Cevnautas, muitos sustentam que a base dos descobrimentos foi o conhecimento da Escola de Sagres. Essa exposição em Lisboa aprofunda o assunto. Laercio

“360º - Ciência Descoberta”, uma exposição sobre a história da ciência Manuscritos e artefactos revelam a ciência por detrás dos Descobrimentos
2013-02-07
Por Sara Pelicano

A 2 de Março é inaugurada a exposição “360º - Ciência Descoberta”, uma iniciativa coordenada pelo investigador Henrique Leitão, do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Até Junho, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, será possível ver mapas, animais embalsamados, manuscrito e artefactos que contam a história da ciência na Península Ibérica.
A exposição “mostra a importância da ciência portuguesa e espanhola no período dos descobrimentos, a sua importância para a formação da ciência moderna no seculo XVII”, explica Henrique Leitão, curador da exposição.

Nesta viagem aos desenvolvimentos científicos e técnicos associados às grandes viagens oceânicas de portugueses e espanhóis nos séculos XV e XVI, procura-se mostrar os diversos factores que modelaram as ideias e as práticas dos ibéricos nesse período.

Revela-se o fascínio com as novidades do mundo natural americano e asiático, a crítica do saber antigo, o estabelecimento de novas práticas empíricas, a disseminação de conceitos científicos pelos estratos menos instruídos da sociedade, os melhoramentos técnicos, os processos e as instituições de acumulação e gestão de novos conhecimentos e como estes aspectos jogaram um papel significativo no nascimento da modernidade científica europeia.

Henrique Leitão explica que “os ingleses, os franceses e os italianos escreveram uma história da ciência em que eles são os únicos protagonistas. Esta história está colocada no seculo XVII, com nomes como Galileu, Kepler, e outras figuras cuja importância é indiscutível. Mas isto foi antecedido por fenómenos importantíssimos
O nome da exposição faz referência ao estabelecimento pelas nações ibéricas de rotas marítimas de escala planetária.
O nome da exposição faz referência ao estabelecimento pelas nações ibéricas de rotas marítimas de escala planetária.
na Península Ibérica por causa das navegações. Uma história que é nossa e nos toca a nós contar”.

O responsável pormenoriza que “história científica portuguesa é modesta, mas é real. Saber contar isso é muito importante”.

Foi com as descobertas ibéricas, por exemplo, que a matemática se disseminou por camadas da sociedade mais baixas. Até então estava restrita a classes sociais privilegiadas. “Para navegar no oceano é preciso utilizar técnicas astronómicas, isto é uma novidade completa, porque ninguém navegava com técnicas astronómicas. Navegava-se em mares pequenos e junto das costas e isso não era preciso. Os primeiros a utilizar técnicas de astronomia para navegar foram os portugueses, e isto é uma revolução porque não só permitiu navegações de longa distância nos oceanos e mas também obrigou a introduzir instrumentos nos barcos astronómicos. Assim, obrigou a que gente muito simples começasse a fazer observações de astros e fazer cálculos. De repente deu-se um fenómeno espantoso de disseminação de matemática por níveis baixos da sociedade”, explica o curador da exposição “360º - Ciência Descoberta”.

A exposição é acompanhada por um ciclo de conferências que trazem a Portugal especialistas nestes assuntos, “há muita gente no mundo que defende esta importância dos portugueses e espanhóis”. As conferências decorrem igualmente na Fundação Gulbenkian, uma por mês, até 15 de Maio.

“Natural History as a Meeting Point: Portuguese-Dutch Global Encounters ande the Study of Nature 1500-1650” (dia 13 de Fevereiro), “Secretos y Longitudes” (15 de Março) e “La Materia Medicinal: Invenciones Ibéricas en torno a la flora e la fauna exóticas” (17 de Abril) são algumas das conferências a realizar.

Henrique Leitão comenta que “fomos inovadores naquele tempo. Todos os países aprenderam com os nossos conhecimentos. Livros portugueses e espanhóis foram traduzidos”. O especialista em História da Ciência sublinha por isso que “há uma ideia por detrás da cabeça das pessoas que diz mais ou menos isto: a ciência não é para nós, outros que façam. Nós fazemos outras coisas, cantamos bem, somos bons no futebol. Esta visão é errada mas explicada com uma componente histórica porque se diz que nunca se fez nada em ciência”.

O curador da exposição sublinha que por isso é importante contar a história científica portuguesa por que “se aceitarmos que nunca fizemos nada em ciência durante sete ou oito seculos é difícil acreditar que agora se esteja a fazer. Enquanto o problema histórico não for solucionado, enquanto não soubermos olhar para o nosso passado científico com serenidade, é muito difícil implantar uma cultura científica hoje”.

FONTE: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=56930&op=all
 

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