Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4647 -
Comitê olímpico quer barrar termo 'olimpíada' em torneio educacional
Em carta, associações de cientistas do país classificam a ação como "despropositada"
O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) está se movimentando juridicamente para impedir que universidades e associações de pesquisa usem a palavra olimpíada em suas competições educacionais. A atitude provocou protestos das principais associações de cientistas do país.
No fim de 2012, a Unicamp foi notificada extrajudicialmente pelo comitê devido ao uso supostamente indevido do termo em um dos eventos organizados pela instituição, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.
O texto diz que o uso das palavras olimpíada e jogos olímpicos "é privativo" dos comitês Olímpico e Paraolímpico do Brasil. Organizadores de várias outras olimpíadas educacionais, como a de português e de astronomia, receberam notificações semelhantes.
Em carta aberta enviada nesta semana a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) classificaram a ação como "despropositada".
No Brasil existem cerca de 20 olimpíadas educacionais nacionais.
Reação
A presidente da SBPC, Helena Nader, disse que os cientistas não vão abrir mão do uso da palavra. "Eles [o COB] estão querendo ter o monopólio da palavra e isso nós não aceitamos. Olimpíada científica é um conceito internacionalmente consagrado. A sua proibição aqui só é prejudicial para o conhecimento", afirmou.
Jacob Palis, presidente da ABC, lamentou a iniciativa em um momento em que o Brasil é destaque na área. "Nós recebemos, no ano passado, a Olimpíada Mundial de Astronomia. Agora há pouco, tivemos um jovem brasileiro [Matheus Camacho, 14] ganhando uma medalha de ouro em uma das maiores competições do mundo, a Olimpíada Internacional de Ciência. A decisão do COB é equivocada", disse.
A Unicamp afirmou que continuará usando o termo para designar a competição.
Para Mônica Guise Rosina, professora de propriedade intelectual da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, a notificação sobre a exclusividade do termo é "tecnicamente possível, mas absolutamente descabida".
"Essa terminologia já é usada há anos para as competições científicas. O problema seria se houvesse o risco das pessoas confundirem um evento com o outro."
Outro lado
Em nota, o Comitê Olímpico Brasileiro afirmou que as cartas enviadas às instituições de ensino têm "caráter educativo", para garantir que "o termo 'olimpíadas', que é uma propriedade do COI (Comitê Olímpico Internacional), não seja vinculado a questões comerciais", completa.
A entidade disse à Folha que estuda autorizar o uso do termo para fins educacionais, como é o caso da olimpíada organizada pela Unicamp.
De qualquer modo, para evitar problemas, algumas competições já abandonaram o termo. É o caso da antiga Olimpíada Brasileira de Foguetes que, após ser notificada pelo COB, virou Mostra Brasileira de Foguetes.
"Já temos trabalho demais para montar os eventos. Não dispomos de tempo e dinheiro para ficar brigando com o COB", diz João Bastista Canalle, organizador da mostra. A decisão do COB contraria os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que realizam olimpíadas educacionais. O ministério da Ciência disse, porém, não ter recebido qualquer notificação do COB. Só a Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas teve, em 2012, quase 20 milhões de inscritos.
Outros alvos
Além das competições educacionais, livros e até uma rede de supermercados foram alvos de notificações do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). A professora e pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da USP Katia Rubio recebeu em janeiro de 2010 uma notificação extrajudicial determinando o recolhimento de seu livro "Esporte, Educação e Valores Olímpicos" em até dez dias.
O COB a acusava de uso indevido da palavra "olímpicos" e dos cinco anéis estilizados na capa. O não cumprimento da determinação poderia render multa e até detenção.
Semanas depois o COB reconheceu que o livro era uma produção intelectual destinada a disseminar "o valioso conhecimento sobre o Olimpismo".
Rubio tem 15 livros escritos e organizados na área de psicologia do esporte, e algumas das publicações anteriores já tinham termos ligados aos Jogos Olímpicos nos títulos.
O livro que foi alvo de notificação do COB, porém, foi lançado perto do anúncio de que os Jogos Olímpicos de 2016 seriam realizados no Rio.
Em 2009, os Supermercados Guanabara lançaram uma campanha publicitária intitulada "Olimpíadas Premiadas", protagonizada pelos atletas Diego e Daniele Hypólito.
O comitê tentou impedir a publicidade, mas o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro entendeu que não houve demonstração de que a empresa quis se passar por patrocinador oficial do evento esportivo.
"O COI é proprietário das marcas e autoriza seu uso em cada país, mas é preciso ter bom senso. O caso do supermercado abre um precedente legal porque analisou que não houve má-fé, e nem a Unicamp tem interesse comercial algum com a Olimpíada de História", afirma Alberto Murray Neto, advogado de Katia Rubio e ex-membro do COB.
(Giuliana Miranda e Mariana Versolato - Folha de São Paulo)
Leia a carta da SBPC e da ABC:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85408
Opinião do leitor:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85461
Comentários
Por
Edison Yamazaki
em 22 de Janeiro de 2013 às 03:32.
Roberto,
Tenho a perfeita noção de que o Nuzman foi importante para a evolução do vôlei brasileiro dando estrutura para a geração prata e ouro (quem poderia esquecer do "jornadas das estrelas" e os grandes jogos de Moreno, Montarano, William, Xandó, Negrão, etc.), assim como Ricardo Teixeira foi para o futebol que trouxe a Copa em 94 depois de quase vinte e cinco anos no ostracismo. Ambos foram importantes nas suas respectivas confederações. Mesmo tendo prestado bons serviços em prol das respectivas seleções, ambos estão sendo questionados por suas administrações. Questionamento esse que pode trazer à tona alguma marca de corrupção ou favorecimento imoral. Ricardo Teixeira, dizem, correu para Miami fugindo de uma possível prisão. Havelange está sendo(ou foi) processado e também foi importante para a FIFA. Com isso, quero dizer que ter feito um ótimo trabalho não significa ser idôneo ou profissional.
Tomo sempre muito cuidado para não me deixar levar por matérias infundadas. Para falar a verdade, o distanciamento do Brasil me serviu para que eu enxergasse melhor o país, assim como o alpinista vê o tamanho da montanha quando se afasta dela, e não quando a está escalando. Há muitos anos leio sobre revoltas de atletas contra alguma federação ou confederação esportiva. Lembro de Aurélio Miguel na "briga" com os Mamedes, Oscar tentando criar uma liga de basquete pararelo, reclamações de ginastas por falta de locais e condições para treinos, Marta do futebol feminino reclamando da total falta de condições para disputar uma Olimpíada, reclamações no rugby, no tênis e por aí vai.
Nuzman não é absolutamente culpado por todas as mazelas do esporte brasileiro, longe disso. Mas como presidente do órgão que tem como uma das competências incentivar a prática esportiva de alto nível, ele fica devendo. Basta prestar atenção para a carência de talentos nos quadros do atletismo, natação, remo, triatlho, esgrima, arco e flecha, pólo aquático, badmington e outros esportes que dão menos "ibope". Sei também que o Brasil não tem tanta tradição nesses esportes, mas acho que poderia ter se as coisas fossem melhor organizadas por parte do COB. Para falar a verdade, acho que apenas o vôlei está num patamar mais organizado (pelo menos sobe ao pódio) porque os outros esportes estão praticamente à espera de algum mecenas para sair do lugar comum. Que incentivo está recebendo o atletismo que já teve Prudêncio, Ferreira, Nakaya, Robson, João do Pulo, Agberto, Zequinha e Cruz e é o melhor cartão de visitas de uma Olimpíada? Onde estão as meninas do tênis, dos 200 e 400 metros, dos saltos ornamentais, da cama elástica? Enfim, onde estão os incentivos para o desenvolvimento geral do esporte brasileiro?
Não tenho absolutamente nada contra nenhum dirigente esportivo brasileiro, apenas acompanho os fatos que levam determinada modalidade ou clube ao sucesso ou a bancarrota. Somente para ilustrar. Não conheço Arnaldo Tirone, ex-presidente do Palmeiras mas pelos resultados do time no último ano e pela bagunça no clube dá para saber que ele não fez boa administração. O mesmo pode-se dizer do Vasco e Flamengo.
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Edison Yamazaki
em 20 de Janeiro de 2013 às 10:25.
Lamentável. Ridículo.
Acho que o pessoal do COB estão tão atordoados com suspeitas de corrupção e manipulação que estão querendo desviar o foco para outras coisas. Ele precisam pensar que o Brasil faz um papel lamentável nos esportes de alto nível (existem exceções) e precisam trabalhar para melhorar isso. O Nuzam que teve um começo "humilde" no vôlei parece que deixou a fama subir para a cabeça e não consegue mais coordenar nada. Um vergonha para todos os brasileiros.
Tenho certeza de que se procurarem, encontrão muitas coisas para fazer. Não consigo acreditar que eles ficam perdendo tempo com isso enquanto o atletismo está falido, a natação não renova, o basquete declina, a ginástica decepciona, a esgrima inexiste e o triatlo morre.
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Roberto Affonso Pimentel
em 21 de Janeiro de 2013 às 09:35.
Caro Edison,
Esta é uma tradição maldita, a de que grandes obras trazem muitas mazelas humanas. Então, para quem está de fora certamente é muito fácil dizer que a corrupção impera. Apenas estão repetindo o que outros, no passado, vinham fazendo. Veja o fato que entrou para a nossa história de forma inequívoca da atuação de um partido que, fora do poder, denunciava aos quatro ventos tudo que havia de ruim para um povo. Repentinamente, um brasileiro (deputado) rompeu o silêncio e tudo que propalavam acabou em derrocada e humilhação. Mas o pior é que ainda existem alguns que não acreditam e catam centavos para pagar a conta dos bandidos. Foi também assim quando da construção de Brasília e creio que será sempre dessa forma (herança maldita de nossos colonizadores). Só há um jeito de rompermos com essa sina: acreditarmos que o País possa produzir justiça e mandar para o presídio os condenados.
Um outro detalhe de nossa sociedade é que os jornalistas, aqueles que nos transferem as informações que colhem, nem sempre têm uma ética profissional e, talvez protegidos por mecanismos legais, desandam a falar o que querem e percebem que elogios não lhes transferem audiência e, dessa forma, escolhem o caminho das denúncias gratuitas (pelo menos no caso do COB). Por que não provam o que dizem? Simplesmente permanecem jogando algo de podre no ventilador e esperam que outros os sigam em denúncias. Este é um tipo de jornalismo inoperante e sem ética, pelo menos a meu ver.
Tenho certeza de que não conhece o Nuzman desde sua época como atleta e logo depois (1973), como dirigente. Estranho, portanto, a adjetivação de "humilde", coisa que ele jamais foi e nunca escondeu. Mas, em contrapartida, como dirigente, sempre foi um gentleman, tratando a todos - funcionários ou governantes - da mesma forma gentil e educada e, principalmene, deveras competente.
Quando se dirige uma entidade com tantas atribuições com organizar uma olimpíada é fácil imaginar que é impossível a um só indivíduo centralizar tudo, muito embora seja uma de suas principais características, não para tirar proveito próprio, mas para impregnar os demais com o seu dinamismo e competência já demonstrados quando revolucionou o esporte no Brasil em seus 20 anos à frente da CBV, hoje modelo gerencial para o mundo (ver aqui no CEV, em Handebol, proposta de projeto administrativo de um dos candidatos). Quanto à competência (ou não) de outras confederações, cabe a elas - não ao COB - a gerência com independência. Se não conseguem resultados no alto nível, não se trata de atribuir a culpa ao presidente do COB. Varios exemplos de descontentamento persistem. Será que seria necessário o Nuzman deixar o COB e aboletar-se numa delas para dizer o que fazer? Já foi dito e realizado com o vôlei, basta um mínimo de competência e seguir-lhe os passos, pois o caminho já foi trilhado.
Por favor, aprofunde-se nas informações e não se deixe contaminar facilmente.
Por
Roberto Affonso Pimentel
em 22 de Janeiro de 2013 às 09:38.
Edison,
Gostei de seus escritos e, a partir deles, nos damos a conhecer melhor e, principalmente, a descortinar novos pensamentos e ideias, especialmente quando ambos - eu e você - não temos pleno conhecimento de muitos fatos. Nesse sentido, considero que nosso diálogo compreende o método socrático, em que dois indivíduos são conduzidos a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores. A meta é auxiliar o outro a redefinir tais valores, aprendendo a pensar por si mesmo. Resumindo, utilizando um discurso caracterizado pela maiêutica: levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, ou seja, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida. Dessa forma, como vimos dialogando sobre diversos assuntos, considero que você tem contribuído de forma eficaz para que eu aprenda a lidar com meus pensamentos. Agradeço e continuarei nessas buscas.
Então, não me preocupo com esclarecimentos sobre comportamentos de pessoas, suas realizações, falcatruas, fatos, posto que tomo nota exclusivamente de como apresenta seu raciocínio, seus pensamentos e ideias, que percebo através das entre linhas. O que tento descobrir em você não está escrito, está no seu pensamento e isto foi muito bem desenvolvido pelo francês Clotaire Rapaille, o internacionalmente aclamado antropólogo cultural e especialista em marketing, em seu livro O código cultural. Quero crer que essa comunidade não é o local ideal para aprofundarmos nossas ideias, (cansaria os demais colegas), deixo-o à vontade para, se do seu agrado, nos transferi para outro sítio (ou não!).
PS: Incentivos ao esporte o COB está produzindo os maiores. Realizou os Jogos Pan-americanos e vai realizar as olimpíadas. Outros tipos de incentivos são recursos e tecnologia, compreendidos aqui toda a área técnica de apoio a atletas - médica, técnicos estrangeiros etc. Como treinar e competir cabe a cada Confederação decidir da melhor maneira, inclusive buscar outras fontes de recursos, como faz a natação (Correios), Vôlei (BB), basquete (técnico estrangeiro), handebol (técnico espanhol), ginástica (técnico estrangeiro). Que sejam os seus dirigentes competentes é o que todos esperam. Se corruptos ou corruptores, é outro problema e cabe ao delegado apurar as denúncias. Isto me lembra um jurista que dizia: "O que vale mais, um juiz corrupto ou um incompetente"? Ou, então, o dilema de Sofia.
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