Do outro lado do Atlântico - Franklin
PostDateIconSeg, 29 de Março de 2010 18:05

A revista Esporte em Mãos foi ao outro lado do Atlântico saber como é o dia a dia do atleta brasileiro Franklin Bezerra que transferiu-se este ano para jogar na primeira divisão do handebol espanhol

Franklin Roberto Bezerra Filho nascido em Natal, capital do Rio Grande do Norte, em 31 de março de 1986 inspirou-se em um dos melhores meias do handebol mundial, Nicola Karabatic, o francês campeão do mundo, olímpico e eleito o melhor jogador do mundo em 2008.
Com 22 anos Franklin transferiu-se do handebol brasileiro para o italiano, onde defendeu a equipe de Teramo, da primeira divisão, por quem disputou a temporada de 2008/2009. A boa temporada exibida na Itália o levou para a primeira divisão da Espanha, onde é disputada uma das mais difíceis ligas do mundo. Em dezembro de 2008 Franklin foi sondado pela equipe Lábaro Toledo BM, da cidade de Toledo, na Espanha, distante da capital Madrid, cerca 60 quilômetros. Após alguns contatos e intermediado pelo empresário espanhol Marcos Brea, o brasileiro transferiu-se para Toledo com um contrato que vence em maio de 2010.
Atualmente a equipe ocupa a sétima colocação e é apontada como uma das grandes surpresas do campeonato.
O atleta nos cedeu entrevista em um dia de descanso no seu apartamento localizado no bairro de Casco, no centro antigo da bela cidade de Toledo, com população de 75 mil habitantes e que acompanham atentamente o balonmano (como é chamado o handebol na Espanha) da equipe que representa a cidade.

Esporte em Mãos – Como foi sua saída do Brasil?
Franklin Bezerra – Lutei muito para poder jogar em um time na Europa. Viajei várias vezes gastando do próprio bolso para poder conseguir contatos e com essas viagens conheci um ótimo empresário (o espanhol Marco Brea).

Esporte em Mãos – E a transferência para a Espanha, como foi feita?
Franklin Bezerra – Os dirigentes viram alguns jogos meus na Itália e tiveram o interesse em dezembro do ano passado, aí entraram em contato com o meu agente, assim negociamos para essa temporada.

Esporte em Mãos – Sua rotina de treinamento é parecida aos treinamentos do Brasil e Itália?
Franklin Bezerra – Não. É totalmente diferente.

EM – por quê?
Franklin Bezerra – Aqui treinamos todos os dias dois períodos de segunda a quinta. Quando jogamos fora treinamos pela manhã na sexta e em seguida viajamos. Aí jogamos sábado e voltamos domingo. Assim temos o domingo de folga, de descanso. Na segunda a rotina reinicia. Treino pela manhã e volto pra casa. Tiro tudo da mala, cozinho, como, durmo, acordo, faço a mala, vou para o treino outra vez. Quando acaba o treino volto pra casa, faço o jantar, fico um pouco na internet e depois vou dormir. Quando jogamos em casa treinamos de segunda a sexta e no sábado jogamos. Daí temos folga no sábado a noite depois do jogo e no domingo.. Nada de folga. Essa é minha rotina aqui.

EM – Que horas acorda normalmente? E que horas vai dormir?
Franklin Bezerra – Acordo às oito da manhã todos os dias e vou dormir por volta de uma, duas da manhã.

EM – Costuma dormir à tarde?
Franklin Bezerra – Sim. Quando não tenho nada para resolver durmo à tarde para poder suportar o treino da noite, porque ficamos muito cansados. São muito corridos os treinos.

EM – Há trabalho de musculação, de propriocepção?
Franklin Bezerra – Há. Porém, na pré-temporada é bem mais aprimorada do que no período da competição. Na competição como agora malhamos pouco, mas na quadra treinamos muito aprimorando a questão técnica e tática. Durante o campeonato corrigimos falhas técnicas e táticas principalmente.

EM – E o condicionamento físico como mantêm?
Franklin Bezerra – Então, tudo é feito na quadra mesmo. Desde que iniciou o campeonato não fizemos mais corrida e musculação específica. Fazemos tudo na quadra.

EM – Há diferença de treinamento técnico e tático entre o handebol espanhol e brasileiro? Qual é a diferença? O que fazem aí na Espanha que você nunca fez no Brasil?
Franklin Bezerra – Não vi nada aqui que não tenha feito no Brasil. Acho que eles aqui são mais objetivos que nós brasileiros. O jogo é mais rápido, muito mais forte fisicamente. Correria total. Acho que a diferença também existe no comprometimento dos atletas que fazem o nível aumentar cada vez mais. A concorrência e o nível de dinheiro investido aqui é muito grande exigindo muito de tudo e de todos. A diferença do Brasil é a quantidade de treino e jogos que realizamos. A qualidade dos jogos, dos times que você joga contra são muito bons. Falando em tático não existe muita diferença não. Trabalhei aí no Brasil com o Morten, Hortelã, Álvaro e Washington, claro que existe uma pequena diferença, mas não foge do que é feito aqui.

EM – Aonde pretende chegar com o handebol?
Franklin Bezerra – Pretendo construir meu futuro financeiro já que aí no Brasil não é possível isso. Quero construir uma grande carreira aqui na Europa, tentar jogar nos melhores times, crescer como profissional e pessoa. Quero jogar uma olimpíada representando o nosso país.

EM – O que pensa sobre o handebol do Brasil?
Franklin Bezerra – Ainda falta muito para poder ser como aqui na Europa. Falta uma liga forte. Falta ajuda da Confederação aos clubes, parcerias de empresas aéreas com a Confederação para que as equipes do nordeste possam jogar a liga nacional, já que muitas equipes não participam pelos custos elevados de passagem, alimentação, hotel. Falta ajuda financeira da confederação a times que não tem suporte nenhum e querem jogar ligas e campeonatos, faltam prêmios nos campeonatos mais importantes. Assim, dando incentivo à participação dos times. Enfim, acho que o handebol do Brasil está muito longe de conseguir se igualar ao handebol aqui da Europa, ao show de marketing que as ligas dão aqui na Europa e que aumentam a visibilidade e o interesse de patrocinadores conseguindo consequentemente mais dinheiro, mais jogadores, mais times, mais competitividade etc.

EM – O handebol no Brasil atualmente cresceu continua a mesma coisa ou decresceu?
Franklin Bezerra – Olha, em minha opinião com relação ao nível do que era e ao que está hoje o handebol falando de seleção brasileira, acho que com a participação do Jordi no ciclo passado o Brasil subiu um degrau de muitos que faltam para ser reconhecido no cenário internacional. Vamos ver se agora com um novo técnico e também espanhol, o Javier, que tem bons resultados com as seleções que treinou (Egito, Portugal e Estados Unidos) possamos atingir um alto nível. Agora falando em nível nacional eu estive em São Paulo nas minhas férias e consegui acompanhar alguns jogos. O nível das equipes continua o de sempre, sempre os mesmos jogadores. Não tem mercado nenhum de jogadores, nada de novidades. Cada vez menos gente assistindo aos jogos. Cada dia menos times nas competições. Sempre as mesmas equipes nas finais. Eu particularmente depois de um ano fora vi muita coisa aqui na Europa e para quem tá aqui e vai ao Brasil assistir os campeonatos sente a diferença e vê que falta muita coisa para o handebol brasileiro.

EM – O que você acha que falta para melhorarmos o nosso nível e atingirmos o melhor nível técnico possível?
Franklin Bezerra – Como já falei precisa do apoio, do incentivo da Confederação aos clubes. Só assim, aumentando o número de clubes se pode fazer uma grande liga no Brasil. Aumentando o número de clubes aumenta também o número de jogadores, abre o mercado no Brasil para o surgimento de outros atletas. Com uma grande liga aumenta a possibilidade de visibilidade para as empresas que queiram investir no esporte criando o interesse mercadológico e de visibilidade. Acho que começa tudo por aí. Tendo uma grande liga no nosso país. Espero que com um trabalho forte de todos possamos divulgar nosso país e mostrar para todos que o Brasil não tem apenas jogadores de futebol e vôlei, mas de handebol também.

http://www.esporteemmaos.com.br/novo/entrevistas/do-outro-lado-do-atlantico-franklin.html

Comentários

Por Anne Caroline
em 8 de Setembro de 2011 às 12:47.

Quando o assunto é Brasil logo aparece a imagem de futebol. Sendo que temos inúmeros talentos maravilhosos em diversos esportes. O Franklin é um deles! Tenho plena convicção de que ele irá alcançar todos os seus objetivos. Primeiro por ser um profissional que busca uma constante melhora e segundo por ser extremamente humilde! Ele vai longe!


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