles, professor da UPE, doutorando em Neurociências e ex-preparador físico do Santa Cruz

Há exatos trinta e seis anos, 3 de julho de 1974 o Brasil perdia para a Holanda por 2 x 0, na Copa do Mundo da Alemanha. A Holanda participava pela primeira vez, de um mundial de futebol. A fama do futebol holandês se resumia até então as equipes do Fyenoord vencedor da Copa da Europa em 1970 e o Ajax, que havia conquistado o tricampeonato dessa mesma Copa em 71, 72 e 73 e onde atuava Johan Cruyff, um dos maiores craques da história do futebol. A Holanda estreou no mundial vencendo o Uruguai por 2 a 0 no dia 15 de junho. A forma surpreendente de jogar dos holandeses de imediato chamou a atenção de todos. O zagueiro uruguaio Bargas, ainda atônito depois do jogo, disse que os holandeses desencadeavam uma vertigem total, viam-se camisas laranjas por todos os lados, “há um goleiro e dez jogadores que fazem tudo”.

            Após conquistar o primeiro lugar na chave, a Holanda já tinha conseguido o status de forte favorita ao título e passou a ser conhecida como o “carrosel holandês” ou a “laranja mecânica” pela magia e encatamento do futebol que apresentava. Na segunda fase do torneio, após vencer a Argentina por 4 a 0 e a Alemanha Oriental por 2 a 0, era a vez de enfrentar o Brasil. O jogo aconteceu em Dortmund. A noosa seleção havia conquistado o tricampeonato mundial no México, em 1970, mas esse foi o primeiro mundial do Brasil após a era Pelé. Os especialistas falavam em entressafra de bons jogadores, o que se confirma se considerado o jejum de vinte e quatro anos sem o título, só reconquistado em 1994 nos Estados Unidos.

            Cruyff em seu livro “Futebol Total” comenta essa partida contra o Brasil de forma interessante. “Brasil: um só nome evoca a imagem de um gigante do futebol, um time legendário, um mito”, diz o craque holandês. Ele confessa, com humildade, que tinha sérias reservas quanto a possibilidade de vencer o jogo e havia uma certa dose de nervosismo. Conta que os primeiros vinte minutos foram os mais difíceis para a equipe laranja, “parecia que a sombra do gigante sul-americano pesava sobre o nosso ânimo”. Passados cerca de trinta minutos e depois de muitas dificuldades diante da serenidade dos brasileiros em controlar o ímpeto dos holandeses, eis que o capitão Cruyff, o comandante, o maestro, resolve, num lampejo, esquecer o temor e jogar fora o complexo de estar à frente dos invencíveis, liderando os companheiros para a conquista da vitória. “Perdemos todo o respeito por eles e pelo que sem dúvida são e significam na história do futebol”, diz o capitão. O primeiro gol holandês, marcado por Neeskens, após o passe de Cruyff, surge aos cinco minutos do segundo tempo. Cruyff, ele mesmo, aos vinte minutos, define o placar com o sgundo gol. Holanda, finalista, 2 x 0 Brasil. A Holanda jogou com Jongbloed, Suurbier, Rijsbergen, Haan, Krol, Jansen, Neeskens, Van Hanegem, Rep, Cruyff e Rensenbrinck. A equipe brasileira jogou com: Leão, Zé Maria, Luís Pereira, Marinho Peres e Marinho Chagas; Paulo César Carpegiani, Rivelino, Paulo César Caju (Mirandinha), Waldomiro, Jairzinho e Dirceu. Zagalo, nosso treinador, que havia dito ironicamente que não conhecia Cruyff e apenas o refrigerante Crush, popular na época, declarou após o jogo: “Caímos diante de um time de primeira classe”. O Brasil viria a perder também da Polônia por 1 x 0, tendo ficado com o quarto lugar.

*                   A Holanda apesar de ter encantado o mundo perdeu a final para a Alemanha, comandada por outro gênio o “Kaiser” Franz Beckenbauer, por 2 x 1.

*                   Para o saudoso Armando Nogueira a seleção holandesa não conquistou o mundial, mas conquistou o mundo, sendo cortejada como uma espécie de namorada de todas as torcidas.

*                   Agora a história se repete, derrota brasileira por 2 x 1. E, mais uma vez, os “laranjas” não se intimidaram com a fama, com o favoritismo ou com a ginga dos brasileiros. Foram frios, calculistas, jogaram uma partida em que, embora distante da magia do “carrossel holandês”, marcaram com perfeição, dominaram os espços e impuseram a sua forma de jogar. Enquanto o Brasil, coincidentemente jogando de azul como em 74, após ter tido o melhor início de partida de todos os jogos da Copa até então, teve que se render a disciplina tática e a técnica dos holandeses. Agora, é esperar e se preparar novamente para o hexa, em 2014.

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