13/07/2014
André Alexandre Guimarães Couto
Olá, pessoal. Final de Copa do Mundo. Muitas coisas para comentar, refletir e analisar. Porém, hoje, primeiro dia de vida pós Copa no Brasil, gostaria de dialogar com vocês sobre o trauma da Seleção Brasileira e sua respectiva cobertura jornalística. Bem, não estamos pensando exatamente sobre o 7 x 1 imposto pela campeã Alemanha, pois considero aquele jogo um baita vexame, que acredito que terá repercussões. Porém, não acho que se tornará necessariamente um trauma.
Que trauma estamos falando, então? Tratamos aqui o de 1950, que voltou às manchetes dos jornais brasileiros após a vergonha já citada. Por que tivemos que lembrar daquela data fatídica? Por que revisitar uma Copa anterior para cobrir um fato do presente?
A leitura de algumas capas de jornais brasileiros e internacionais corroboram com esta questão. Vamos a eles, então:
A capa do Correio Braziliense publica uma espécie de carta ao povo escrita pelo jornalista João Valadares. De acordo com este, “(…) O que se viu ou ouviu após o primeiro gol alemão é para o ‘silêncio ensurdecedor’ de 1950 virar um barulhinho bom. O Maracanazo, agora, é derrota menor. Barbosa, o goleiro que carregou o peso de uma cruz de sofrimento até a morte, se estivesse vivo, poderia sentir que a cruz que Julio Cesar vai carregar até o fim da vida é muito mais pesada.”
O jornalista informa que esta não seria apenas a maior vergonha do futebol brasileiro, mas do esporte brasileiro, como um todo. Exageros a parte, esta peça midiática procura discutir o fato, interpretando-o como o fundo do poço da Seleção Brasileira, e, para tanto, em sua análise, redime o fracasso de 1950 com a lembrança de um de seus maiores símbolos: Barbosa.
Na mesma linha de cobertura jornalística (e por que não, apocalíptica), a Folha de S. Paulo lembra de 1950 para comparar com a derrota atual, que seria “a pior derrota da História” de seus 100 anos.
Outros importantes jornais preferiram trabalhar com a imagem, como o jornal carioca Extra, do Grupo O Globo:
A capa traz a foto de Barbosa caído, após o gol do uruguaio Ghiggia, com manchete que redimiria aquela seleção de 1950, estabelecendo um novo patamar de vergonha futebolística em uma Copa do Mundo.
O Diário de Pernambuco também usou a imagem de 1950 para redimir o goleiro Barbosa e estabelecer também uma nova marca de vexame esportivo. Nesta capa, é interessante porque há uma comparação imagética entre os dois períodos da história do futebol brasileiro em copas.
A imprensa mundial também deu o mesmo tom de “tragédia do Mineirão” sem necessariamente enfatizar a comparação com 1950, mas repare que a capa do espanhol Sport faz alusão ao Maracanazo com a palavra “Fracasazo”. Em outros periódicos aparecem algumas referências no texto sobre 1950, porém, em menor importância do que nos jornais brasileiros.
Enfim, fica claro para nós que a o exagero do discurso jornalístico precisou utilizar a História não apenas para redimir antigos e possíveis vilões, ou mesmo por uma mera comparação de duas Copas do Mundo em um mesmo país, ou ainda porque acreditam que possam estabelecer novos paradigmas de uma vergonha esportiva ou futebolística. O que penso é que em momentos de grandes eventos como este, o exagero e a hipérbole textual e imagética casam com o ofício da cobertura jornalística esportiva. Ou seja, a memória de 1950 por si só nos traz uma carga emotiva e exagerada de se pensar o nosso futebol. Trazê-la para os dias de hoje não é uma escolha casual e sim uma fórmula editorial de apresentar os fatos aos leitores, visando a construção de um novo presente (o caos do futebol brasileiro ou, como queiram, o possível fundo do poço da Seleção Brasileira), pautado em uma análise de novos vilões (Felipão, dirigentes da CBF, os próprios jogadores) e de uma rememoração de um passado injustiçado (Seleção de 1950 e Barbosa, em especial). Aliás, outro fator importante, a injustiça redimida é, sem dúvida, mais uma “peça” editorial vendável e carregada de emoções.
Em Copa do Mundo, a mídia esportiva, de forma geral, tende a explorar os limites da carga emotiva que circunda o futebol. Com um material rico como o dia 08/07/2014, então…
Mais do que um real trauma no imaginário coletivo na sociedade brasileira causada pela derrota de 1950, aquela Copa hoje é lembrada e rememorada muito mais por parte significativa de uma imprensa esportiva brasileira, pelas razões já apresentadas, do que por outros motivos.
Para terminar, apresento uma peça publicitária que a Coca-Cola lançou para os seus consumidores brasileiros. Alguma chance de lembrar de 1950? Vejam e tirem suas próprias conclusões.
Um abraço.
P.S.: Para ver outras capas do dia 09/07/2014, vejam o link a seguir: http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/fotos/2014/07/fotos-repercussao-da-derrota-da-selecao-brasileira-pelo-mundo.html
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