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Edição 4451

Cresce a oferta de bolsas no exterior

O sucesso das parcerias do governo federal com universidades em todo o mundo e o interesse crescente de empresas e agências de fomento em financiar estudantes brasileiros no exterior deixa claro: a boa imagem do País é o principal motor da atual proliferação de bolsas de estudo no Brasil.
Uma prova da pujança de oportunidades é que, em 2012, ao menos 3300 vagas subsidiadas serão oferecidas somente na pós-graduação. Parte desse pacote é resultado do investimento do programa Ciência sem Fronteiras, lançado no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Outras instituições e universidades, no entanto, também estão aumentando a quantidade de vagas.

Um exemplo é o Erasmus Mundus, programa da União Europeia de estímulo ao intercâmbio universitário, que deve publicar, ainda este ano, um edital de oportunidades somente para estudantes brasileiros. Segundo a assessora de cooperação acadêmica da União Europeia, Maria Cristina Araújo, a estimativa é de que 1000 bolsas de estudo de mestrado e doutorado sejam oferecidas nos próximos dois anos. Serão 11 milhões de euros investidos somente nesta etapa. "Os brasileiros sempre tiveram desempenho acima da média. Na América Latina, é a nacionalidade que mais participa das bolsas", diz.

Foi graças a uma bolsa que a engenheira de produção mecânica Priscila Santos conseguiu fazer um mestrado na Universidade de Vigo, na Espanha. Ela se candidatou em 2009, logo após terminar a faculdade, e teve despesas como passagem, taxas e seguro saúde pagos pelo programa Erasmus Mundus. Além disso, recebeu uma bolsa mensal de um mil euros para se manter no país enquanto estudava. No Brasil há cinco meses, Priscila se divide entre a busca por uma posição na indústria automotiva e a candidatura a um doutorado pelo programa Ciência sem Fronteiras. "O fato de ser engenheira ajudou para que eu conseguisse a bolsa", avalia.

Na Fundação Estudar, que concede bolsas para cursos de graduação e pós em áreas como negócios, tecnologia e direito, a expectativa é ampliar as oportunidades. Em 2011, foram 31 financiados para estudar em escolas de primeira linha no exterior, número que pode chegar a 50 este ano. "A maior demanda é para cursos de MBA e LLM, o mestrado em direito", afirma a diretora executiva Thais Junqueira. De acordo com ela, o benefício pode contemplar entre 5% e 95% do custo do curso.

O mestre em políticas públicas Pedro Henrique de Cristo conseguiu fazer o curso em Harvard com o apoio financeiro da instituição. Mesmo aprovado com bolsa integral na disputada universidade americana, ele precisou de um complemento financeiro para cobrir despesas com livros e custo de vida. "A bolsa foi essencial não só do ponto de vista financeiro, mas também pelos contatos que fiz e pelos programas associados a que tive acesso, como o de mentoring", afirma. Ele retornou ao Brasil no ano passado e hoje atua como arquiteto de integração em favelas pacificadas no Rio de Janeiro.

As universidades de primeira linha são prioridade para instituições que concedem bolsas. O Instituto Ling, por exemplo, concentra seus investimentos em candidatos de MBA, LLM e MPA (mestrado em administração pública) e oferece uma média de 10 a 15 bolsas por ano, que variam de US$ 10 mil a US$ 30 mil. "O aluno precisa já estar aprovado em uma universidade bem colocada nos principais rankings internacionais", afirma Sandra Lemchen Moscovich, coordenadora do Instituto Ling.

Conceder bolsas nas melhores escolas também é a meta do Ciência sem Fronteiras. Prevendo oferecer 100 mil bolsas de graduação e pós em quatro anos, o programa tem obtido sucesso em ’arregimentar’ parcerias. Segundo o diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Guilherme Sales Melo, a boa imagem externa do País ajuda na parceria também com companhias multinacionais. "Elas querem aumentar o intercâmbio comercial com o Brasil e, assim, oferecem bolsas parciais e estágio para os alunos do programa", diz.

Parte desses editais já estão em andamento - na semana passada, foi ao ar um site "francês" do Ciência sem Fronteiras, que reunirá todas as informações sobre as parcerias bilaterais relacionadas ao programa. "Vamos oferecer 10 mil bolsas de estudo nos próximos quatro anos", explica Thierry Valentin, diretor do Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica (CenDoTec). O objetivo é dobrar o número de estudantes brasileiros naquele país em dois anos e torná-los "embaixadores" da França quando retornarem.

Christian Müller, diretor do DAAD, serviço alemão de intercâmbio acadêmico, explica que este ano serão oferecidas bolsas em aproximadamente 100 universidades, em graduação e pós-graduação. Na próxima semana, uma comitiva visitará universidades brasileiras informando sobre as oportunidades alemãs para o Ciência sem Fronteiras e também sobre bolsas de doutorado para outras áreas. "Os brasileiros têm formação científica de qualidade, criatividade e flexibilidade."

Na esteira do Ciência sem Fronteiras, universidades estrangeiras e instituições de fomento têm organizado visitas para intensificar relações acadêmicas com o Brasil. É o caso da Austrália, que no dia 19 de março traz ao País uma comitiva com representantes de oito de suas principais universidades, promovendo eventos para acadêmicos em universidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
(Valor Econômico) 

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