Cevnautas da Genética,

Conforme o costume lemos com alegria o artigo publicado na sessão de divulgação científica da BoaForma. Partimos então para a busca do artigo original para indexar na biblioteca do CEV. Sim, sonhamos com o dia em que os jornalistas patricios de divulgação científica ofereçam o link dos artigos que dão fundamento às suas matérias, como fazem os jornalistas estrangeiros.

Encontramos apenas o artigo de divulgação da healthday, que tem uma entrevista com o Dr. Rodney Dishman, explicando que os estudos ainda são preliminares, vão ser apresentado no cogresso de fisiologia e receberão o aval científico quando forem publicado em revista com boa avaliação inter-pares. Entendi direito?

https://consumer.healthday.com/fitness-information-14/misc-health-news-265/your-love-or-hate-of-exercise-might-be-in-your-genes-716545.html

Laércio

Amar ou odiar exercícios pode ser definido pela sua genética

Estudo americano prova que a sensação de bem-estar após a atividade física varia de pessoa para pessoa – e isso define quem vai gostar ou não de treinar  

Por Giulia Granchi access_time 9 nov 2016, 19h46 -       

Por que certas pessoas têm disposição para treinar cinco vezes por semana ou, ainda, têm um pique invejável para acordar antes das 6 da manhã para uma corrida enquanto outros mortais não encontram ânimo nem para matricular-se na academia? O cientista Rodney Dishman, da Universidade da Geórgia, talvez tenha a resposta: a pré-disposição para gostar ou não de exercícios pode ser genética.  

Em um estudo, ele descobriu que os genes, especificamente aqueles que modulam a dopamina (neurotransmissor liberado pelo cérebro), podem desempenhar um papel na propensão que as pessoas têm para amar ou odiar exercícios físicos. “Nosso estudo sugere que as variações nos genes que se comunicam com a dopamina e outros neurotransmissores estão diretamente ligados a um nível alto ou baixo na atividade física”, explica Rodney. Segundo o pesquisador, evidências científicas sugerem que algumas partes do cérebro, ligadas aos movimentos e ao sistema motor, interagem para fazer com que as pessoas escolham ou evitem se exercitar.  

A pesquisa de Dishman também considerou personalidade e traços comportamentais, tais como estabelecimento de metas, autocontrole, aptidão e níveis de habilidade, influências sociais, acesso a atividades físicas e outros fatores que pesam na propensão para a escolha de uma vida fisicamente ativa.  

FONTE: http://boaforma.abril.com.br/fitness/amar-ou-odiar-exercicios-pode-ser-definido-pela-sua-genetica/

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 14 de Novembro de 2016 às 16:45.

À atenção dos amigos interessados, uma vez que a novel Neurociência tem algo mais a nos acrescentar, libertando-nos dessa teoria genética um tanto fatalista para o gosta atual. Vejam o trecho abaixo.

Sobre Genética e Neurociência

Conheçam o Sr. Mielina

Depoimento do pesquisador e professor George Bartzokis, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). Do livro "O código do talento", Daniel Coyle.

-- Por que os adolescentes tomam decisões ruins?

-- Porque, embora já tenham todos os neurônios, estes não estão completamente recobertos de isolante.

Enquanto o circuito neural inteiro não estiver isolado não ficará instantaneamente disponível para alterar um comportamento impulsivo no momento em que este acontece, apesar de ser capaz de fazê-lo. Adolescentes entendem a diferença ente o que é certo e o que é errado, só demoram em descobrir qual é qual.

Sopradores de Talento

Desde Darwin, o modo tradicional de conceber o talento é este: os genes (o inato) e o ambiente (o adquirido) se combinam para fazer de nós o que somos.  

Nessa visão, os genes são as cartas cósmicas que recebemos, cartas essas reembaralhadas a cada nascimento, e o ambiente é o jogo no qual as recebemos. De vez em quando o acaso produz uma perfeita combinação de genes e ambiente, combinação que resulta num talento extremo ou gênio.

O modelo baseado na distinção entre o inato e o adquirido já demonstrou tremenda popularidade. Além de se claro e de quebrar paradigmas, explica uma grande variedade de fenômenos no mundo material. Mas, em se tratando de explicar o talento humano, esse modelo já não é bem sucedido: aliás, é vago a ponto de não fazer sentido algum.

Acreditar que o talento resulta de fatores genéticos e de fatores ambientais é como acreditar que os biscoitos resultam do açúcar, da farinha e da manteiga. É uma crença verdadeira, porém inútil.  Para abandonar o já ultrapassado modelo que impõe o inato e o adquirido, precisamos ter uma ideia clara de como os genes de fato atuam.

Genes

Os genes não são cartas de um baralho cósmico. São manuais de instruções que foram testados pela evolução e que permitem construir as máquinas complicadíssimas que somos nós. Contêm o projeto arquitetônico, inscrito nos nucleotídeos, para construir nossas mentes e corpos, nos mínimos detalhes. A tarefa da construção segundo esse projeto ou design é imensamente complexa, porém muito direta: os genes instruem as células a fazer os cílios desse jeito, a unha do pé daquele outro.

Em se tratando de comportamento, porém, os genes têm de lidar com um desafio diferente no que diz respeito ao design. As máquinas humanas existem e se movimentam num mundo vasto e diversificado. Deparam-se com os mais variados perigos, oportunidades e experiências novas. As coisas acontecem depressa, e o comportamento – ou seja, as habilidades – precisam mudar depressa. Nisso reside o desafio:

-- Como escrever um manual de instruções para o comportamento?

-- Como nossos genes, em sua pacata existência no interior das células, ajudam nossa adaptação a um mundo em constante mudança e que sempre oferece perigo?

A evolução dos genes

Fomos capazes de enfrentar esse problema porque nossos genes evoluíram para um engenhoso mecanismo: contêm instruções para a construção de nossos circuitos com impulsos predeterminados, tendências, instintos.

Os genes constroem nossos cérebros de tal modo que, ao nos depararmos com certos estímulos – uma refeição saborosa, uma carne estragada, um tigre à espreita, ou um possível companheiro – aciona-se um programa neural previamente instalado, e as emoções são por ele usadas para guiar nosso comportamento numa direção vantajosa. Sentimos fome quando percebemos cheiro de comida, nojo quando o cheiro é de carne podre, medo quando vemos um tigre, desejo quando vemos um possível parceiro sexual. Guiados por esses programas neurais preestabelecidos, navegamos na direção de uma solução.

Essa estratégia funciona bem quando se trata de criar comportamentos adequados em certas situações. E no caso de comportamentos mais complexos, como tocar saxofone ou jogar palavras cruzadas (scrabble), ou xadrez?

Como já sabemos, habilidades mais complicadas envolvem cadeias de milhões de neurônios que trabalham juntos com uma precisão de milissegundo. A aquisição de habilidades complexas é uma questão de estratégia de design.

-- Qual a melhor estratégia para elaborar instruções que permitam construir uma máquina capaz de pôr em prática habilidade tremendamente complicadas?

Uma estratégia de design óbvia seria a de fazer os genes pré-programarem a habilidade. Os genes forneceriam instruções detalhadas, etapa por etapa, para construir os circuitos neurais necessários a uma habilidade específica: tocar música, fazer malabarismo, estudar cálculo. Quando viesse o estímulo certo, todos os circuitos previamente construídos se conectariam e começariam a disparar, surgindo assim o talento.

Essa estratégia de design parece acertada (afinal, não poderia ser mais direta), mas apresenta dois grandes problemas.

1) Seria muito cara em termos biológicos. Construir esses circuitos elaborados exigiria tempo e recursos, dos quais só disporíamos sacrificando outro aspecto de nosso design.

2) Seria uma aposta com o acaso. Construir previamente os circuitos para criar um gênio da engenharia de software de nada valeria em 1859, assim como não seria de grande utilidade fazê-lo para criar um ferreiro genial nos dias atuais. No espaço de uma geração ou de algumas centenas de quilômetros, habilidades complexas podem passar de cruciais a triviais ou vice-versa.

Noutras palavras, programar previamente o circuito de milhões de neurônios necessários a uma habilidade complexa seria uma aposta tola e dispendiosa demais para que os genes a fizessem. Tendo sobrevivido aos desafios de um passado de alguns milhões de anos, nossos genes são avessos a fazer apostas tolas e dispendiosas. (Outros genes talvez fossem mais propensos a isso, mas foram eliminados há tempos, juntamente com as linhagens deles portadoras.)[1]

 

[1] Isso não significa que não se construíram previamente circuitos para comportamentos com exemplos – o caso, p.ex., da dança de localização das flores executada pelas abelhas, dos rituais de acasalamento realizados por muitos animais. Mas criar circuitos prévios para esses comportamentos faz sentido do ponto de vista evolutivo: são indispensáveis à sobrevivência, ao contrário de tocar piano e acertar uma bola de golfe. 

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Novembro de 2016 às 20:24.

Ainda sobre Neurociência e Genética, mais alguns dados que podem nos ajudar a compreender o que se passa dentro de nosso cérebro.

 

A habilidade de ensinar excepcionalmente bem é um talento como qualquer outro: parece algo mágico, quando na verdade é uma combinação de habilidades – um conjunto de circuitos mielinizados produzidos mediante um treinamento profundo.

Genes              O código do talento, Daniel Doyle, p. 261-262 

Sobre o papel dos genes nas habilidades e na evolução da mielina, há o brilhante livro de Richard Dawkins, O gene egoísta (São Paulo: Companhia das Letras, 2007, tradução de Rejane Rubino).

Circula uma história interessante a respeito do excedente de mielina de Einstein. Um patologista substituto, Thomas Harvey, roubou o cérebro do autor da teoria da relatividade e passou a vida cuidando do órgão, do qual entregou frações a pesquisadores afortunados. Essa história é contada no ótimo livro de Michael Paternit, Driving Mr. Albert (Conduzindo o Sr. Albert), publicado em 2000 pela Dial Press.

Marian Diamond fazia parte desse privilegiado grupo de pesquisadores e, em 1985, efetuou uma análise detalhada de regiões-chave tanto do hemisfério esquerdo quanto do direito. A pesquisadora comparou essas regiões do cérebro de Einstein com as regiões correspondentes de outros 11 cérebros de homens da mesma idade e verificou que, em se tratando de neurônios, os cérebros são iguais. No entanto, quando comparou as células que alimentam a mielina, eram duas vezes mais numerosas no cérebro do físico alemão.

Ver igualmente Diamond, M.C. et al. “On the Brain of a Scientist: Albert Einstein”(“Sobre o cérebro de um cientista: Albert Einstein”), in Experimental Neurology, vol. 88, nº 1, 1985, p. 198-204.

 


Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.