04/01/2015
por Ricardo Pinto
Depois de longo tempo afastado (motivado por outros trabalhos e questões pessoais) retorno ao Blog para tratar do tema que me acompanha por alguns anos, o negro no futebol brasileiro. Pelo título, referência a obra de Mario Filho (1947), poderia, de cara, dizer que muito dos nossos equívocos e limitações sobre esse assunto foram causados pela leitura apressada e acrítica da obra.
Porém, aviso aos aficionados pelo livro, longe de mim querer retirar a importância do trabalho realizado pelo famoso jornalista. No entanto, com muita tranquilidade, já podemos dizer que avançamos consideravelmente naquilo que podemos chamar de história do negro no futebol, ainda que, nos dias de hoje, o senso comum ainda reproduza ipsis litteris os escritos do autor.
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Inicialmente, por acreditar numa história complexa e, sobretudo, sem roteiro, sugiro que sempre se desconfie de uma obra que no seu título aponte para algo tão generalista. Afinal, mesmo com todas as semelhanças, considero temerário e pretencioso assumir o risco de contar, em um livro, a história do negro no futebol e um território tão amplo, tão complexo, tão dinâmico como o Brasil.
Obviamente, acredito, essa não era uma questão para o Mario Filho durante a produção do trabalho. Mas, sem dúvidas, deveria ser uma questão para todos querem entender, com seriedade, a história do negro nesse esporte. Para deixar claro do que estou falando, aponto para duas questões básicas que passam ao largo de muitos que tratam do tema a partir do livro e, fundamentalmente, acreditam que estão conhecendo o negro no futebol e no Brasil a partir dela:
- A obra em questão, do começo ao fim, está interessada em contar a história, basicamente, do futebol no Rio de Janeiro, com algumas passagens por São Paulo. Mesmo que isso não aponte para nenhum problema em si, associado ao título pode gerar, como gera, em larga escala, a falsa ilusão de que essa história daria conta de explicar as experiências do negro em outras regiões. Ausências como a formação da LIGA DA CANELA PRETA (19101912), em Porto Alegre, e a ascensão do Futebol das Camadas Populares em Salvador (1912), são apenas duas de tantas outras experiências que nos ajudam a ter clareza das limitações da obra de Mario Filho.
- Seguindo uma espécie de roteiro (surgimento, revolta, ascensão, provação e domínio) o livro perde de vista os interesses privados que negros e brancos buscavam dentro do esporte, não somente o futebol. Do mesmo modo, obscurece a forma dinâmica e complexa como ambos os grupos lidaram com os desafios que os novos tempos foram impondo as suas experiências. Bem como, afirma de forma categórica e equivocada que as questões referente ao negro tiveram seus primeiros desdobramentos no Rio de Janeiro nos anos 20.
Enfim, temos muito ainda para aprender sobre a história do Negro no Futebol Brasileiro. Na verdade, para além dos desafios teóricos e técnicos que isso implica, temos ainda o desafio de superarmos nossos regionalismos e paixões clubistas que ainda fixam o debate e afirmam, o que é mais grave, que o mais importante sobre seria: qual time recebeu o primeiro negro no futebol ou ainda, o mais reducionista, achar que luta pela permanência e igualdade do negro nesse esporte se encerra com a permanência desse grupo nos clubes. Mas, sobre isso, conversamos noutra ocasião.
Fonte: www.historiadoesporte.wordpress.com
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