Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4101
Pesquisadores vão redigir documento com sugestões, que será entregue às agências de fomento
Professores de universidades federais se reuniram no Centro Internacional de Física da Matéria Condensada da Universidade de Brasília (UnB) para discutir os critérios de avaliação da produção científica nacional, no I Simpósio de Avaliação Científica.
Estavam presentes também o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Aragão, e o diretor de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Lívio Amaral.
Na opinião dos pesquisadores, os critérios privilegiam a quantidade em detrimento da qualidade do que é produzido. Hoje a avaliação da Capes é feita por números: quantas vezes o cientista foi citado por outros pesquisadores, número de artigos publicados durante o ano e quantos alunos de mestrado e doutorado já orientou.
"A ciência brasileira tem o dever de aumentar a qualidade, em detrimento do número de publicações", diz o professor Paulo Sérgio Lacerda, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, a avaliação ideal deve ser feita, sempre que possível, por um comitê independente e idôneo de especialistas na área, sem interesse direto no resultado da avaliação. Lacerda ressalta que a qualidade não está sendo medida. "Só temos indicadores e estimativas dessa qualidade", diz.
Qualidade
Segundo os especialistas, os critérios atuais afetam negativamente a qualidade da produção. O professor Cezar Zucco, presidente da Sociedade Brasileira de Química e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), citou uma reportagem do jornal Folha de São Paulo de julho deste ano para exemplificar as ações dos pesquisadores que visam "engordar seus currículos".
"Verificamos uma ação entre amigos, com um professor citando o outro para ter repercussão, pesquisadores que inventam referências, fabricam dados, fazem plágio ou trabalham em áreas gerais só porque são bem vistas pela mídia", explica.
Zucco também propôs a criação de uma "auditoria científica", para investigar a qualidade dos dados e conclusões das pesquisas, por amostragem. "A avaliação não pode ser o objetivo, mas uma conseqüência da produção científica", defende o professor Luís Bevilacqua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mauro Copelli, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), reclamou que quando submete os projetos às agências de fomento não recebe o parecer, mesmo que o trabalho seja aprovado. "Só sabemos se o projeto foi aprovado ou reprovado, mas não recebemos nenhuma explicação", disse.
Comitês
Para aperfeiçoar o sistema de avaliação da ciência e tecnologia no país, o presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão, sugere algumas medidas operacionais, como a redução do número de comitês assessores nas agências de fomento à pesquisa. "Ao mesmo tempo, é preciso que esses comitês sejam mais multidisciplinares, a fim de que as áreas tenham contato umas com as outras e promovam discussões enriquecedoras", diz.
O coordenador de avaliação da Capes, Lívio Amaral, também defende que as mudanças no sistema de avaliação são necessárias, dada a dimensão alcançada pela pesquisa no Brasil. Mas diz que há um julgamento distorcido da avaliação, a exemplo do sistema Qualis de classificação de periódicos científicos. O sistema afere a qualidade de artigos e produções científicas a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, dos periódicos científicos.
"O sistema foi concebido para dar conta do conjunto da pós-graduação, mas está sendo utilizado para avaliar a qualidade individual de professores e alunos", argumenta.
Ensino
Mauro Copelli afirmou que o Brasil passou por uma transformação drástica nos últimos anos e esqueceu da importância do ensino. Os professores, preocupados em desenvolver pesquisas e publicar artigos, deixaram de lado o seu ofício. "A atividade fundamental foi esquecida porque não existe recompensa para o melhor professor de Física", exemplificou Copelli.
Isaac Roitman, professor da UnB e membro da Academia Brasileira de Ciências, afirmou que o professor dedicado mais ao ensino e à pesquisa acaba sendo desvalorizado. "As agências e fomento e os cientistas acabam causando uma assimetria mostrando que o ensino e a extensão não valem nada. Precisamos acabar com isso".
Nesta terça-feira, 21 de setembro, os participantes redigirão um documento para encaminhar as sugestões às agências de fomento.
(Barbara Arato e Cecília Lopes, Secretaria de Comunicação da UnB)
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