Cevnautas, segue artigo do Blog da Ana Moser (achado pelo Tárik). Laercio

As lições da Ginástica
Por Ana Moser | Blog da Ana Moser
   
A Ginástica Artística brasileira, de tanto brilho e luta nos últimos anos, nos deixa algumas reflexões nesta Olimpíada de Londres. As falhas dos irmãos Hypolito e a aposentadoria de Daiane dos Santos especialmente. A queda no solo de Diego afetou Daniele, inevitável. E a aposentadoria de Daiane deixa um vazio na ginástica e uma incógnita no futuro dela na carreira pós-atleta.

A queda de Diego na rotina do solo, pela segunda Olimpíada seguida, foi resultado de uma soma de fatores, com certeza. O maior deles, até onde consigo analisar, é o peso em ser o primeiro destaque internacional em uma modalidade, ser o pioneiro e, praticamente, o único com chances de medalha olímpica. E isto o acompanha há alguns anos. Quem já ouviu o Diego falar, percebe que há muita confiança nele. Um apurado auto-conceito e consciência do potencial em executar séries boas suficientes para realmente ganhar o ouro, tanto na Olimpíada de Pequim, quanto em Londres. Ele é bom e sabe disso.

Teve forças para superar muitas contusões no último ciclo olímpico, estava preparado fisicamente, era visível a boa forma do Diego. Em tudo isso ele foi ouro, em estabelecer como referência um padrão altíssimo para a ginástica olímpica brasileira, nisso ele também foi ouro. Por construir uma carreira profissional visivelmente ética e solidária, ajudando a desenvolver profissionalmente a própria modalidade, ouro para o Diego. Mas por ser uma estrela solitária, o ouro olímpico ficou pesado para ser erguido.

Imagino — até porque já senti algo parecido — que o Diego ache que isto seja uma falta de merecimento. "Não sou digno", pode estar pensando. Com o tempo verá que não é bem assim, ele é muito mais do que digno, o desafio é que é muito difícil, pode levar algumas gerações para o talento de um Diego Hypolito se transforme em medalha olímpica. Tem gente que vem para plantar e preparar o palco, para que os próximos possam brilhar. É a vida...

Já a falha da irmã Daniele me fez lembrar que o peso não é só do Diego, mas também da irmã e de toda a família, há anos morando onde os filhos trabalham, para poder tornar possível um projeto esportivo e olímpico. Muito investimento da família Hypolito, muito investimento mesmo para colher expressivos resultados, mas também para passar por poucas e boas. Isto até agora, mas talvez o maior desafio esteja à sua frente, como falou Daiane dos Santos sobre sua aposentadoria: a partir de agora estou "desempregada".

Seria natural pensar que atletas do gabarito dos Hypolito e Daiane estejam garantidos para se manter atuando na estrutura esportiva brasileira — seja em clubes, federações, COB, etc — dando continuidade ao trabalho realizado por anos, agora em outras esferas do esporte. E seria natural mesmo, porque o conhecimento prático do esporte é o grande fator para uma boa gestão do esporte, seja ela dentro ou fora das arenas esportivas, nas escolas, na comunidade.

Mas não é assim que funciona porque a estrutura esportiva brasileira é muito pequena. Muita gente para poucos postos, muita concorrência porque o campo de trabalho está restrito a poucos clubes, federações e cargos políticos, concentrados nos grandes centros. Isto sem falar em como funciona a vida de atleta no Brasil, onde o estudo fatalmente é deixado para um terceiro ou quarto plano. Quando a vida de atleta profissional acaba, é começar do zero com 30 e poucos anos. Não é fácil, não!

Por isso, tenham essas questões em mente quando forem analisar um atleta brasileiro, tenha ele vencido, perdido no início ou no final quando estava quase ganhando, ou mesmo aqueles que só fazem número.

FONTE: http://bit.ly/anamoser1

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