Sexta-Feira, 05 de Março de 2010 | Versão Impressa - O Estado de S. Paulo

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Componentes.montarInfoNoticia(editoria, subeditoria, idPagina, GUIDPagina, "infoPage") Olimpíada e Copa trazem prejuízo social

ONU conclui que eventos afetam moradia de boa parte das pessoas

Jamil Chade

Componentes.montarControleTexto("ctrl_texto") A organização de Copas do Mundo e Jogos Olímpicos causou a expulsão de milhares de pessoas de suas casas e, na grande maioria dos casos, teve impacto negativo sobre a situação de moradia para a população. A conclusão é da ONU, que apresenta hoje, em Genebra, seu primeiro relatório completo sobre o impacto de megaeventos esportivos sobre a vida das pessoas nas cidades que os sediam e desfaz o mito de que apenas trazem benefícios à população.
No caso do Rio de Janeiro, alerta o estudo, a ameaça de expulsão de moradores de áreas que serão usadas para os Jogos de 2016 é real e o governo terá de dar uma solução.

O trabalho de elaboração do levantamento coube a uma brasileira, Raquel Rolnick, relatora das Nações Unidas para o Direito à Moradia e hoje uma das principais especialistas mundiais na questão. A ONU buscou contato com a Fifa para tratar do assunto. Sequer foi recebida. "Experiências passadas mostram que projetos de reurbanização adotados para a preparação de eventos resultaram em violações extensivas de direitos humanos, em especial o direito à moradia"", alertou Rolnick em seu documento, que será apresentado hoje a governos de todo o mundo.

Expulsões, encarecimento de moradia, falta de alternativas e pressão sobre os mais pobres, que acabam empurrados para as periferias, têm sido algumas das marcas mais características das Copas e Jogos Olímpicos. Para a brasileira, os benefícios econômicos desses eventos não são distribuídos de forma adequada à população e o legado "é longe de ser positivo"".
"Velhas disparidades parecem se exacerbar diante de um processo de regeneração e embelezamento das cidades"", afirma. "As consequências de longo prazo de megaeventos incluem fatos preocupantes.""

Os exemplos citados pela ONU são inúmeros. Em Seul, em 1988, a Olimpíada afetou 15% da população, que teve de buscar novos locais para morar - 48 mil edifícios foram destruídos. Em Barcelona, em 1992, 200 famílias foram expulsas para a construção de novas estradas. Em Pequim, a ONU admite que 1,5 milhão de pessoas foram removidas de suas casas. A expulsão chegou a ocorrer em plena madrugada. Moradores que se opunham foram presos.
Outra constatação é a alta nos preços de casas. Em Seul, a inflação foi de 20% nos oito meses anteriores aos Jogos. O preço da terra subiu 27%. Em Barcelona, a alta foi de 131% nos cinco anos antes da Olimpíada, contra mais de 50% em Sydney. Em Atlanta, 15 mil moradores foram expulsos de suas casas em 1996 e a inflação no setor imobiliário passou de 0,4% para 8% no ano dos Jogos.

Para Londres/2012, as áreas próximas aos locais dos eventos já sofrem inflação quatro vezes maior que a média nacional.

Em relação à Copa da África, a relatora alerta que os compromissos do governo de proporcionar ganhos sociais com o evento não estão se confirmando. O orçamento para isso é baixo e a Fifa sequer aceitou falar com Raquel sobre o assunto. A ONU pede que a entidade modifique seus critérios para a escolha da sede das próximas Copas. Não houve resposta.
JOGOS DE 2016

Para a Olimpíada do Rio, a ONU já alerta para possíveis violações ao direito à moradia. Um dos problemas seria a Vila do Autódromo, que poderia ter seus moradores expulsos para as obras do evento. Outra preocupação é com relação à falta de informação sobre compensações que moradores de algumas áreas terão de receber.




OS IMPACTOS NA HABITAÇÃO


1988
Olimpíada de Seul
Em Seul, 15% da população foi violentamente expulsa e 48 mil edifícios foram demolidos em 1988 durante a preparação dos Jogos Olímpicos. A especulação imobiliária aumentou em mais de 20% o valor dos apartamentos e em mais de 27% o de terrenos


1992
Olimpíada de Barcelona
Duzentas famílias foram despejadas para abrir caminho para a construção de novas rotatórias e outras adaptações urbanísticas antes do Jogos Olímpicos de 1992. A especulação imobiliária em torno dos Jogos resultou num aumento de 131% no preço dos imóveis


1994
Copa do Mundo dos Estados Unidos
Em Dallas, cerca de 300 pessoas foram expulsas de suas residências por causa da preparação para a Copa do Mundo 1994


1996
Olimpíada de Atlanta
Em Atlanta, em torno de 15 mil residentes de baixa renda foram expulsos da cidade por causa dos Jogos. Cerca de 1.200 unidades de habitação para os pobres foram destruídas em nome dos Jogos




2000
Olimpíada de Sydney
Em Sydney, os relatórios indicam que cerca de 6 mil pessoas foram desalojadas na preparação para os Jogos Olímpicos de 2000. A especulação imobiliária em torno dos Jogos elevou em 50% o preço dos imóveis


2008
Olimpíada de Pequim
Projeto envolveu realocação de moradores em larga escala. Foram relatadas denúncias sobre despejos em massa, por vezes conduzidos por homens não identificados. Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram deslocadas


2010
Copa da África do Sul
Mais de 20 mil moradores foram removidos e transferidos para áreas empobrecidas da cidade. O ministro da Habitação observou que os planos de construir milhares de casas de baixo custo poderiam ser afetados por mudanças nas demandas do orçamento na preparação para a Copa de 2010


2010
Jogos da Commonwealth de Nova Deli
Em Nova Deli, na Índia, 35 mil famílias foram expulsas das terras públicas na preparação para os Jogos


2010
Olimpíada de Inverno de Vancouver
Em Vancouver, mais de 1.400 unidades habitacionais de baixa renda foram perdidas em relação à especulação imobiliária gerada pelos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010



2012
Olimpíada de Londres
Na capital da Inglaterra, sede dos Jogos de 2012, que antecedemo os do Rio, o preço médio dos imóveis no entorno olímpico aumentou mais de 3%, enquanto no restante da cidade os valores caíram aproximadamente 0,2 por cento



2016
Olimpíada do Rio
No Rio de Janeiro, diversos assentamentos informais estão sob ameaça de despejo, por causa da construção de instalações esportivas para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016

Comentários

Por Marcos Boccatto
em 5 de Março de 2010 às 11:06.

Caros companheiros do esporte,

Imagino ser prematura a indicação que eventos como os citados causam prejuizos sociais. Trabalho nisto há 33 anos e só tenho visto ganhos sociais com o esporte.

Temos de discutir mais sobre o assunto e ter claro em nossa lembrança, que existe uma linha muito forte ainda, que até poucos anos colocava o esporte e em especial o futebol, como atividade de vagabundos e fanfarrões. Temos ainda uma linha contraria ao esporte de rendimento, que busca o "lazer" como ideal de politica esportiva, que a meu ver é uma politica extremamente excludente. 

Por Egleizer Melo
em 5 de Março de 2010 às 11:37.

E se de repente o governo anuncia que vai doar um terreno e ajudar na construção de casas em outra região para essas pessoas que moram em locais impróprios, surge os oportunistas do MST e fincam acampamento. Olha que sinuca de bico.

Mas nisso tudo, o meu maior medo é quanto ao dinheiro público gasto nessa história,dado o exemplo dos Jogos Panamericanos.


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