24/05/2015
às 13:05 Comunismo, Cultura, Educação
Conversava com um amigo, que é um empresário muito bem-sucedido do setor financeiro, sobre como melhorar a situação de nosso estado. Eu lhe apresentava os projetos do Instituto Liberal, em busca de apoio. Ele, que é bastante discreto, mas mesmo assim não consegue fugir do assédio de políticos e ONGs devido à sua fortuna, confessou-me que a “menina dos seus olhos” que ajuda a financiar é uma instituição voltada para o fomento dos esportes nas comunidades carentes. Afirmou que, apesar de ter estudado em boas escolas, o que realmente fez diferença em sua vida foram os esportes, que lhe ensinaram a importância da determinação, da disciplina, do esforço, do mérito. Queria ajudar os mais pobres por meio da prática esportiva.
Lembrei dessa conversa ao ler Educação Física e Regime Militar: Uma guerra contra o Marxismo Cultural, de Alessandro Barreta Garcia. Com uma bela apresentação escrita pelo professor Ricardo Vélez-Rodríguez sobre Aristóteles, o livro procura resgatar a importância da educação física nas escolas, especialmente durante o regime militar, sempre com base nas tradições que vêm desde os gregos. Segundo o autor, que é mestre em Educação pela Universidade Nove de julho, a esquerda radical, seguindo o marxismo cultural inspirado em Gramsci e na Escola de Frankfurt, tem difamado e destruído esse legado fundamental para incutir valores nos mais jovens.
“Durante os anos do regime militar brasileiro que ocorreram de 1964 a 1985″, escreve Alessandro logo no começo, “a educação física vivenciou seus grandes momentos através da ordem, disciplina, rigor, ética, técnico, rendimento e fair play“. Os autores marxistas não reconhecem isso, e tentam transformar a prática esportiva escolar da era militar em simples instrumento de alienação, o que o autor julga absurdo. Se os comunistas clássicos viam nos esportes um instrumento de propaganda do regime, como em Cuba, na Coreia do Norte, na União Soviética ou na China, os comunistas modernos preferem a tática de desconstruir o esporte, visto como instrumento burguês de alienação.
Para tanto, e seguindo suas receitas nas demais áreas, é importante modificar sua estrutura, rejeitar a ordem, a disciplina, o comando, a hierarquia, a técnica, a moral. O desporto de rendimento também passa a ser visto como inimigo, pois expõe atletas melhores e piores, o que vai contra o total relativismo da esquerda radical, para quem ninguém é melhor do que ninguém. Para ela, o caos é o grande objetivo, e seria nele que poderíamos encontrar alguma “ordem”. Essa seria a “nova ordem mundial”, uma que enaltece o caos, a desordem, o relativismo. A prática esportiva tradicional vai contra tudo isso, e precisa, então, ser condenada como instrumento da burguesia opressora.
A crítica dos seguidores de Gramsci e da Escola de Frankfurt será voltada, portanto, para a condenação das principais instituições que impedem esse caos social, tais como as tradições, as religiões (especialmente o judaísmo e o cristianismo), as famílias, as Forças Armadas. Alessandro inclui nesse rol de alvos da esquerda a educação física, justamente porque significava a transmissão de valores como a ordem, a disciplina, o respeito na escola. Tal postura não é compatível com o clima de total rebeldia permanente que essa esquerda deseja adotar nas salas de aula, onde o professor precisa perder qualquer senso de hierarquia em relação aos alunos. Hey, teachers, leave them kids alone!
Alessandro busca em Aristóteles a receita do equilíbrio, do “meio termo”, que deveria ser adotado na educação física. Nem recreação pura, nem busca de alto rendimento, como fazem os regimes comunistas que enxergam os indivíduos como meros meios sacrificáveis para seus fins mais “nobres”. “Formar o cidadão para o esporte é cultivar os frutos de uma civilização de qualidade”, diz o autor, que prossegue: “Os valores morais são bem claros e a formação educacional do aluno frente ao esporte é fundamental para o desenvolvimento da unidade nacional”. Ou seja, ajuda a criar um indivíduo para o convívio coletivo, sem endossar um coletivismo nacionalista.
O praticante de esporte bem treinado e educado aprende a respeitar as regras, ser disciplinado, o que não é um mal como alega a esquerda, mas uma virtude. A cooperação também é estimulada nas aulas de educação física tradicionais. Honestidade e respeito, grandes virtudes da vida, podem fazer parte do universo desportivo, e era esse o verdadeiro espírito do ensino na era militar, segundo o autor. Não por acaso as escolas militares estão entre as melhores do país. “A vitória não pode se sobrepor ao espírito olímpico, ao fair play“, explica. Não é o esporte como instrumento de alienação ou de propaganda do estado que essa esquerda marxista condena, e sim aquele moralizante e civilizatório. O conteúdo do Manifesto sobre o Fair-Play deixa mais claro o que está em jogo e sendo atacado pelos marxistas:
O fair-play é uma “forma de ser” baseada no respeito a si próprio e que implica em: honestidade, lealdade e atitude firme e digna diante de um comportamento desleal; respeito ao companheiro; respeito ao adversário, vitorioso ou vencido, com a consciência de que é o companheiro indispensável, ao qual se une pela camaradagem desportiva; respeito ao árbitro e respeito positivo, traduzido por um constante esforço de colaboração com o mesmo.
Ou seja, praticamente um código de cavalheirismo para um típico gentleman britânico. Saber ganhar e saber perder, não tripudiar do adversário, não apelar para práticas desleais, respeitar sempre as regras do jogo, o império das leis, saber ser digno. “Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer”, escreveu Voltaire. O esporte bem praticado ensina tudo isso, além de deixar claro que não há vitória sem esforço e mérito, que de nada adianta a vitimização, ficar sempre culpando os astros ou os outros por seus fracassos e falhas. Essa é a receita certa para permanecer um perdedor.
“Ensinar a não violar os regulamentos é uma das essências do desporto moderno, principalmente do educacional. É preciso, por isso, desviar-se da deslealdade e da brutalidade. É esse o grande exemplo de um desportista”, escreve o autor, que conclui, contra a alegação da esquerda de que a educação física e o esporte são usados como instrumentos de alienação: “Falta-nos um sistema educacional de valor, a longo prazo, independente de ideologias ou de políticas deletérias. O esporte é tradição, é justiça, ética, respeito, coragem e virtude. O esporte é vida, é equilíbrio, é educação de qualidade”.
Concordo. Quando jogava algum jogo com minha filha, ainda pequena, nada me tirava mais do sério do que ela não saber perder, querer desistir no meio porque via que seria derrotada. Eu levava muito a sério aquela lição: ela precisava entender que tal atitude era uma completa falta de respeito com o oponente. O mesmo sobre qualquer tentativa de trapaça: impensável. A vitória não tem valor se for desleal. São ensinamentos ligados ao esporte tradicional. São valores muito em falta em nossas escolas hoje, dominadas pelo marxismo cultural.
Rodrigo Constantino
Tags: Alessandro Barreta Garcia, Aristóteles, Ricardo Vélez-Rodríguez
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/a-importancia-do-esporte-na-formacao-do-carater-do-individuo/
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