09/03/2014
André Alexandre Guimarães Couto
Olá, caros (as) leitores (as):
Fugindo um pouco da minha proposta de discutir a relação entre Imprensa e os Esportes, mas ainda assim utilizando a mídia como fonte para este post, resolvi pensar junto com vocês algo que vem tomando o meu tempo há alguns anos. Se o Carnaval é a nossa principal festa popular e se o futebol é o nosso principal esporte e ambos permeiam a nossa cultura nacional, por que, por vezes, a combinação entre eles nem sempre é reconhecida positivamente?
Para exemplificar, podemos utilizar três dos quatro grandes times de futebol do Rio de Janeiro. Em 1995, no ano comemorativo do centenário do Flamengo, a Escola de Samba Estácio de Sá lançava o enredo “Uma Vez Flamengo” (clara e óbvia alusão ao hino oficial do time rubro negro) e conseguia um modestíssimo sétimo lugar no Grupo Especial (principal).
http://www.youtube.com/watch?v=_HqaG2CaFJQ
Pior ainda foi o desempenho da Escola de Samba Unidos da Tijuca (hoje campeã na era Paulo Barros, o talentoso carnavalesco da agremiação do Morro do Borel) em 1998, quando a mesma resolvera homenagear o centenário do Vasco da Gama com o enredo “De Gama a Vasco, a Epopéia da Tijuca”. Resultado final: 13ª colocação no Grupo Especial e rebaixamento para o então Grupo de Acesso (hoje, Grupo A).
http://www.youtube.com/watch?v=0lXShvNB6PI
Em 2002, mais um centenário de um time grande e a Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha homenageava o Fluminense com o enredo: “Nas Asas da Realização, Entre Glórias e Tradições, a Rocinha Faz a Festa dos 100 Anos de Campeão… Sou Tricolor de Coração!”. Porém, mais um vexame clubístico: 13ª colocação no Grupo de Acesso.
http://www.youtube.com/watch?v=FU5dpacnMkA
Estes três exemplos acima são importantes, mas também são parciais. Podemos concluir, apesar de sabermos da importância de um estudo bem mais aprofundado, que a relação entre clubes de futebol do Rio de Janeiro e o Carnaval exibido pelas principais escolas de samba desta cidade não geraram resultados expressivos na competição entre as mesmas. Vejam, esta é a realidade da cidade do Rio de Janeiro, pois em São Paulo, teríamos que levar em conta, por exemplo, a formação de escolas de samba a partir de torcidas organizadas como a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde.
Mas, algumas hipóteses poderiam ser levadas em conta. A primeira é de que poderia haver uma certa resistência no universo carnavalesco em detrimento do futebol, que já dominaria a atenção dos cariocas e brasileiros durante todo o ano. Ou de que a paixão pelos clubes de futebol seria um elemento na hora do lançamento das notas pela Comissão Julgadora. Ou seja, o que acabaria sendo julgado seria o clube e não o desfile da escola de samba. Por fim, em alguns casos, a aproximação de determinados dirigentes dos clubes com as escolas, poderia gerar uma antipatia geral, entre os demais clubes, escolas de samba, torcedores, foliões, etc. Até hoje, a escola de samba Unidos da Tijuca tem uma forte relação com o Vasco da Gama. Era possível ver na comemoração deste ano (ao vencer o Grupo Especial) camisas e bandeiras do cruz-maltino.
Porém, este raciocínio não vale tanto quando tratamos da idolatria. Se os clubes sofrem para se destacar como enredos nas principais escolas de samba, os ídolos do futebol apresentam melhores resultados. Seja porque se destacaram em um contexto mais amplo (clube e seleção), seja pela carreira ilibada e responsável (sendo considerados, portanto, grandes profissionais, inclusive pelos torcedores de clubes rivais) ou mesmo pela simpatia e carisma pessoais.
Nestes casos, temos como fortes exemplos a homenagem a Nilton Santos pela Unidos de Vila Isabel em 2002 que, com o enredo “O Glorioso Nilton Santos… Sua Bola, Sua Vida, Nossa Vila…” conseguiu o vice-campeonato no Grupo de Acesso.
Neste ano de 2014, a Imperatriz Leopoldinense homenageou Zico com o enredo “Arthur X: O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz” e conquistou o 5º lugar no Grupo Especial.
Apesar de um certo destaque, ainda é pouco e modesto se comparado com os resultados das escolas de samba que homenagearam grandes ídolos da música, literatura e cultura de forma geral, como a Imperatriz Leopoldinense com Lamartine Babo (Campeã do Grupo 1-A em 1981), Beija-Flor com Bidu Sayão (3ª Colocada do Grupo Especial em 1995) e Roberto Carlos (Campeão do Grupo Especial em 2011) e a Estação Primeira de Mangueira com Dorival Caymmi (Campeã do Grupo 1-A, em 1986), Carlos Drummond de Andrade (Campeã do Grupo 1-A, em 1987) e Chico Buarque (Campeã do Grupo Especial em 1998).
Não poderíamos deixar de mencionar a grande vitória da Unidos da Tijuca em 2014, com o enredo “Acelera, Tijuca”, com ênfase na homenagem à Ayrton Senna. Um ídolo nacional do esporte. Pois é, esporte, não futebol. Mas, sobre isto comentaremos em um próximo post.
Referências:
CARNAVAL 2014. Disponível em: <http://liesa.globo.com/>. Acesso em: 09/02/2014.
CARNAVAL E BOLA: relembre os desfiles que levaram o futebol para a Avenida. Disponível em: <http://m.globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/03/carnaval-e-bola-relembre-os-desfiles-que-levaram-o-futebol-para-avenida.html>. 02/03/2014. Acesso em: 09/02/2014.
Fonte: www.historiadoesporte.wordpress.com
Comentários
Por
Edison Yamazaki
em 20 de Março de 2014 às 04:34.
O futebol é uma "marca" que fica exposta diariamente na mídia brasileira. Quando chega o carnaval, o pessoal quer cantar e sambar outros temas. Clubes brasileiros não possuem atrativos suficientes para angariar votos. Estampam os jornais que os clubes estão falidos, devem até para os porteiros. Os cartolas são amadores, e portanto, administram muito mal seus respectivos clubes, o que deve refletir na escolha do público. Futebol e carnaval tem a ligação apenas na alegria de alguns momentos.
Por
Wilson de Lima Brito Filho
em 20 de Março de 2014 às 16:52.
Bem, acredito que são muitas as possibilidades, para entender essa realidade, e não acredito que seja por conta do estado de falência do futebol do Brasil, mas por se tratarem de momentos diferentes, emoções que ainda não se intencionou de fato unificar.
Mas um fato realmente importante a observar é o papel que ambos tem nas vidas, nas consruções e re-consruções estruturais e sociais - muda-se a dinâmica mundo "quando eles passam", seja para momento de cometimento de excessos, seja para ser representado na "batalha" todos os outros setores da vida são esquecidos e talvez, apenas talvez se a unificação ocorresse, o que não interessa a indústria cultural (aí enxergo um dos fatores da não unificação por conta da perda que isso representaria). Enquanto isso, fabricam-se mais campeonatos (vejam o sulamericano e os regionais que tem cerca de 10 anos) e mais carnavais (carna salvador, carnacopa, micaretas, etc)..Qual interesse teriam de unificar os interesses são outros!
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