Por Silvestre Cirilo*

            Ao término dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, teve início o Ciclo Olímpico Rio 2016. Dessa vez, a discussão sobre o número de medalhas ganhas não teve espaço somente no dia seguinte ao término dos jogos, mas, ganhou a agenda da mídia, seja ela impressa ou televisiva, durante todo o período da competição. Pontualmente, podíamos visualizar a discussão acerca do rendimento brasileiro no quadro de medalhas e, do investimento financeiro feito nos últimos quatro anos. Investiu-se cerca de 250% a mais em detrimento de aumentarmos somente duas medalhas o nosso quadro de medalhas. Números foram contestados pelas partes envolvidas, certezas transformaram-se em decepções perante a nossa torcida e, ao final dos XXX Jogos Olímpicos, o governo anunciou a preparação de um plano visando os jogos de 2016.

            Em setembro, o Ministro Aldo Rebelo e a Presidente Dilma Roussef, lançaram o Plano Brasil Medalhas 2016 e, conforme o único documento disponível até então (a apresentação feita nesse dia), faço uma análise desse plano visando a responder a pergunta do título. A apresentação é bem simples e abordam alguns poucos pontos revelando um caminho um pouco confuso para que consigamos atingir a meta proposta para 2016: top 10 nos Jogos Olímpicos e top 5 entre os Paralímpicos. Como estratégia o governo fala em melhorar o número de medalhas nos esportes em que já somos fortes (dentro dos esportes coletivos, voleibol e o basquete, com 19 e 5 medalhas, respectivamente e, individuais, como o judô (19 medalhas), a vela (17 medalhas), o atletismo (14 medalhas) e a natação (13 medalhas) são os destaques se considerarmos todas as participações brasileiras em Jogos Olímpicos desde 1920) e a conquista em esporte não medalhados anteriormente, incluindo aqui, os esportes individuais. Entretanto, falta uma análise mais profunda sobre quais seriam esses clusters, separando os esportes de acordo com o seu rendimento e a consequente oferta de medalhas, pois somente esse cruzamento de dados oferecerá um cenário mais claro indicando as reais chances de progresso. Nesse ínterim, destaca-se a China, com o seu Projeto 119 visando os jogos de Pequim 2008, no qual focou os esportes com amplo espectro de chances para melhoria do seu desempenho (em Atenas 2004, esse cluster respondia por 49% dos eventos Olímpicos e o país havia ganhado apenas 22% das medalhas em disputa). Algo que não ficou claro no plano apresentado por aqui.

Em relação ao investimento, os estudos revelam que o investimento quando o país é a sede dos Jogos Olímpicos aumentam, muito por conta do orgulho nacional em melhorar o seu desempenho e, pelo país participar de todas as modalidades esportivas. O Brasil prevê um investimento público na ordem de R$ 2,5 bilhões nesses próximos quatro anos. Um investimento que, talvez, não supere somente o montante investido pelos chineses que, além de buscarem o primeiro lugar no quadro de medalhas, apresentaram o esporte como uma política de supremacia mundial. Além de observarmos que, existe uma necessidade de se aumentar o montante investido para garantir o mesmo número de medalhas da edição anterior. No entanto, essa é uma conta não muito fácil de ser fechada, pois o montante investido geralmente se concentra no investimento público, mais fácil de obter os dados quando comparados com pretensos investimentos privados.  

Os dois últimos tópicos abordados relatam a estruturação esportiva e a governança do esporte. Nos estudos consultados sobre o primeiro tema, destacam-se os seguintes itens: acesso a treinadores de experiência internacional, medicina e ciência esportiva, equipamentos esportivos específicos para cada modalidade e a disputa de campeonatos de nível internacional. Algo que acontece em pequena escala e que, em quatro anos não há possibilidade de um aumento substancial nessas áreas. Estamos bastante atrasados quando comparados com China, Reino Unido e Austrália, por exemplo. Somado a isso, o fato de não contarmos com um sistema de identificação e desenvolvimento de talentos eficaz, como, por exemplo, os que têm China e Reino Unido. No quesito governança, o país não apresenta um cenário tão diferente quanto os percebidos ao redor do mundo, mostrando uma gestão voluntária na maioria das entidades esportivas, sendo isso uma questão inerente do esporte desde sempre, só mostrando diferença quando comparados com os EUA, que focam o seu esporte na escola/universidade e nas ligas profissionais. Em todo o mundo não é possível encontrar 100% de dedicação exclusiva por parte dos gestores por terem que trabalhar nas suas profissões de origem. No entanto, um ponto merece destaque nesse campo que é a gestão financeira integrada entre os entes envolvidos na busca do resultado Olímpico de 2016.

Concluindo e, ao mesmo tempo, respondendo a pergunta do título, esse plano apresenta um caráter mais emergencial em busca de melhores resultados em 2016, do que propriamente um pontapé na construção do Brasil Potência Olímpica. Para isso, devemos começar a pensar já num novo modelo de gestão esportiva no país, voltado a gestão por resultados com todos os seus elementos, desde a análise do ambiente até o controle proporcionado por metas e indicadores, passando por análises robustas dos resultados esportivos alcançados durante todo o ciclo. Adicionalmente, devemos nos preocupar na construção de um sistema eficaz de identificação e desenvolvimento de talentos, que permita abastecer a cadeia produtiva Olímpica, aumentando a quantidade de entrada e, consequentemente, gerando uma saída com maior qualidade ao nível Olímpico. Assim como, realizar a integração do esporte e da educação física em todo o território nacional seja ele, na prática escolar ou na gestão dos mesmos em todos os níveis governamentais com o auxílio da iniciativa privada e do terceiro setor. A discussão para o esporte brasileiro deve aproveitar a onda otimista gerada pela realização dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro visando o seu desenvolvimento sustentável e gerando vantagem competitiva quando comparado a outros sistemas ao redor do mundo. Só teremos resultados de potência Olímpica, se começarmos hoje a trabalhar numa perspectiva voltada ao fim da próxima década, haja vista que o Reino Unido atingiu a terceira posição nos últimos jogos com um trabalho iniciado em 1996 e, a China, que conta com uma tradição de mais de meio século na busca de uma sistematização esportiva que culminou num quadro crescente de melhora nos resultados esportivos nos Jogos Olímpicos desde o ano de 1984 e, que foi alcançar o primeiro lugar em 2008.      

 

*Formado em Educação Física, Mestre em Gestão e Estratégia e doutorando em educação física na Universidade Gama Filho. Contato: esporteegestao@gmail.com

Comentários

Nenhum comentário realizado até o momento

Para comentar, é necessário ser cadastrado no CEV fazer parte dessa comunidade.