Tenho em minha frente os jornais de hoje. Hábito de le-los, todos, aos domingos pela manhã, antes da caminhada pela praia em companhia do tio Mané P- Manoel Pedro, torce-dor do Flamenguinho e do Mo(r)to Clube…

Em “O Imparcial”, p. 14, Jogada, edição de hoje, domingo, 3 de abril de 2011 magnífico artigo de autoria do Michel Sousa sobre “Jiu-jítsu, ascensão e crise“, em que entrevistou o Professor James Adler.

O presidente [da Federação Maranhense de Jiu-jitsú Esportivo, Jairo Vidal] ainda afirma que, apesar do esporte ser novo no Maranhão, os atletas maranhenses estão equiparados a nível mundial. O Maranhão foi o último estado a receber jiu-jitsu. O esporte tem menos de quinze anos aqui, mas nos equiparamos com o restante do país e do mundo“, finalizou. 

O Jiu-jitsú foi implantado no Maranhão há mais de cem anos!!!

JIU-JITSU EM MARANHÃO:   Novos apontamentos para sua História

 por

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Professor de Educação Física 

Jornal do Capoeira www.capoeira.jex.com.br, Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005

http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/jiu-jitsu+no+maranhao

Em “A Pacotilha”[1], São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo “JIU-JITZÚ” – certamente transcrita de “A Folha do Dia” – do Rio de Janeiro (ou Niterói):

“Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espirito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros.

André Lacé Lopes in Jornal do Capoeira www.capoeira.jex.com.br, Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005

“Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens.

“Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença.

“A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do “Pavilhão Nacional”, em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão.

“Ha alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a platéia daquela casa de diversões com a sua agilidade indiscritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a platéia a medir forcas com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na platéia um conhecido “malandrão”.

“Feito o desafio, o “camarada” não teve duvidas em aceitar, subindo ao palco.

“Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês “escreveu” diante do campeão, “mingou” abaixo do “cabra”; este assentou-lhe a testa que o japones andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar “bicho”, mas o brasileiro, que não tinha nada de “paca” foi queimando o grosso de tal maneira que a policia teve que intervir para evitar … o japonês.

” ‘A Folha do Dia’ narra o seguinte: ‘Diversos freqüentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Cyriaco Francisco da Silva, dizendo-se o mesmo senhor vencido o jogador japonês que se exibe atualmente naquela cada de diversão.

“O Sr. Cyriaco é brasileiro, trabalhador no comercio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um “rabo de arraia” formidável, que no primeiro assalto o prostrou .

“O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta.

“Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzu a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair.

Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro ’sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta’.”.

 Para LACÉ (s.d.)[2], Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina, fenômeno que se repetiu na Bahia, décadas mais tarde, com Mestre Bimba. Foram esses estudantes que insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o jiu-jitsu (Sada Miyako, campeão japonês).

Evento que acabou ocorrendo, no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente rabo-de-arraia, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo uma versão – jamais comprovada – de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale-tudo é vale-tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória.

Tanto assim, que Mestre Ciríaco saiu vitorioso do Pavilhão Internacional Paschoal Segreto, com o povo cantando pelas ruas “a Ásia curvou-se ante o Brasil”. No dia seguinte, a Capoeira foi notícia em quase todos os jornais, valendo registrar, por oportuno, a ocorrência de algumas redações cautelosas, quase envergonhadas da própria cultura brasileira, como a nota do jornal do Commercio (02.05.1909, pág. 7):

O sportman japonez do tão apreciado jogo jiu-jitsu foi hontem vencido pelo preto campista Cyriaco da Silva, que subjugou o seu contendor com um passo de capoeiragem”.

A nota, curiosamente, não menciona o nome do “sportman” perdedor. Mais adiante, entretanto, no mesmo jornal garimpei o seguinte anúncio: “JIU-JITSU: Mr. Sada Miyako, professor contratado para leccionar na marinha brasileira encarrega-se de dar lições particulares a domicílio. Cartas para a Rua Gonçalves Dias n. 78 ou para a Fortaleza de Willegaignon”.

Ou será que a nota, de modo até sutil, protesta a respeito do tal recurso de rua acima levemente mencionado?  

Isso, no Rio de Janeiro; mas e no Maranhão ? vejamos: nesse mesmo jornal – “A Pacotilha” – de 18 de abril de 1910, segunda feira, no. 90, consta noticia de que o “Fabril Athletic Club” – FAC – estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que:

“Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d’agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia.”

 Informa MARTINS (1989)[3] que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o “jiu-jitsu”, com um grande número de adeptos.

Quero acreditar que o Jiu-jitsu deve ter sido apresentado aos sócios por Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor abraça a carreira pública, em busca de sobrevivência, como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores; torna-se cônsul,  servindo por quase três anos no Japão – em Yokohama (setembro 1897 a 1899) -, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra.

Muito embora Martins dê como sendo o ano de 1908 a introdução do Tiro no FAC – em 18 de setembro de 1908 realizou-se uma Assembléia Geral Extraordinária para mudanças do Estatuto do Clube para aproveitar-se da Lei de Reorganização do Exército -, este se deu, efetivamente, em 1910, com o concurso do então Tenente Luso Torres, muito embora tenham-se realizados desde esse ano exercícios de marcha e voltas, assim como de tiro.

Em 1910, o esporte em Maranhão – diga-se, o FAC (Fabril Athetic Club) – experimenta uma de suas inúmeras crises, surgidas com o descontentamento de alguns associados por causa de problemas financeiros, não só da Fábrica Santa Isabel – de propriedade da família de Nhozinho Santos -, mas por falta de pagamento de mensalidades por parte dos associados – da maioria, segundo MARTINS (1989) Das propostas apresentadas, 13 associados não concordaram, pedindo sua eliminação.

Pensavam na formação de uma outra agremiação, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins.

Sabe-se que o Jiu-jitsu foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, – “Conde Koma” -, por volta de 1914. Em 1915, o Conde Koma – em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições.

Em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro [4]

Em 1925 Geo Omori fundou a primeira academia de Jiu Jitsu no Brasil, mas o esporte só se consolidou com a família Gracie.

Como explicar que o Jiu-jitsu foi introduzido – no Brasil – em 1914/15, pelo Conde Koma, e que a primeira academia date de 1925, criada por Geo Omori se desde 1909 já era praticada no Rio de Janeiro – e consta que “o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. e, provavelmente desde 1908, e certamente desde 1910, em São Luís do Maranhão?

Se em 18 de abril de 1910, segunda feira, em “A Pacotilha” de no. 90 consta noticia de que no “Fabril Athletic Club” – FAC – estava em funcionamento um “um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d’agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia” ?;

 E que também no “Onze Maranhense – fundado nesse mesmo ano de 1910, de uma dissidência do FAC -, desenvolveu-se, dentre outras atividades esportivas, a luta livre, introduzida por Álvaro Martins?, segundo informa Dejard Ramos Martins ?

[1] Do acervo da Biblioteca Pública “Benedito Leite”, disponível em microforma.

[2] (IN LACÊ, André. Disponível em CD-Room, enviado ao autor. CIRÍACO, HERMANNY, ARTUR E HULK.

[3] MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís : Sioge, 1989;  in  VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 8º, Ponta Grossa, UEPG … Coletâneas … disponível em CD-ROOM, novembro de 2002.

[4] (fonte: www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu).

http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/+a+victoria+do+jogo+brasileiro+capoeira+versus+jiu-jitsu+-+parte+final in Jornal do Capoeira – www.capoeira.jex.com.br, Edição 75 – de 27/Maio 13 de Junho de 2006

http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/capoeira+luta+-+debate+aberto+e+franco, Jornal do Capoeira www.capoeira.jex.com.br, Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005

Jiu-jitsu no Maranhão Desde 1909…

Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
em 24-08-2009, às 12h04.

Publiquei em meu Blog Sáb, 22/08/09  por leopoldovaz | http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/08/22/curiosidades-o-que-escrevem-e-o-que-e-real/#respond categoria Esporte Escolar, Informação, Literatura & Esporte, Raízes, Recordar é Viver

Para quem faz Jornalismo Esportivo é imprescindível conhecer o mínimo…  como a própria história da modalidade e suas princiais características. Falo, de uma nota publicada já duas vezes num jornal online – sobre o Jiu-Jitsu… como curiosidade: fora introduzido no Brasil pelo Conde Koma, a partir de 1915, que o ensinou aos Gracies, do Pará… que a primeira academia fora fundada no Rio de Janeiro em 1925 por Omori… Certo! até aí, nada de mais, pois essa é a versão oficial… O que não aceito, é que no Maranhão! se divulgue essa versão

ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL (org. Lamartine Pereira da Costa), em duas versões: em papel, editado pela Shape, em 2005; e a edição eletronica, disponível em www.atlasesportebrasil.org.br

dom, 03/04/11 por leopoldovaz | categoria Atlas do Esporte no Maranhão, História, Raízes

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