Coriolano P. da Rocha Junior
Neste blog, mais uma vez falamos sobre o cricket em Salvador, desta vez, com mais dados e imagens sobre o tema.
A prática aportou em terras brasileiras pelas mãos dos ingleses. Essa atividade se desenvolveu por algum tempo, todavia, sem efetivamente se estruturar na cidade, restringindo-se a uma pequena parcela da população.
O esporte chegou a Salvador em meados do século XIX. Normalmente os jogos ocorriam no Campo Grande (LEAL, 2002), embora também haja notícias de partidas na Fonte do Boi[1] e Quinta da Barra (GAMA, 1923), no Campo da Pólvora[2] e no Largo da Madragoa[3].
Imagem 1: Jogo de cricket no Campo Grande. Ilustração de J. J. Wild.
Fonte: http://www.salvador-antiga.com/campo-grande/cricket.htm
Vejamos alguns exemplos: “no dia 1 de janeiro terá lugar no Campo Grande um grande jogo de críquete entre alguns sócios do Bahia Críquete Clube – uma partida de estrangeiros. Terá início ao meio dia em ponto”[4]. Também sobre o uso do Campo Grande como sede dos jogos, vemos esta chamada: “Sociedade Brazilian Críquete Clube. Pedindo licença para fazer jogos de bolas no Campo Grande…”[5].
Gama (1923, p.319) afirma que em Salvador foram:
membros da colonia inglesa, que fizeram a introdução de um jogo, cuja disputa, para eles, tinha já o cunho de esporte, – pois sendo a sua Pátria o berço do esporte moderno – tinham a noção exacta da significação do vocábulo. Esse jogo, foi o críquete, de origem genuinamente inglesa […]. Esse críquete de então, era disputado no local hoje denominado Praça Duque de Caxias.
Um clube inicialmente fundado para o críquete, logo depois assumiu o futebol, o Clube de Críquete Vitória, criado por brasileiros em maio de 1899, que passou a se chamar Esporte Clube Vitória. Ainda houve o Clube Internacional de Críquete, fundado por ingleses, em novembro de 1899, além dos já citados Sociedade Brazilian Críquete Clube e Bahia Críquete Clube[6].
Em Salvador, o críquete, teve trajetória, de curta duração, iniciada como uma atividade dos ingleses, contando com participação de brasileiros. Assim, logo a prática da modalidade se manteve limitada aos membros da colônia britânica, até se tornar pouco significativa; enquanto isso, em solo baiano, outras práticas ganhavam o interesse da população.
Sobre esse “esquecimento” do esporte, A Tarde[7] apresentou uma matéria em que questionava as razões do seu possível abandono em Salvador: “não sabemos porque motivo ficou inteiramente abandonado pelos nossos sportmen, o interessante e nobre jogo inglês, o críquete. A Bahia, teve nesse jogo, a muitos annos, sua primeira manifestação esportiva”.
O jornal, na mesma matéria, valorizava sua importância inicial e as formas com que foi jogado, tanto pelos ingleses quanto pelos baianos, ressaltando os valores civilizadores do esporte e o quanto sua prática contribuia para a formação de novos hábitos, por meio de um espaço onde os “nobres” homens da Inglaterra tinham a chance de praticar um esporte que simbolizava os ares de sua terra e os brasileiros podiam vivenciar um esporte que era digno de um mundo moderno, como também Salvador deveria se tornar.
Um possível elemento da curta duração da prática e do pouco interesse da população pelo críquete pode ter sido o fato dos clubes terem sido constituídos originalmente por ingleses e só depois brasileiros – neste caso, com a mesma organização dos de estrangeiros. Assim, o esporte teve uma limitada circulação pelas cidades, dificultando sua apropriação por parte dos diferentes estratos da população.
No período da instalação dos clubes de críquete, a cidade ainda mantinha um aspecto colonial e, assim, também os hábitos e gostos não estavam ajustados a uma prática moderna. De toda forma, os clubes de criquete foram importantes, pois foi a partir deles que se estruturam outros que ampliaram as experiências esportivas.
[1] Localizada no bairro do Rio Vermelho. Diário da Bahia, Salvador, 25 de janeiro de 1902, p.
[2] Diário de Notícias, Salvador, 24 de março de 1903, p. 3 e 12 de setembro de 1903, p. 3.
[3] Diário da Bahia, Salvador, 11 de janeiro de 1902, p. 1. Localizado na Cidade Baixa, na área do bairro da Ribeira.
[4] Jornal da Bahia, Salvador, 31 de dezembro de 1874, p. 2.
[5] Correio da Bahia, Salvador, 25 de janeiro de 1873, p. 2.
[6] Diário de Notícias, Salvador, 2 de setembro de 1876, p. 2.
[7]A Tarde, Salvador, 08 de novembro de 1912, p. 2.
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